O Tesouro IPCA, título público que paga a variação da inflação medida pelo IPCA somado a uma taxa prefixada, tem chamado a atenção nas últimas semanas. Isso porque a taxa prefixada a ser paga pelo título tem girado acima de 6% de juro real, o que não é comum de se observar no mercado de renda fixa. Inclusive, um levantamento da Quantum Finance mostrou que o Tesouro IPCA+ atingiu 6% ou mais de retorno real em menos de 25% das sessões nos últimos 10 anos. O Tesouro IPCA, por ser emitido pelo governo federal, é considerado um dos papeis mais seguros do mercado.
De acordo com Octávio Gomes, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, notícias como o déficit recorde nas contas públicas e o aumento do percentual da dívida com relação ao PIB demonstrando um claro descontrole das contas públicas são fatores que contribuíram para essa alta nas taxas de juros.
“Olhando para o cenário internacional, também tem volatilidade impactando diretamente nas taxas praticadas no Brasil. Notícias como a que o Banco Central americano continua vendo o risco de manter as taxas de juros altas ou até mesmo a necessidade de subir ainda mais as taxas numa tentativa de controle da aceleração da economia americana, desencadeiam um reflexo direto na nossa economia. A somatória desses fatores aumenta a percepção de risco ao se investir nos títulos públicos do Brasil que acarretam um aumento no nível de juros futuro“, explica Gomes.
Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, explica que a atratividade dos títulos se dá porque, no caso de títulos IPCA+, é possível obter rentabilidade através do juro real, ou seja, a rentabilidade contratada reflete seu ganho real acima da inflação, protegendo o poder de compra do capital investido.
“Se olharmos o histórico de negociação dos títulos públicos, em pouquíssimos períodos de tempo, tivemos oferta de taxas reais pagando acima de 6% ao ano. Uma métrica comum ouvida como objetivo dos investidores mais conservadores costuma girar em torno de 1% ao mês de retorno nominal. Se considerarmos, por exemplo, o IPCA de fevereiro deste ano, com variação mensal de 0,83%, o investidor que teve um ganho nominal de 1% teve, em contrapartida, um ganho real de 0,17%, de forma que 83% do seu ganho foi perdido em poder de compra. Na faixa dos 6% ao ano, a rentabilidade mensal real, acima da inflação, fica em torno de 0,49%”, compartilha.
Dessa forma, segundo Kist, a atratividade do atual nível de taxas tem fundamento em dois tipos de estratégia. “Além de uma proteção do poder de compra do investidor mais conservador, garantida pelos títulos soberanos, na chamada estratégia de ‘carrego’ (levar a rentabilidade contratada até o vencimento), investir em títulos com taxas em patamares historicamente elevados também abre espaço para posições táticas, já que a tendência histórica e a própria sustentabilidade desse nível de juro real trazem uma probabilidade grande de queda dessas taxas em um futuro próximo”, comenta.
Nesse contexto de taxas altas, Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, acredita que segurar os títulos é a opção mais interessante no momento para quem já tem títulos adquiridos. “De fato as perspectivas eram de que a curva estaria em patamares melhores em 2024 com a Selic caindo, mas na nossa visão o estrutural não mudou. Juros tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos ainda estão em patamares restritivos e devem cair, talvez em intensidade menor e numa velocidade menor. Todavia, quando falamos de títulos mais longos, como não há muito prêmio adicional por prazo, preferimos títulos com vencimentos entre 8 e 12 anos”, diz Fonseca.
Gabriel Lago, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, explica que investir em Tesouro IPCA+ com taxas elevadas é ideal para metas de longo prazo, como aposentadoria ou educação dos filhos. “A rentabilidade real positiva e a proteção contra a inflação asseguram que o poder de compra do dinheiro será preservado ao longo dos anos. Além disso, como são títulos de renda fixa emitidos pelo governo apresentam baixo risco de crédito, tornando-os um componente estável em qualquer portfólio voltado para o longo prazo“, afirma.
Inclusive, para investidores que têm como objetivo alcançar o primeiro milhão, o Tesouro IPCA + 6 pode ser uma peça chave na estratégia de investimento. “Utilizar essas taxas altas para a composição de juros ao longo do tempo pode acelerar significativamente o crescimento do patrimônio. Recomendo estabelecer um plano de aportes consistentes e/ou, sempre que a taxa estiver acima de 6%, aplicar o saldo que tiver disponibilidade para aproveitar as oportunidades“, ressalta Lago.