Safrinha de milho: estoques cheios e boa perspectiva de safra mantém pressão sobre o grão no curto prazo

Foto por: Wouter Supardi Salari/ Unsplash Images
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Demanda firme para etanol e ração auxiliam no mercado, mas excesso de oferta no Brasil e no exterior limita elevações nos preços

O mercado de milho inicia o ciclo 2025/26 sob forte pressão baixista, resultado de um ambiente de ampla oferta tanto no Brasil quanto no cenário internacional. A combinação de estoques elevados, boa perspectiva climática para o desenvolvimento da safra e demanda consistente são os principais fatores que mantêm as cotações estáveis, mas com viés de correção no curto prazo.

Para Yedda Monteiro, analista de inteligência e estratégia da Biond Agro, o balanço atual entre produção e disponibilidade de milho no país aponta claramente para um cenário de abundância. “A produção projetada para 2025/26 segue satisfatória e os estoques continuam confortáveis, refletindo uma sequência de safras acima da média. Isso se traduz em resistência técnica de preços e reforça o comportamento lateralizado observado no mercado nas últimas semanas”, afirma.

Mercados doméstico e externo reforçam cenário pressionado

A oferta volumosa do Brasil coincide com um quadro semelhante no cenário internacional. Os Estados Unidos colhem um ciclo robusto, enquanto a China projeta safra doméstica acima de 300 milhões de toneladas, reduzindo seu apetite no mercado global. Como consequência, o ambiente internacional também limita movimentos significativos de alta.

Mesmo assim, alguns fatores internos evitam quedas mais profundas. “Em momentos de desvalorização do real, o câmbio tem servido como válvula de alívio, devolvendo suporte às cotações internas e impedindo quedas mais agressivas”, explica Yedda. Paralelamente, as compras da indústria seguem pontuais, com segmentos como proteína animal e etanol operando com estoques confortáveis e sem pressão por aquisição imediata, o que ajuda a manter o mercado travado.

Consumo interno se apoia em etanol e demanda de ração

A expansão do setor de etanol de milho permanece como um dos pilares do consumo brasileiro. Com aumento da capacidade instalada e margens favoráveis, o setor segue absorvendo volume expressivo de grãos ao longo do ano.

“A produção do etanol continua crescendo de forma consistente, acompanhando o aumento de capacidade das usinas e a maior demanda por etanol anidro. Isso dá sustentação à demanda mesmo em cenário de ampla oferta”, destaca Yedda.

O consumo para ração animal também permanece sólido. Hoje, cerca de 51 milhões de toneladas são destinadas ao setor, considerando aves, suínos, confinamentos e outras cadeias. Embora apresente um crescimento mais estável, esse volume regular ajuda a conter uma deterioração maior dos preços.

 

No campo logístico, o Brasil também registrou bom desempenho exportador no início de novembro, ainda que enfrente concorrência intensa dos Estados Unidos e um real menos desvalorizado, o que reduz parte da competitividade internacional.

O que pode reverter a tendência?

Embora o cenário predominante seja de estabilidade com viés de baixa, há gatilhos capazes de alterar o ritmo do mercado, especialmente no curto prazo. O mais sensível é o clima.

“O verdadeiro ponto de inflexão será a janela de plantio da safrinha. Qualquer irregularidade de chuvas entre janeiro e fevereiro, especialmente no Centro-Oeste e Matopiba, pode afetar o potencial produtivo e gerar reação imediata de alta”, avalia a analista.

Fatores cambiais também podem provocar movimentos positivos, caso haja uma desvalorização mais intensa do real. Entretanto, Yedda pondera que esse não é o cenário base do mercado hoje.

Há ainda a expectativa em torno dos próximos relatórios do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), que voltaram a ser publicados após semanas de paralisação. Se houver revisão moderada para baixo na produtividade americana ou sinalização de exportações mais firmes, Chicago pode responder com valorizações pontuais, aliviando a pressão global.

 

Produtor divide estratégias entre liquidez e retenção

O comportamento do produtor varia conforme a região e a situação financeira. Em áreas com maior pressão logística ou necessidade de caixa, há liquidação mais rápida, aproveitando altas pontuais no câmbio. Já em regiões com maior capacidade de armazenamento, principalmente no Centro-Oeste, predomina uma retenção moderada, aguardando janelas melhores de preço.

“Diante de um mercado estruturalmente ofertado, os produtores têm aproveitado momentos específicos, seja para a comercialização do físico ou oportunidades de hedge, especialmente quando observamos a manutenção dos preços da B3 para o milho.  e de dias de maior volatilidade do câmbio”, finaliza Yedda Monteiro.

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