Confira artigo de Vivian Portella, diretora de Negócios Internacionais do Grupo B&T
Há uma revolução em andamento no Brasil, que não se espalha apenas no boca a boca – e sim no bolso a bolso. Vivemos um momento histórico em nossa relação com o dinheiro. Nos últimos anos, além da explosão das fintechs, da chegada do Open Finance, do PIX e da entrada em vigor do novo marco regulatório no setor de câmbio, essa revolução está em vias de atingir uma nova era com o lançamento do real digital. Um dos caminhos que a moeda regulada e emitida pelo Banco Central promete é ajudar a incluir o Brasil na rota do pequeno investidor internacional, e isso não é pouco.
Pela forma como vem sendo configurado, ao mesmo tempo que mantém a segurança e o sigilo de dados, o real digital oferecerá uma série de condições para que esse pequeno investidor consiga trazer seu dinheiro ao país, sem o excesso de burocracias que encontra atualmente e servido por um alto nível de governança e transparência.
Se no Brasil costuma ser celebrado cada pequeno crescimento da quantidade de CPFs que investem em renda variável, um levantamento do Instituto Gallup aponta que 58% dos adultos americanos se engajam na cultura das ações. Nacionalmente, o número de investidores pessoa física com ativos em renda variável cresceu 35% entre o terceiro trimestre de 2021 e igual período de 2022, alcançando a marca de 4,6 milhões de pessoas. Ainda que mereça destaque, isso representa menos de 3% da população.
O real digital poderá atrair novas pessoas de diferentes nacionalidades, mais habituadas a aplicar o dinheiro e ajudar a movimentar os projetos de empresas brasileiras via mercado de capitais. Uma democratização da cesta de investimentos em nível globalizado, capaz de inspirar o próprio investidor local a acreditar nos ativos variáveis e criar conexões inéditas entre os negócios nacionais e as pessoas físicas no exterior.
Além de demonstrar pioneirismo e maior integração do Brasil aos mercados estrangeiros, a criação do real digital é um passo relevante para o fortalecimento da moeda brasileira, colocando o real em um novo patamar dentro e fora das nossas fronteiras. Um caminho que, por ser inevitável, melhor que seja percorrido logo, como parece que tem sido a preocupação do Banco Central.
Quando falamos em câmbio, costumamos classificar algumas moedas como moedas conversíveis, a exemplo do dólar ou do euro, e não conversíveis – caso do real. As primeiras são facilmente trocadas por outras, contribuindo para atividades de importação e exportação. O segundo tipo encontra maiores barreiras burocráticas para conversão, o que pode impactar na eficiência do comércio exterior.
A versão digital do nosso dinheiro permitirá trocas a um custo mais baixo, favorecerá a liquidez e impulsionará transações internacionais. Ainda não muda o status do real, embora seja um primeiro passo. Uma das missões que o Banco Central passa a ter é a de tornar a moeda brasileira mais conversível dentro de alguns anos, mais estável e apta a dar ao investidor maior segurança de manter posições em reais, estimulando também as aplicações.
O mercado de capitais no país está se acostumando a receber cada vez mais o pequeno investidor. A partir do real digital, só vai faltar dizer isso em novos idiomas.
*Vivian Portella atua há mais de 15 anos no segmento Financeiro de Transferências Internacionais de Recursos. Possui formação em Gestão Empresarial e Comércio Exterior, com especialização nas áreas de Governança e Compliance para instituições Financeiras.