Chuvas irregulares, geadas e ondas de calor marcam o período e apontam para a necessidade de adaptação no setor de seguros e infraestrutura
A Howden Re, braço global de resseguros e consultoria estratégica da Howden, acaba de publicar a quinta edição do relatório ‘Panorama climático no Brasil e no mundo’. O relatório oferece uma visão detalhada da evolução das condições meteorológicas por meio de uma análise retrospectiva da atividade nos meses de abril, maio e junho, e fornece, ainda, uma previsão climática aprofundada para os meses de julho e agosto de 2025. O estudo enfatiza a intensificação da segurança climática no país, em que a sobreposição de extremos, desde chuvas históricas até geadas recordes, está pressionando a infraestrutura, a agricultura e os sistemas de seguro do país.
Segundo Antônio Jorge da Mota Rodrigues, Head da Howden Re Brasil, os dados reforçam a urgência de soluções inovadoras que combinem resiliência financeira, previsibilidade e acesso a proteção para populações e setores expostos. “À medida que o Brasil caminha para receber a COP30, o desafio não está apenas em medir os riscos, mas em transformar informações em ação. O resseguro deve desempenhar um papel vital no desenvolvimento de soluções que vão além da indenização, sendo um catalisador de adaptação climática. Isso passa por antecipar, modelar e distribuir os riscos de forma mais justa e eficaz”, afirma.
Abril a junho: uma estação marcada por extremos e eventos severos
O segundo trimestre foi caracterizado por uma sequência de eventos extremos que atingiram diferentes regiões do país, revelando fragilidades estruturais e aumentando a exposição aos riscos climáticos. Em abril, o Sudeste e o Centro-Oeste registraram acúmulos de chuva muito acima da média histórica, com destaque para Teresópolis (RJ), onde os volumes ultrapassaram 700 mm, mais de seis vezes do que o normal. Esse excesso foi impulsionado pela combinação de frentes frias, cavados (região alongada de baixa pressão atmosférica em relação às áreas vizinhas, geralmente associada a condições de tempo instável, como chuvas intensas e ventos fortes) e sistemas de alta pressão que intensificaram a instabilidade atmosférica.
Maio reforçou o alerta climático no Sul do país. Um ano após as enchentes históricas no Rio Grande do Sul, o estado voltou a ser impactado por fortes inundações, com acumulados superiores a 200 mm em apenas 24 horas em diversas cidades. Além disso, ondas de frio polar atingiram a região e a bacia amazônica, trazendo os primeiros episódios de friagem e neve do ano.
Em junho, um ciclone extratropical atingiu novamente a região Sul, seguido por uma massa de ar polar que derrubou as temperaturas para -8°C em Urupema (SC). O evento causou geadas generalizadas nas regiões produtoras de milho, trigo e café, elevando os riscos e prejuízos para a produção agrícola e para o setor de seguros rurais.
Julho e agosto: inverno seco, mínimas elevadas e risco crescente de calor fora de época
O mês de julho segue marcado por precipitação abaixo da média nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com exceção de Goiás, onde os volumes devem se manter próximos à média histórica. No Nordeste, por outro lado, os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco apresentam acumulados acima da média, influenciados por sistemas de instabilidade persistentes.
Para agosto, a previsão indica acumulados de chuva dentro ou ligeiramente acima da média no Centro-Oeste, no Nordeste e no Paraná, enquanto o Rio Grande do Sul e Santa Catarina mantêm a tendência de chuvas abaixo da média. Em relação às temperaturas, a maior parte do país deve registrar valores ligeiramente acima da média, com exceção de áreas como o Tocantins, o noroeste do Pará e o Mato Grosso, que apresentam tendência de temperaturas abaixo do esperado. As anomalias de temperatura mínima também chamam atenção após um início de estação com mínimas próximas da média, julho já mostra elevações, e agosto deve intensificar esse padrão, especialmente nas regiões do Centro-Sul do país. Esse comportamento sugere um aumento na frequência de episódios de calor fora de época.
Resseguro em transição
De acordo com Antônio Jorge Rodrigues, o mercado de resseguros no Brasil está passando por uma transformação crítica, com a migração de uma postura predominantemente reativa para uma atuação antecipatória e baseada em dados climáticos avançados. “Iniciativas como o seguro paramétrico para ondas de calor, já testado em grandes centros urbanos, e o mapeamento de riscos agrícolas regionais estão moldando uma nova fase do setor. Com a Taxonomia Sustentável Brasileira prestes a ser publicada e a COP30 no horizonte, o relatório reforça o alinhamento crescente entre estruturas financeiras e análise climática para apoiar a resiliência em larga escala”, destaca.