Em palestra no HSM+, Patrícia Ansarah, do Instituto Internacional em Segurança Psicológica, destaca os pilares da segurança psicológica para as organizações que desejam avançar na trilha de um capitalismo mais consciente
O Instituto Internacional em Segurança Psicológica (IISP) levou o tema segurança psicológica e como ela é um meio eficaz para as empresas que desejam avançar num capitalismo mais consciente e ao mesmo tempo bastante desafiador para o primeiro dia do HSM+, considerado o maior evento de gestão e inovação da América Latina, realizado no Transamérica Expo Center, em São Paulo.
Patrícia Ansarah, psicóloga organizacional, mentora executiva, cofundadora do IISP e que atua há mais de vinte anos ajudando empresas a transformarem seus processos organizacionais, atuando com mais significado e propósito, palestrou no palco Makers e falou sobre como grandes empresas premiadas por seu ambiente de trabalho também têm profissionais adoecidos, precisando de acolhimento e espaço para se expressar. “Como em uma mesma empresa tem tanta gente feliz e ao mesmo tempo outras pessoas tão adoecidas?”, questionou.
Segundo a executiva, o que acontece nas empresas são jornadas de relações que devem ser constantemente cuidadas e repensadas para que o time, como um todo, sempre se sinta seguro psicologicamente ou, do contrário, as pessoas adoecerão, se calarão ao invés de propor mudanças ou questionamentos que provoquem mudanças positivas para o negócio, criando um cenário onde todos perdem. “Ou a empresa que você trabalha cura uma dor do mundo ou ela causa uma dor do mundo”, disse.
“Ou a empresa que você trabalha cura uma dor do mundo ou ela causa uma dor do mundo”
O termo Segurança Psicológica foi cunhado pela Dra Amy Edmondson, engenheira, que a partir de uma pesquisa, no início dos anos 90, sobre o funcionamento de times em hospitais, um ambiente complexo e cheio de desafios, detectou que onde havia segurança psicológica, as pessoas performavam muito melhor. “Amy classificou ambientes psicologicamente seguros como aqueles onde os integrantes de um time podem assumir riscos interpessoais, ou seja, têm liberdade para falar, expor suas ideias, sem medo de retaliações ou ‘cancelamentos’ e cada assunto é visto sob a perspectiva do aprendizado e não da competição”, explicou Patrícia. Em 2012, o Google liderou uma nova pesquisa sobre o tema, conhecida como Projeto Aristóteles, que levou três anos e ajudou a disseminar o conhecimento sobre o assunto.
O preço do silêncio – Patrícia trouxe dados de uma pesquisa do Instituto Gallup que apontou que apenas 3 em cada 10 pessoas concordam com a afirmação “Minha opinião é levada em consideração (na empresa onde trabalho)”. O mesmo estudo mostra que, mudando esse resultado para 6 em 10 pessoas, haveria uma diminuição em 27% do turnover, 12% do aumento de produtividade e 40% de redução em acidentes de trabalho. Ela também trouxe uma pesquisa internacional* que apontou que 72% dos trabalhadores não falam abertamente quando um colega de trabalho não faz a sua parte e que 68% não falam abertamente quando veem alguém sendo desrespeitado. O estudo aponta ainda que há um desperdício de US$ 7,500 por pessoa em tempo e recursos a cada “silêncio corporativo”.
Padrões de sucesso – Segundo a executiva, há cinco padrões existentes em equipes de sucesso, considerando bom desempenho e positividade nas relações:
1. Segurança psicológica: os membros da equipe se sentem seguros em arriscar e serem vulneráveis na frente dos colegas
2. Confiabilidade: os membros da equipe entregam suas tarefas no prazo e atendem a um padrão de excelência esperado
3. Estrutura e clareza: os membros da equipe possuem papeis, planos e metas claros
4. Significado de trabalho: o trabalho é pessoalmente significativo para cada um do grupo
5. Impacto do trabalho: os membros da equipe percebem que seu trabalho importa e gera mudanças.
“O mundo mudou e seguirá mudando. Não há espaço mais para relações autoritárias e unilaterais nas quais os líderes devem ter todas as respostas para tudo e os colaboradores apenas executam. O capitalismo consciente, as demandas urgentes da agenda ESG e a sociedade como um todo exigem novas respostas e as empresas corajosas não só já perceberam isso como estão trilhando esse caminho pautado na segurança psicológica”, avaliou Patrícia. “Somos muito limitados sozinhos, mas temos um enorme potencial quando estamos juntos. E estamos passando por uma redefinição de alta performance: ela não está apenas pautada na entrega de resultados excelentes, mas numa entrega constante e de forma positiva”, finalizou
*VitalSmarts, L.C. – Crucial Conversations Survey 2019.