Confira artigo de Márcio Dias, Diretor de Marine, Cargo & Logística na Howden Brasil
Neste ano, a seca que assola a Amazônia trouxe à tona uma realidade alarmante, a intensificação dos incêndios florestais e os desafios logísticos enfrentados pelas empresas. O problema já afeta 767.186 pessoas em todo Estado do Amazonas, de acordo com boletim da Defesa Civil. Cerca de 190 mil famílias sofrem com os impactos da estiagem. Com 5,5 milhões de hectares queimados em setembro, um aumento de 196% em relação ao ano anterior, a situação exige uma reflexão urgente sobre as estratégias de mitigação de riscos, no setor de seguros.
O Porto de Manaus é um dos principais pontos de entrada e saída de mercadorias na região Norte, desempenhando um papel fundamental na economia local. Porém, a redução da capacidade de transporte fluvial, impactada pela seca, resultou em elevados custos logísticos e prazos de entrega prolongados. Esses impactos afetam diretamente as indústrias, como de eletrônicos e produtos químicos, que dependem de um escoamento eficiente de suas mercadorias. A escassez de insumos pode causar atrasos na produção e aumento nos custos de transporte, impactando diretamente a linha de produção. Isso resulta em desabastecimento, perda de mercado para os clientes e gastos logísticos adicionais.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) tem intensificado as operações de dragagem em um trecho crítico da região. A dragagem é essencial para melhorar as condições de navegação na região Norte, especialmente com a queda no nível do rio. Esse trabalho contínuo é fundamental para garantir que as embarcações possam operar sem interrupções.
Neste cenário, os seguros se tornam uma ferramenta essencial. O seguro paramétrico, por exemplo, ganha destaque por ser uma modalidade baseada em índices (parâmetros) definidos previamente e acordados em contrato entre as partes. Essa abordagem oferece cobertura vinculada a variações inesperadas nas condições climáticas, proporcionando proteção a eventos climáticos extremos. Com isso, as organizações conseguem mitigar suas perdas de forma mais ágil e eficiente, já que o pagamento da indenização é desencadeado automaticamente quando os parâmetros estabelecidos são atingidos.
Com o aumento das regulamentações e a crescente atenção às questões climáticas, o seguro de crédito de carbono também se destaca para empresas que desejam participar ativamente da economia de baixo carbono. Embora ainda pouco contratado no Brasil, essa modalidade também incentiva práticas sustentáveis.
Com relação ao Seguro de Carga, as Seguradoras estão se adaptando para atender as necessidades dos clientes que estão sendo impactados pelas secas, buscando alternativas, por exemplo, mediante negociação prévia, prorrogação de prazo de duração dos riscos e permanência de cobertura das cargas que ficaram impossibilitadas de seguir viagem, inclusão do modal terrestre nas apólices que servirão para escoar a cargas e outros.
Além das adaptações nos seguros, a transição para embarcações de energia limpa representa um avanço significativo no setor marítimo. Essa mudança é impulsionada pela necessidade de reduzir emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos ambientais associados ao transporte marítimo. Entre as principais inovações de energia limpa estão as embarcações elétricas, híbridas, movidas a hidrogênio, energia solar e biocombustíveis.
Essas tecnologias não apenas contribuem para um futuro mais sustentável, mas também abrem novas oportunidades para o mercado de seguros. Com isso, as seguradoras estão adaptando suas apólices para atender às novas necessidades. A inclusão de cláusulas mais amplas para cada cliente, ajudarão a minimizar os possíveis impactos decorrentes da seca. É importante que as empresas do setor revisem suas apólices com um corretor especializado e suas seguradoras, garantindo que as possíveis vulnerabilidades da operação sejam identificadas e estejam devidamente alinhadas com as coberturas oferecidas na apólice de seguro.
Entretanto, as seguradoras também enfrentam desafios significativos. A falta de informações detalhadas sobre os riscos e as condições climáticas dificultam a avaliação e a precificação adequadas das apólices. É primordial que as empresas compartilhem dados e desenvolvam um planejamento de contingências, identificando vulnerabilidades e ajustando suas estratégias de seguro.
Medidas como a extensão dos prazos de cobertura e a criação de apólices personalizadas podem atender as necessidades específicas de cada cliente. Estabelecer um limite máximo de garantia elevado para empresas de navegação e dar mais flexibilidade nos prazos de pagamento dos prêmios são ações essenciais para apoiar os clientes em tempos desafiadores. Além disso, é de suma importância que as seguradoras forneçam um retorno rápido sobre dúvidas e questionamentos das operações, orientando os segurados em suas decisões, ajudando a mitigar riscos e evitando falta de cobertura
A crise climática serve como um alerta para todos nós. Ao analisar os desafios crescentes, é fundamental uma sinergia do ecossistema: segurados, seguradoras, resseguradores e brokers colaborem de forma integrada para garantir a proteção necessária. Somente assim poderemos minimizar com os impactos da seca, proteger nossas indústrias e fortalecer a economia, principalmente nas regiões mais afetadas no Brasil.