Emília Oliveira, psicóloga do IBCC, explica como cuidar do equilíbrio emocional e ter uma rede de apoio impactam positivamente na jornada contra o câncer
O diagnóstico de câncer vai muito além do aspecto físico: o impacto emocional é intenso e exige atenção constante. O choque inicial diante da doença frequentemente desperta emoções como medo, tristeza, raiva e negação. A psicóloga Emília Oliveira, do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), explica que os pacientes enfrentam uma série de sentimentos complexos desde o momento em que recebem a notícia, e cuidar da saúde mental é fundamental para a adesão e sucesso do tratamento.
“Reconhecer e elaborar esses sentimentos faz parte do processo de adaptação à nova realidade. Durante o tratamento, a rotina é completamente transformada, com consultas, exames e procedimentos frequentes, o que pode gerar ansiedade, irritabilidade, cansaço emocional e a sensação de ser um fardo para familiares”, explica a especialista.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), até 50% dos pacientes oncológicos podem apresentar algum transtorno emocional ou depressivo durante o tratamento. “O equilíbrio emocional favorece positivamente a adesão às recomendações médicas. Já o sofrimento intenso ou a falta de apoio podem prejudicar a compreensão das orientações e a participação ativa do paciente no próprio cuidado”, acrescenta Emilia.
No IBCC Oncologia, os pacientes contam com acompanhamento psicológico desde a hospitalização e seguem com apoio em ambulatórios, voltado às dificuldades emocionais surgidas frente ao adoecimento e ao tratamento. Além disso, iniciativas do grupo de humanização, como visitas de pets, música, reiki e oficinas de maquiagem, oferecem conforto e estratégias de enfrentamento.
A família desempenha papel essencial nesse processo. “Uma postura acolhedora, sem julgamentos, com demonstrações de empatia, fortalece o paciente. Pequenos gestos de cuidado fazem diferença, mas também é importante respeitar momentos de silêncio e necessidade de espaço”, orienta Emília. Para os familiares, o acompanhamento psicológico também é importante, ajudando-os a lidar com sentimentos de sobrecarga e sensação de impotência, fortalecendo-os para oferecer um cuidado mais saudável.
Sinais de alerta como isolamento social, choro frequente, recusa em seguir orientações médicas, ansiedade intensa, alterações no sono e no apetite indicam que o paciente precisa de acompanhamento psicológico mais próximo, podendo, em alguns casos, demandar avaliação psiquiátrica.
A psicóloga reforça que o tratamento do câncer envolve cuidar não apenas do corpo, mas também da mente e das emoções. “É normal sentir medo e fragilidade, mas não se está sozinho. Permita-se viver suas emoções, aceite apoio e valorize pequenas conquistas do dia a dia. Cultive a esperança e confie na equipe multidisciplinar”, finaliza a especialista.
O autocuidado e a rede de apoio são ferramentas essenciais. Alimentação equilibrada, respeito aos limites físicos, momentos de lazer e descanso fazem parte de uma rotina saudável. A espiritualidade também pode ser um recurso de enfrentamento, ajudando a ressignificar a experiência e renovar a vontade de viver diante das transformações impostas pelo câncer.