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Tarifas, desaceleração e riscos globais: Coface alerta para cenário “mais desafiador” até 2026

Patricia Krause, economista-chefe da Coface para a América Latina / Foto: Divulgação
Patricia Krause, economista-chefe da Coface para a América Latina / Foto: Divulgação

A combinação entre juros elevados, tensões geopolíticas e novas barreiras comerciais deve manter o ambiente econômico global sob pressão até 2026, segundo avaliação da Coface. Em entrevista ao Universo do Seguro, a economista-chefe para a América Latina, Patricia Krause, o economista regional para a Ásia, Junyu Tan, e o head de estudos macroeconômicos da companhia, Bruno Fernandes, detalham os impactos das recentes decisões comerciais dos Estados Unidos, a desaceleração esperada para o próximo ano e os riscos de aumento de insolvências no Brasil e no mundo.

Efeito das tarifas dos EUA deve ser limitado para o Brasil, mas pressiona setores industriais

A elevação de 15 pontos nos direitos alfandegários dos Estados Unidos gerou impactos distintos entre Brasil, China e Índia. No caso brasileiro, a Coface avalia que o efeito macroeconômico é restrito, já que apenas 1,8% do PIB está ligado às exportações para o mercado americano.

Segundo Patricia, o impacto macro é limitado, embora, de forma micro, alguns segmentos possam ser fortemente afetados. A redução parcial das tarifas em novembro, especialmente para carne bovina e café, diminuiu de 36% para cerca de 20%–22% a parcela da pauta exportadora sujeita às tarifas mais altas.

Entre os setores ainda expostos estão máquinas e equipamentos, calçados, têxteis, móveis, siderurgia e metalurgia. 

Na China, explica o economista Junyu Tan, a redução das exportações ocorreu em praticamente todos os setores, com um movimento de redirecionamento para países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN): “Observamos aumento das exportações de eletrônicos e automotivos para a ASEAN, possivelmente como forma de desviar do impacto tarifário. Já as categorias de mão de obra intensiva, como brinquedos e artigos esportivos, mostraram menos sinais de redirecionamento”.

O economista Junyu Tan / Reprodução / Rede social
O economista Junyu Tan / Reprodução / Rede social

Desaceleração global suave, mas vulnerável a vários gatilhos

A Coface projeta que o crescimento mundial deve cair de 2,6% para 2,4% em 2026. Apesar de parecer uma desaceleração branda, o cenário incorpora riscos relevantes.

“Se as tensões comerciais se intensificarem e os Estados Unidos ampliarem tarifas sobre parceiros importantes, como Canadá, México, União Europeia ou China, isso afetaria tanto os países atingidos quanto a própria economia americana”, afirma Bruno Fernandes. 

Outros fatores que poderiam tornar o quadro mais crítico incluem:

  • Correção nos mercados financeiros caso previsões de rentabilidade da IA sejam revistas;
  • Escalada de conflitos geopolíticos, em um cenário internacional já instável.

Brasil deve iniciar cortes de juros só em 2026, diz Coface

Mesmo com a melhora recente da inflação e da taxa de câmbio, a Coface projeta que o Banco Central brasileiro só deve iniciar o ciclo de flexibilização monetária em janeiro de 2026.

“A desaceleração da atividade, menor pressão de commodities e apreciação cambial abrem espaço para cortes. Ainda assim, as condições de crédito continuarão restritivas ao longo de 2026″, explica Patricia.

Os primeiros beneficiados devem ser construção civil e setores ligados ao consumo, mais sensíveis ao custo do crédito.

Insolvências seguem pressionadas na América Latina

A alta nas falências deve continuar até 2026, impulsionada principalmente pelo crédito caro. Brasil e Colômbia estão entre os países mais afetados.

Segundo a economista Patricia Krause, o principal fator para o aumento de recuperações judiciais são as condições de crédito. No Brasil, as taxas reais estão em 10,3%, e na Colômbia, em 3,7% (níveis que impactam empresas muito alavancadas, inclusive em setores teoricamente mais resilientes).

Geopolítica mantém empresas latino-americanas em alerta

Conflitos como Ucrânia-Rússia e Israel-Palestina, além das rivalidades entre grandes potências, afetam indiretamente empresas brasileiras e latino-americanas.

“Um dos principais canais de contágio são os preços das commodities, já que a região é grande produtora e exportadora. Apesar das tensões, os preços estão relativamente controlados pela desaceleração global e maior produção de petróleo”, observa Patricia. 

Outro ponto de atenção são os fertilizantes, já que países envolvidos em conflitos são fornecedores importantes: “A trajetória de queda dos fertilizantes foi menos intensa que a das commodities agrícolas, o que mantém o setor agro em alerta”, complementa a especialista. 

Ambiente de crédito corporativo só melhora de forma gradual

O aumento das insolvências continua uma tendência global. No primeiro semestre de 2025, o índice nas economias avançadas cresceu 4% em relação ao mesmo período do ano anterior, puxado por Europa e Ásia-Pacífico. Nos Estados Unidos, as falências atingiram o maior nível desde 2014.

“2025 tende a ser o ano em que os defaults corporativos nos EUA ultrapassam de forma perceptível os níveis pré-pandemia. Já em 2026, espera-se um abrandamento gradual”, ressalta Bruno Fernandes. 

Bruno Fernandes, head de estudos macroeconômicos da Coface / Foto: Reprodução
Bruno Fernandes, head de estudos macroeconômicos da Coface / Foto: Reprodução

Setores como hotelaria e construção civil aparecem entre os mais pressionados em diversas regiões.

Apesar da expectativa de cortes de juros e flexibilização gradual do crédito, o alívio deve ser limitado, especialmente para operações de taxa fixa.

*Redação: Amanda Jardin sob supervisão do jornalista William Anthony (MTB 94559/SP)

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