Em entrevista ao Universo do Seguro, Ricardo Minc, diretor de Esportes, Mídia e Entretenimento da Howden Brasil, detalha os riscos que cercam museus e coleções – e explica por que apólices All Risks e cláusulas específicas são decisivas para preservar o patrimônio cultural e a missão das instituições
O recente roubo de joias na Galeria de Apolo, no Museu do Louvre, em Paris, voltou a colocar os holofotes sobre um tema sensível: a segurança dos acervos culturais. O episódio, que envolveu a subtração de peças valiosas de um dos museus mais renomados do mundo, reacendeu o debate sobre vulnerabilidades e revelou a importância da gestão de riscos e dos seguros especializados.
Para o Universo do Seguro, Ricardo Minc, diretor de Esportes, Mídia e Entretenimento da Howden Brasil, com mais de duas décadas de experiência em seguros e resseguros, explicou os desafios que cercam museus, galerias e colecionadores de arte – e como o seguro se torna um instrumento essencial para garantir a continuidade do patrimônio cultural.
Museus sob ameaça: riscos que vão além do furto
Segundo Minc, o roubo no Louvre mostrou que nem mesmo as instituições mais prestigiadas estão imunes. “Além dos furtos, tragédias como os incêndios do Museu Nacional e do Museu da Língua Portuguesa expuseram falhas estruturais graves na proteção do patrimônio cultural”, afirmou.
O especialista destaca ainda os riscos emergentes, como o vandalismo ideológico – casos em que ativistas atacam obras com tinta ou comida -, e os acidentes humanos, como o ocorrido na Galleria Degli Uffizi, na Itália. “Esses episódios mostram que a proteção de acervos de alto valor exige vigilância constante, investimento contínuo e estratégias cada vez mais abrangentes”, observa o executivo.
All Risks: o modelo ideal para acervos de alto valor
Na análise de Minc, o seguro mais indicado para obras de arte, relíquias e joias é o All Risks, que cobre todos os riscos, exceto os expressamente excluídos. Ele ressalta que as cláusulas adicionais são decisivas para uma indenização justa e eficiente.
Entre as coberturas indispensáveis, Minc cita:
-
Cláusula de Valor Acordado, que evita disputas pós-sinistro;
-
Recompra, que permite ao segurado readquirir a obra se ela for recuperada;
-
Conjunto, essencial para pares ou séries inseparáveis;
-
Depreciação por Perda Parcial, cobrindo desvalorização após restauração;
-
Coberturas para Greve, Motim, Comoção Civil, Vandalismo e Terrorismo;
-
Isenção de regresso a transportadores e restauradores;
-
Definição prévia de peritos e foro, com cláusula arbitral quando necessário.
Essas condições são fundamentais, segundo ele, especialmente porque a maioria das apólices de arte de alto valor é ressegurada em Londres, exigindo precisão técnica e conformidade internacional.
Museus, galerias e colecionadores: três mundos diferentes
Minc explica que museus públicos, galerias comerciais e colecionadores privados apresentam perfis de risco muito distintos. “Nos museus públicos, o desafio é equilibrar segurança e acesso ao público. Já as galerias enfrentam riscos dinâmicos devido à movimentação constante das obras, enquanto colecionadores têm acervos mais estáticos, mas dependem fortemente de segurança física”, pontua.
O diretor da Howden Brasil também alerta que a avaliação incorreta das peças pode comprometer toda a proteção. “Obra subavaliada gera indenização insuficiente; obra superavaliada encarece o prêmio e afasta seguradoras. A qualidade da estrutura, o histórico de sinistros e a gestão do ambiente são determinantes na aceitação do risco”, completa.
Prevenção e tecnologia: o alicerce da proteção
Embora o seguro seja essencial, Minc ressalta que ele não substitui a prevenção. “Uma boa gestão de risco começa com infraestrutura e treinamento”, diz o executivo. “Isso inclui sistemas de alarme, câmeras, sprinklers, controle de umidade e temperatura, planos de emergência e simulações periódicas”.
Ricardo Minc enfatiza ainda o papel do fator humano: tecnologia sem preparo é ineficaz. “Todos os funcionários — da segurança ao setor educativo — precisam entender o protocolo de emergência e manuseio das obras”, reforça.
Entre as medidas estruturais, Minc recomenda digitalização e backups dos acervos, para preservar registros em caso de sinistro, e a revisão periódica dos mapas de risco, com atenção especial a vulnerabilidades periféricas como janelas e corredores técnicos.
Seguro como instrumento de continuidade cultural
Encerrando a entrevista, Minc destaca que o seguro não é um substituto para o valor simbólico de uma obra, mas sim o fôlego financeiro que permite que museus e colecionadores se recuperem após uma perda. “O seguro não apaga a perda, mas permite reagir. Ele dá fôlego para reconstruir, financiar restauros, adquirir novas peças e manter viva a missão cultural da instituição. Proteger o patrimônio cultural é, antes de tudo, proteger nossa identidade coletiva”, conclui.
