Por Brenda Donato, Diretora de Pessoas da Embracon
A saúde mental no ambiente corporativo está no centro do debate sobre qualidade de vida e produtividade no Brasil. Em 2024, o país registrou 472 mil afastamentos relacionados a transtornos mentais, um aumento de 68% em comparação com o ano anterior, segundo dados do Ministério da Previdência Social. O número alarmante escancara a urgência de estratégias organizacionais sólidas voltadas ao bem-estar emocional dos colaboradores.
Diante desse desafio, a Teoria Polivagal, desenvolvida pelo neurocientista Stephen Porges, tem sido um recurso valioso para compreender como o sistema nervoso reage às interações sociais e ao ambiente de trabalho. Pressões constantes, insegurança e falta de suporte emocional podem ativer o estado de alerta constante, resultando em estresse crônico, ansiedade e burnout. Em contrapartida, empresas que promovem segurança psicológica, apoio emocional e relações saudáveis, contribuem diretamente para a regulação do sistema nervoso e para um clima organizacional mais saudável e produtivo.
Além das iniciativas individuais das empresas, o cenário regulatório também evoluiu. A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) exige que as empresas identifiquem e mitiguem riscos psicossociais. Isso inclui, por exemplo, avaliar fatores como sobrecarga de trabalho, assédio, insegurança no emprego e pressão emocional. A norma marca uma virada cultural e jurídica, reconhecendo oficialmente a saúde mental como responsabilidade institucional e um tema prioritário nas políticas de gestão de pessoas.
Empresas que já investem em programas estruturados estão um passo à frente. Aquelas que ainda não avançaram precisarão agir com rapidez para atender às novas exigências legais e sociais. Integrar os conceitos da Teoria Polivagal com as exigências da NR-1 permite transformar positivamente o ambiente de trabalho, por meio de práticas como escuta ativa, comunicação transparente, suporte emocional e desenvolvimento de lideranças empáticas.
Minha experiência de 17 anos na área de gestão de pessoas mostrou que pequenos passos podem levar a grandes transformações. No início, contávamos com apenas três profissionais dedicados à saúde mental, mas, ao longo do tempo, conseguimos estruturar uma cultura organizacional mais acolhedora e resiliente. Esse processo não apenas reduziu os afastamentos por questões emocionais, mas também fortaleceu o engajamento e a satisfação dos colaboradores.
O aumento expressivo dos afastamentos por transtornos mentais evidencia que o tema não pode mais ser negligenciado. Adotar uma abordagem preventiva e estruturada não apenas evita penalizações legais, mas também fortalece a marca empregadora, amplia a retenção de talentos e sustenta o crescimento do negócio a longo prazo.
A saúde mental dos colaboradores deve ser encarada como um investimento estratégico. O futuro das organizações dependerá cada vez mais da capacidade de equilibrar performance e bem-estar, garantindo que as pessoas possam produzir com qualidade, mas sem comprometer sua saúde emocional.