Psicóloga e CEO da Mental Clean, Fátima Macedo, explica o panorama atual e os caminhos possíveis
Em 2020, quando começou a pandemia de Covid-19, o International Stress Management (ISMA) fez um levantamento sobre a saúde mental do trabalhador brasileiro. Os resultados apontaram que 72% dos empregados no Brasil sofrem de alguma sequela de estresse, 32% têm síndrome de Burnout (ou esgotamento profissional), e 92% das pessoas com a síndrome continuam trabalhando.
Esses números refletem uma realidade mundial e se tornaram evidentes no dia a dia das pessoas, acendendo um alerta para um assunto que, até hoje, ainda mantém certa resistência na aceitação por parte das empresas: a saúde mental do trabalhador.
Para Fátima Macedo, CEO da Mental Clean e especialista em Saúde Mental do Trabalhador, é preciso identificar a divisão entre o saudável e o exagero. “A partir do momento em que você está no ambiente de trabalho, com muita pressão, concorrência, entre vários fatores que trazem tensão, há um estresse ocupacional. No entanto, a pergunta que precisamos nos fazer é: qual o limite desse estresse ocupacional?”, indaga.
A especialista explica que a pressão faz parte do trabalho, pois, mesmo nos ambientes mais saudáveis, existem metas a serem cumpridas, conflitos, cargas de trabalho que se acentuam pontualmente devido a projetos com prazos mais apertados. “O estresse ocupacional ocorre quando começa a haver o desequilíbrio entre as exigências do trabalho e o que o indivíduo tem a oferecer naquela relação. Precisa ser uma via de mão dupla, na qual ambos os lados ganhem. Se não há esse ganho, essa relação começa a se tornar um problema na vida do indivíduo”, ressalta.
A população foi chegando ao seu limite e se conscientizando disso. Segundo dados da Previdência Social, em 2021, mais de 75 mil pessoas se afastaram do trabalho por conta da depressão no Brasil. “O estresse é um matador silencioso, mas que manda sinais, demonstra em sintomas”, enfatiza Fátima, que reforça a importância das empresas se voltarem à saúde mental de seus trabalhadores por meio de um planejamento.
Um estudo feito pela rede social LinkedIn em 2022 mostrou que 91% dos brasileiros consideram importante ou muito importante falar sobre saúde mental com psicólogos, amigos ou familiares, e 80% declararam já se sentirem confortáveis ou muito confortáveis em abordar o assunto cotidianamente.
No entanto, esse índice cai para 44% quando consideramos o ambiente de trabalho, devido ao fato de as pessoas não se sentirem seguras para se expressarem sobre esse assunto dentro das empresas, demonstrando que há um tabu em relação ao tema no âmbito profissional, apesar das organizações já criarem ações para o bem estar mental do trabalhador.
“A alta liderança, o RH das empresas, as equipes de saúde, precisam de ajuda especializada, de uma estruturação e de um treinamento. Porque não adianta a empresa oferecer o programa e o suporte ao trabalhador se o mesmo não consegue ou não tem vontade de participar desse programa. Esse deve ser o objetivo principal da empresa, incentivar o seu colaborador a participar e dar esse espaço a ele” conclui Fátima Macedo.