Mariana Clark, psicóloga especializada em luto e dores no contexto corporativo, fala sobre o papel da liderança após tragédias públicas como a queda do avião da Air India
Na manhã da última quinta-feira (12), um avião da Air India sofreu um grave acidente pouco tempo depois de decolar, resultando em dezenas de mortos e feridos. Embora a tragédia tenha ocorrido do outro lado do mundo, eventos como esse reverberam globalmente e provocam uma comoção coletiva — atingindo também os ambientes de trabalho. Diante disso, cresce a importância de entender como o luto coletivo afeta o emocional das equipes e qual é o papel das empresas nesse acolhimento.
A dor coletiva, mesmo quando não envolve diretamente colaboradores ou familiares, pode provocar impactos reais no bem-estar, na produtividade e na concentração das equipes. É o que explica a psicóloga Mariana Clark, especialista em luto no ambiente corporativo. “Vivemos em rede. Quando uma tragédia como essa acontece, ela nos atravessa pela empatia, pela memória de outras perdas ou pelo simples reconhecimento da nossa vulnerabilidade. Ignorar isso nas empresas é desperdiçar a chance de fortalecer vínculos e cuidado real com as pessoas”, afirma.
De acordo com Mariana, existem formas práticas, respeitosas e acolhedoras de conduzir o momento dentro das organizações. Veja algumas sugestões:
- Reconhecer o impacto da tragédia: Um posicionamento breve e humano da liderança, seja por e-mail, reunião ou mensagem interna, pode validar os sentimentos de quem foi tocado pela notícia;
- Oferecer espaços de escuta: Criar um canal aberto para que colaboradores possam falar (ou simplesmente saber que podem falar) é uma medida simples que pode fazer toda a diferença;
- Reforçar o apoio emocional disponível: Se a empresa tem programas de saúde mental ou apoio psicológico, esse é o momento de reforçar que esses recursos estão acessíveis. Caso não tenha, é o momento para contratar um profissional que possa criar um programa para o futuro;
- Evitar a pressão por “normalidade” imediata: Acolher é também permitir que as pessoas sintam. Algumas terão dificuldade para se concentrar ou produzir como de costume e não há mal nenhum nisso;
- Formar líderes preparados para conversas difíceis: Investir em treinamentos sobre empatia, escuta ativa e saúde emocional fortalece a cultura da empresa a longo prazo.
“Em momentos de dor coletiva, o silêncio institucional pode soar como frieza. Acolher não significa resolver a dor do outro, mas reconhecer que ela existe. Isso é o mínimo que um ambiente de trabalho saudável pode oferecer”, comenta Mariana.
Segundo a psicóloga, tragédias públicas funcionam como espelhos emocionais. “Elas despertam dores que estavam adormecidas, reativam memórias de perdas pessoais, ou simplesmente nos lembram que a vida é incerta. E dentro das empresas, tudo isso se expressa — mesmo que silenciosamente”
Para líderes e empresas comprometidas com a saúde emocional de suas equipes, o momento é de escuta, cuidado e presença. Não se trata apenas de produtividade, mas de criar um ambiente onde as pessoas se sintam vistas, respeitadas e acolhidas, mesmo diante de dores que não têm nome, nem data marcada.
O luto coletivo, como explica Mariana, não precisa de vínculo direto para ser legítimo. “A dor compartilhada é uma dor reconhecida. E quando líderes se abrem para reconhecer esse tipo de dor, transformam a cultura do trabalho em um espaço mais humano, resiliente e sustentável”, finaliza.