Uma pesquisa do Instituto de Câncer e Ciências Genômicas na Universidade de Birmingham apontou que o sexo oral passou a ser o principal fator de risco para o câncer de garganta. O HPV está relacionado com uma das causas dessa doença. Além disso, as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) podem ser transmitidas no sexo oral.
Segundo dados da OMS, são diagnosticados 1 milhão de casos diariamente de infecções sexualmente transmissíveis. Entre as infecções que podem ser contraídas estão a sífilis, gonorreia e herpes genital.
O presidente da Câmara Técnica de Patologia Oral e Maxilofacial, Dr. Fábio Luiz Coracin, explica que a transmissão dessas infecções pode ocorrer por contato direto com fluidos corporais durante o ato sexual, através de lesões na mucosa da boca, gengiva, língua, assoalho da boca, e mucosa dos palatos duros e moles.
“O vírus do herpes é, frequentemente, transmitido por contato oral-oral, mas também pode ser transmitido por contato oral-genital, enquanto as bactérias responsáveis pela sífilis e gonorreia podem ser transmitidas por contato direto com lesões durante o sexo oral, genital ou anal”, esclarece o especialista.
O Dr. Fábio Coracin alerta que, em casos de lesões causadas pelo vírus do herpes simples humano, as pessoas infectadas apresentam vesículas ou bolhas nos lábios, e também podem aparecer na gengiva, língua ou palato. As lesões podem se romper e formar úlceras locais, o que pode ocasionar sensações de formigamento e sintomas sistêmicos como febre. Em casos de sífilis, podemos encontrar a lesão ulcerada pequena, indolor e arredondada na mucosa oral. A doença aparece de 10 a 90 dias após o contato sexual e desaparece espontaneamente.
Características que devem ser avaliadas são de lesões verrucosas, sejam papilomas ou verrugas, que podem afetar partes da mucosa oral, podem estar associadas ao vírus da HPV. Infecções associadas com a Aids podem comprometer o sistema imunológico. Casos de candidíase podem aparecer em pacientes portadores de HIV, por meio de placas brancas removidas por raspagem superficial, deixando uma mucosa avermelhada. Em contrapartida, condições caracterizadas pelo aparecimento de placas brancas, irregulares, na borda da língua, bilateral, e que não podem ser removidas com raspagem, indicam provável infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV), e também pode aparecer como manifestação de HIV/Aids.
Além das infecções, o especialista pontua que é importante estar atento a possíveis tumores, como o sarcoma de Kaposi, tumor maligno que pode afetar a mucosa oral também em pacientes com HIV. Nesse caso, as lesões podem aparecer como manchas ou nódulos avermelhados nas gengivas e mucosa bucal.
Entre as características que podem ter uma boca infeccionada estão dores, sensibilidade, inchaço, manchas vermelhas, pus, halitose e linfonodos. Dr. Fábio salienta que cada doença tem uma manifestação específica, então o diagnóstico preciso deve ser feito pelo cirurgião-dentista.
“O diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) pelo cirurgião-dentista, com base nas manifestações orais, envolve uma combinação de exame clínico, histórico de saúde do paciente e, quando necessário, a realização de exames laboratoriais específicos. Durante a consulta, o cirurgião-dentista pode perguntar sobre o histórico sexual do paciente, especialmente se há prática de sexo desprotegido, múltiplos parceiros ou contato com pessoas diagnosticadas com ISTs”, explica o presidente da Câmara Técnica de Patologia Oral e Maxilofacial.
Apesar de realizar o diagnóstico, o cirurgião-dentista não participa diretamente do tratamento. A responsabilidade do profissional é encaminhar o paciente ao médico especializado para realizar os cuidados necessários.
Com o tratamento adequado, a saúde bucal pode ser restabelecida por meio de antibióticos. Nos casos de sífilis, as úlceras podem cicatrizar completamente, e a mucosa bucal volta ao seu estado normal. Caso a infecção não seja tratada em estágio inicial ou secundário, pode causar complicações e gerar cicatrizes.
Para quem tem gonorreia, a infecção também é resolvida após o uso de antibióticos e a mucosa oral volta ao normal. Somente em ocorrências de infecção crônica ou em casos de resistência ao antibiótico é que complicações podem aparecer. O tempo de recuperação varia conforme o tipo de infecção, tratamento e a gravidade do caso clínico.
No Brasil, existem diversas campanhas e iniciativas para prevenir infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). O objetivo é educar a população sobre o uso de preservativos, a importância da testagem regular e o combate à discriminação relacionadas a HIV. O Ministério da Saúde reforça a importância da proteção contra as ISTs e da testagem por meio de ações no Carnaval, peças publicitárias em mídias tradicionais de TV e Rádio e nas redes sociais.
“As formas de prevenção incluem o uso de preservativos durante o sexo oral, evitar práticas sexuais de risco, vacinação contra o HPV e a conscientização de todas as pessoas para os meios de transmissão das ISTs e suas formas de prevenção”, finaliza o cirurgião-dentista.