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Ransomware 2.0: por que hackers não querem só seus dados, mas também sua reputação?

José P. Leal Junior
José P. Leal Junior

Confira artigo de José P. Leal Junior, country manager da Veeam no Brasil

No submundo do crime cibernético, a reputação virou moeda de troca. Os dados ainda são valiosos, mas deixaram de ser o alvo principal. Cada vez mais, os ataques de ransomware,  um tipo de software malicioso que sequestra dados e exige pagamento para devolvê-los, evoluem para um modelo em que a verdadeira ameaça não é somente perder acesso às informações, mas ver esses dados serem expostos publicamente. Isso porque, hoje, o maior ativo de uma organização é a confiança que ela construiu com seus clientes, investidores e parceiros. E é exatamente isso que os hackers querem controlar.

Um fenômeno conhecido como ransomware 2.0. Nele, o foco deixa de ser o bloqueio de arquivos para o constrangimento público e a destruição da imagem corporativa. O novo jogo é psicológico, estratégico, e extremamente cruel. Ao prometer (e muitas vezes cumprir) a publicação de e-mails internos, segredos industriais ou dados sensíveis de clientes, os criminosos passam a controlar a narrativa pública, pressionando empresas a pagarem não pela restauração de sistemas, mas pelo silêncio.

De acordo com o Relatório de Tendências de Ransomware e Estratégias Proativas da Veeam 2025, o ransomware continua sendo a principal causa de interrupções e indisponibilidade em ambientes de TI. Apesar de uma leve queda no número de empresas afetadas, de 75% em 2023 para 69% em 2024,  a ameaça permanece alta: sete em cada dez organizações sofreram ao menos um ataque no último ano. O mais preocupante, no entanto, é a baixa taxa de recuperação dos dados: apenas 10% das empresas conseguiram restaurar mais de 90% das informações comprometidas, enquanto 57% recuperaram menos da metade do que foi perdido.

Mesmo com 98% das empresas declarando possuir um plano de resposta a incidentes de ransomware, o relatório apontou lacunas importantes na estrutura desses planos. Menos da metade inclui práticas técnicas essenciais, como a verificação regular dos backups (44%) ou a existência de uma cadeia de comando definida para situações de crise (30%),  elementos que podem fazer a diferença entre uma recuperação rápida e um colapso operacional.

Esses dados mostram que a confiança está sob ataque, tanto interna quanto externamente. Não se trata apenas de falhas técnicas, mas de um golpe que atinge a credibilidade das organizações. A estratégia por trás do ransomware 2.0 é simples, porém eficiente: causar um dano irreversível à reputação da vítima, muitas vezes com impactos mais duradouros do que a própria perda de dados.

Essa tática explora uma fraqueza humana e corporativa muitas vezes negligenciada: o medo da humilhação pública. Ao ameaçar divulgar informações sigilosas, os atacantes amplificam a pressão sobre executivos, tornando o dilema ético e estratégico ainda mais complexo. Pagar ou não pagar o resgate? Assumir o ataque publicamente ou tentar esconder? É nesse vácuo de pânico que os criminosos prosperam.

Por que essa mudança? Porque funciona. Hackers entenderam que expor falhas, escândalos internos ou brechas de compliance gera um efeito dominó: desvalorização de ações, perda de contratos, danos à moral da equipe e desconfiança do consumidor. E como vivemos em uma era em que tudo é público e imediato, a ameaça de um vazamento massivo se tornou mais eficaz do que qualquer código de encriptação.

Diante disso, a resposta não pode ser mais do mesmo. Firewalls (barreiras de proteção digital), backups e antivírus continuam essenciais,  mas não são o bastante. As empresas precisam investir em uma nova camada de resiliência: a reputacional. Isso envolve ter planos de resposta a incidentes que incluam comunicação de crise, transparência com stakeholders (públicos estratégicos) e prontidão para atuar sob a pressão da imprensa. Muitas vezes, o que separa uma crise de reputação de uma oportunidade de fortalecimento institucional é a forma como a organização reage, e com que rapidez.

Também é fundamental evoluir do modelo reativo para o proativo. Isso significa adotar novos frameworks, fortalecer políticas de governança de dados, testar vulnerabilidades com frequência e, sobretudo, criar uma cultura de segurança transversal, que envolva desde o board até os estagiários. Afinal, uma senha fraca ou um clique distraído em um e-mail pode ser o início de um escândalo internacional.

A Inteligência Artificial e a automação também atuam como aliadas importantes nesse cenário. Soluções baseadas em IA, por exemplo, já conseguem identificar padrões de comportamento suspeito, acelerar respostas e reduzir o tempo de mitigação. Mas a tecnologia, por si só, não resolve o problema se a cultura da empresa continuar vulnerável à manipulação emocional promovida pelos atacantes.

Por fim, é hora de enxergar a cibersegurança como parte da estratégia de marca. Em um mundo hiperconectado, proteger dados é proteger reputações, e reputações são, muitas vezes, mais valiosas do que qualquer ativo financeiro. O ransomware 2.0 é o espelho de uma nova era, em que a guerra digital é travada também no campo da confiança.

O desafio é grande, mas as oportunidades de aprendizado e transformação também são imensas para aqueles que decidirem investir em resiliência e inovação.

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