Com mais de 1.500 participantes, evento em São Paulo discutiu como a tecnologia já redefine diagnósticos, protocolos e a relação entre médicos e pacientes
O StartSe Health & Biotech Day 2025 reuniu mais de 1.500 participantes no Expo Center Norte, em São Paulo, nesta quarta-feira (20/08). Durante dez horas de conteúdo imersivo, especialistas nacionais e internacionais discutiram como a inteligência artificial, os dados em tempo real, a tecnologia e a automação estão transformando diagnósticos, protocolos, estruturas hospitalares e a relação entre médicos e pacientes.
Entre os destaques da programação, uma demonstração ao vivo do agente de saúde em inteligência artificial desenvolvido pela startup brasileira Doutor-AI. A solução apoia todo o ciclo de atendimento, desde a recepção até o pós-consulta médica. A apresentação foi conduzida por Maurício Honorato, fundador e CEO da startup Doutor-AI, e pelo jornalista Rodrigo Bocardi, evidenciando como a inteligência artificial já está transformando a prática médica, ampliando a precisão dos diagnósticos e promovendo maior eficiência no cuidado em saúde.
Na sequência, Mariana Perroni, Staff Clinical Lead – Platforms & Devices no Google, trouxe um panorama geral sobre inovação e tecnologia no mercado da saúde, destacando que os avanços digitais estão acelerando transformações profundas no setor e criando novas oportunidades para profissionais e instituições. Ela ressaltou que a saúde ainda é marcada por práticas tradicionais e pouco personalizadas, o que gera custos elevados e uma desconexão com o paciente. “A saúde é episódica e reativa. A gente tem um custo absolutamente mais elevado para cuidar das pessoas depois que elas já estão doentes. A saúde também é tamanho único, baseada no que funciona para a maioria, e não no que seria ideal para cada uma delas. E precisamos lembrar que ela não acontece só dentro do hospital e do consultório, mas também nos outros 364 dias do ano.”
Já Marcelo Meletti, Sr. Director na IQVIA, trouxe reflexões na palestra IA e RWD (Real World Data), destacando como os dados do mundo real, aliados à inteligência artificial, podem transformar processos de pesquisa, gerar insights clínicos e apoiar a tomada de decisão em larga escala. Ele ressaltou que a aplicação da tecnologia já permite antecipar diagnósticos e oferecer caminhos mais eficazes para o tratamento dos pacientes. “Já vemos parceiros da IQVIA utilizando inteligência artificial para realizar diagnósticos. Desde o início do tratamento, a IA antecipa a identificação da patologia e aponta o caminho que o paciente pode seguir para alcançar um tratamento mais eficiente — nem sempre o mais custoso, mas o mais adequado para garantir qualidade de vida.”
O executivo também chamou atenção para o impacto da IA em exames preventivos, reforçando como o uso da tecnologia pode acelerar resultados e ampliar o acesso. “Um mês de tratamento em mamografia reduz o risco de morte em 30%. Investir cerca de 5 mil reais por mês em um hospital para realizar mais de 5 mil tomografias e mamografias é muito acessível diante dos resultados. Isso mostra que a inteligência artificial, antes considerada cara para as instituições, já está disseminada e até incorporada aos próprios equipamentos médicos.”
A partir desse contexto e dos pontos levantados pelos palestrantes, a StartSe apresentou sua visão sobre a importância de ampliar o olhar para além da tecnologia, conectando aprendizados globais ao cenário brasileiro. Para Felipe Leal, sócio da StartSe, a experiência da China é um exemplo marcante de como inovação e execução podem inspirar transformações locais na área da saúde: “A China possui uma forma de executar e pensar da qual deveríamos nos inspirar e adaptar ao Brasil. É um país com um volume único, seja pelo número de pessoas, contextos culturais, sociais, políticos, econômicos ou pela sua civilização milenar. Para compreender essa China digital e inovadora, é essencial entender esses contextos. No Brasil, cada vez mais, vamos interagir com os chineses e, para isso, precisamos compreender como fazemos negócios. Existem diversos polos de inovação no país, como Xangai, Pequim, Hangzhou e Shenzhen, que já são referências mundiais em inovação, inclusive na área da saúde.
O evento também contou com a participação de Rodrigo Demarch, CIO do Hospital Albert Einstein, na palestra “IA e o Futuro da Relação com o Paciente”. Com sua experiência como médico, Demarch mostrou como a tecnologia vem redefinindo a jornada do paciente, ao mesmo tempo em que destacou a importância de preservar a humanização no cuidado, “No Einstein, realizamos mais de 100 projetos de inovação por ano, em parceria com startups. Para que isso aconteça, é essencial ter o apoio da alta liderança e criar um ambiente seguro para testar, aprender e, muitas vezes, desligar iniciativas que não avançam. Inovar em saúde exige maturidade, estrutura e coragem para errar, sempre com a certeza de que o paciente deve estar no centro de qualquer transformação”, destacou Demarch.
Encerrando a programação do dia, David Schlesinger, CEO da Mendelics, abordou o tema ‘O Futuro da Biotecnologia’, compartilhando suas perspectivas sobre os avanços em genômica, medicina personalizada e inovação científica, que prometem transformar o setor de saúde nos próximos anos. “Na era de IA, o médico que conhece a doença, o nefrologista que entende o ciclo completo, sabe do que está falando. Não é apenas sobre usar IA, o médico que utiliza a ferramenta com conhecimento se destaca sobre aquele que usa IA sem entender. O conhecimento é fundamental, e estamos vendo isso com os Vibe Coders, quando criamos programas e aplicativos. Eu, pessoalmente, tenho usado
isso constantemente”, contou Schlesinger.
Com plenária e expositores parceiros, o StartSe Health & Biotech Day 2025 trouxe como proposta a preparação de médicos, gestores, empreendedores e pesquisadores para a maior transformação já em curso na história da medicina, a integração entre saúde, biotecnologia e inteligência artificial. Além dos palestrantes destacados, o evento contou com diversos outros talentos e abordou uma programação ampla, incluindo temas como inovação, tecnologia, dados, experiência do paciente e o futuro da biotecnologia, mostrando a variedade e o alcance das transformações em curso no setor.