Estrategista-chefe da empresa, Lucas Constantino também comenta decisão do Fed que optou pela manutenção da taxa de juros americana
Diante de um contexto de aumento das incertezas globais e das tensões geopolíticas, somado às preocupações com a inflação e com os sinais de enfraquecimento da atividade americana, o Federal Reserve decidiu pela manutenção da taxa básica de juros dos EUA na faixa entre 4,25% e 4,50% a.a., decisão amplamente aguardada pelo mercado e pela GCB Investimentos.
Embora a leitura mais recente do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) tenha sinalizado um alívio importante ao Fed, com sinais positivos de desaceleração em fevereiro, composição mais benigna de seu núcleo e arrefecimento nos preços de serviços, a inflação tem apresentado dificuldades para convergir à meta de 2,0% e ainda permanece em um nível um pouco acima do desejado, mostrando que o estágio final do processo de desinflação tem sido bem desafiador ao Federal Reserve.
A principal autoridade monetária do planeta destacou em seu comunicado a influência do aumento das incertezas relacionadas aos potenciais impactos das políticas econômicas de Trump – fatores de risco relevantes à inflação e demais indicadores – e ao ritmo de crescimento da economia americana, uma vez que as últimas leituras de muitos indicadores têm sinalizado um enfraquecimento da atividade mais intenso do que as expectativas apontavam.
Portanto, neste contexto, o Fed deve seguir acompanhando a evolução do cenário, da política, dos indicadores e das expectativas dos agentes a cada reunião para uma melhor condução de sua política monetária, o que deve exigir uma postura ainda mais cautelosa e dependente de dados para as próximas reuniões do FOMC.
Na segunda reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil manteve sua postura firme no combate à inflação e, de forma unânime, elevou novamente a taxa Selic meta em 1,0 p.p. – em linha com as projeções da GCB Investimentos – levando a taxa básica de juros para 14,25% a.a.
A decisão foi tomada em um contexto econômico bastante desafiador, tanto no âmbito internacional quanto doméstico, marcado pelo aumento das incertezas globais e a reaceleração da inflação, pressionada por fatores internos e externos. Em fevereiro, o índice de preços oficial do Brasil (IPCA) registrou alta de 1,31%, o que levou a um avanço de 4,56% para 5,06% na leitura anualizada, ampliando sua distância à faixa superior de tolerância da meta do BC, de 4,50%.
Embora a recente valorização cambial e desaceleração da economia tragam algum alívio aos preços, o balanço de riscos permanece elevado:
- Pelo lado positivo, a desvalorização do dólar reduziu parte das pressões inflacionárias, enquanto as últimas leituras de indicadores de atividade apontam sinais de fraqueza nos setores produtivos, sugerindo que o aperto das condições financeiras já tem afetado a economia, mesmo que ainda sem um impacto mais expressivo sobre os preços.
- Do lado negativo, a autoridade monetária destacou em seu comunicado a fragilidade fiscal brasileira e o aumento das incertezas internacionais mediante as políticas econômicas de Donald Trump, pontos que devem seguir influenciando as projeções sobre a inflação e a condução da taxa básica de juros pela instituição.
Segundo o Boletim Focus, o mercado projeta um IPCA de 5,66% para 2025 e de 4,5% para 2026, horizonte relevante para as decisões do Copom. O descompasso entre a meta (3,0%) e as expectativas do mercado exige que o Banco Central mantenha uma postura cautelosa, com uma política monetária bastante contracionista, ditada pelo comprometimento na convergência da inflação à meta. O tom duro em suas comunicações tem sido importante para reafirmar esse compromisso com a estabilidade de preços e a necessidade de ajustes adicionais a fim de reancorar as expectativas. No documento, o BC antevê novo ajuste de menor magnitude em maio.
Projeção GCB Investimentos
Para os próximos meses, a trajetória da taxa Selic meta seguirá ditada pela evolução dos indicadores econômicos e das expectativas dos agentes. Diante do atual cenário, o Banco Central deve prosseguir com o ciclo de aperto monetário, promovendo novas elevações de menor magnitude em maio e junho.
Diante do panorama incerto e desafiador, mantemos a projeção de uma taxa terminal de 15,50% a.a. para a Selic. Entretanto, a recente melhora no fluxo de informações e dados – refletida nas expectativas inflacionárias – pode abrir espaço para uma estabilização dos juros em um nível um pouco inferior, considerando um contexto de desaceleração econômica projetada.