Com juros elevados, investidores avaliam oportunidades no Tesouro Direto e no mercado de crédito privado
O atual cenário de juros altos no Brasil, com a Selic a 15% ao ano, reacende discussões entre investidores sobre a melhor forma de alocar recursos no curto e no longo prazo. A dúvida vai além do tradicional Tesouro Selic: CDBs de grandes bancos, títulos prefixados, NTN-Bs (Tesouro IPCA+) e até debêntures incentivadas entram na mesa de análise como alternativas para quem busca equilibrar liquidez, proteção e retorno.
“Selic e CDI andam praticamente juntas. Então, se um CDB de banco AAA estiver pagando pelo menos 99% do CDI, ele já passa a ser uma alternativa competitiva ao Tesouro Selic para caixa tático”, explica Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos.
Tesouro prefixado: hora de apostar na queda dos juros?
A curva de juros embute expectativas de cortes graduais até 2026 ou 2027, mas parte do mercado já vislumbra reduções mais agressivas. Paulo afirma que esse é o momento de avaliar prefixados de prazos mais curtos, como 2027 e 2028.
“O investidor que deseja superar o CDI precisa se posicionar antes do movimento mais claro da curva. Se os cortes vierem mais rápido do que o projetado, essa pode ser uma janela estratégica para travar taxas ainda altas”, ressalta o executivo.
Tesouro IPCA+: oportunidade rara para horizontes longos
Enquanto papéis curtos oferecem previsibilidade, o Tesouro IPCA+ chama atenção pelas taxas historicamente elevadas, entre IPCA +6,9% e +7,3% para vencimentos até 2050.
“É uma oportunidade rara de travar juros reais muito altos. A comparação justa é com debêntures incentivadas, que só fazem sentido se o prêmio compensar o risco de crédito e a menor liquidez. Pelo gross up, elas precisam superar a taxa das NTN-Bs líquida de impostos”, avalia Cunha.
Estratégias para diferentes perfis
Na visão do executivo, o desenho da carteira depende do horizonte e do perfil do investidor. Para conservadores, ele recomenda 70% em pós-fixados, 15% em inflação e apenas 2,5% em prefixados. Já os moderados podem elevar a fatia na inflação para 25% e em prefixados para 7,5%.
“Quem é mais agressivo pode até aumentar o peso em IPCA+, mas precisa estar confortável com a volatilidade de marcação a mercado e com a possibilidade de carregar o título até o vencimento”, complementa.
Mesmo diante do apetite por taxas elevadas, Cunha alerta que o principal risco hoje não está na inadimplência por parte do governo, mas na inflação descontrolada.
“Se houver fuga de capitais e a inflação escapar do controle, o poder de compra do investidor será corroído. E ainda que os IPCA+ acompanhem essa escalada, o imposto de renda pode comprometer a rentabilidade real”, finaliza.