Global Auto Outlook, da Allianz Trade, aponta que a China pode ditar o futuro do mercado automotivo global
A Allianz Trade divulgou, nesta semana, o seu mais recente relatório Global Auto Outlook, que analisa o comportamento e as tendências da indústria automotiva global. Segundo os economistas da Allianz Research, é esperado que o mercado automotivo se normalize este ano, com uma grande transformação no setor de veículos elétricos.
De acordo com a análise, os veículos elétricos (EVs) permanecem em uma posição relativamente favorável, apesar dos grandes desafios. (figura abaixo). O relatório aponta que a venda de novos veículos elétricos de passageiros ultrapasse 18 milhões (+32,8% a/a) em 2024, com a Europa liderando o consumo (+41,2%).
Já na perspectiva da produção, os economistas antecipam uma queda nas margens brutas e EBIT para 18,7% (-28pps) e 5,2% (-164pps), e uma consolidação acelerada. O aumento esperado na proporção de Pesquisa e Desenvolvimento, ou P&D, (4,5%, +14pps) e na proporção de CapEx para vendas (5,4%, +33pps) indica que os fabricantes de automóveis provavelmente diversificarão seus investimentos em veículos ICE (veículos de combustível fóssil), modelos híbridos e totalmente elétricos para continuarem ágeis no mercado em transformação.
Transformação na indústria
Os economistas analisam que a indústria automobilística global está passando por uma transformação significativa em direção aos veículos elétricos (EVs), mas o caminho à frente será turbulento, moldado por tensões geopolíticas, demanda desacelerada e incertezas regulatórias. A China emergiu como uma força disruptiva, desafiando os líderes automobilísticos tradicionais, enquanto a Europa e os EUA, preocupados com sua dependência de componentes chineses e o impacto nas indústrias locais, responderam com barreiras comerciais. A recente desaceleração na demanda por EVs, combinada com o clima regulatório e econômico incerto, complica ainda mais a trajetória de curto prazo da indústria.
“Para atingir suas ambiciosas metas climáticas e alcançar a neutralidade de carbono, os governos de todo o mundo estão promovendo ativamente a energia verde em detrimento dos combustíveis fósseis. O setor automotivo desempenhará um papel fundamental nessa transição, que dependerá do aumento do número de veículos elétricos em uso”, explicam os autores do estudo.
Nesse contexto, o atributo que define um carro está mudando gradualmente da capacidade do motor – um domínio em que as montadoras europeias, norte-americanas, japonesas e sul-coreanas se destacaram durante a era do ICE – para os recursos de bateria e software. Em meio a essa mudança estrutural, a China surgiu como uma força disruptiva, tendo investido em recursos de bateria e software por mais de uma década e tendo garantido uma posição de liderança nesses aspectos. Como resultado, o país está remodelando o cenário automotivo global com seu rápido desenvolvimento em EVs, além do seu domínio sobre toda a cadeia de suprimentos.
Veículos elétricos chineses: rumo à conquista do mercado global
Os economistas apontam ainda que os veículos elétricos chineses cresceram em um ritmo surpreendente, com as vendas e a produção aumentando quase oito vezes de 2019 a 2023. O relatório mostra que o mercado de EVs tem sido um catalisador significativo para o setor automotivo da China, com os veículos elétricos chineses comandando quase 60% das vendas globais (como mostra o gráfico abaixo) e contribuindo para mais de 60% da produção total de EVs do mundo em 2023. Esse domínio no setor de veículos elétricos ressalta o impacto substancial da China na direção futura do setor automotivo global.
Com base nesse alicerce, 2023 marcou um ano crucial para o mercado automotivo chinês mais amplo, pois as marcas nacionais garantiram pela primeira vez mais de metade do market share total. O alcance internacional das montadoras chinesas também se expandiu drasticamente, impulsionado pela intensa concorrência no mercado doméstico. Esse impulso competitivo levou a um aumento notável na exportação de carros de passeio, com os números saltando de menos de 1 milhão de unidades em 2020 para 4,4 milhões de unidades em 2023. Esse crescimento exponencial fez com que a China ultrapassasse o Japão, estabelecendo-a como o maior exportador de carros de passeio do mundo e reforçando seu papel fundamental na formação do cenário automotivo global.
Os economistas reforçam que os fabricantes chineses de veículos elétricos têm grandes vantagens de custo, graças à sua posição de pioneirismo, custos mais baixos de mão de obra e economias de escala, também se destacando pela qualidade das suas mercadorias. “Além disso, com o foco da concorrência doméstica mudando cada vez mais para tecnologias sofisticadas de veículos, como sistemas de direção inteligentes e recursos de interface homem-máquina (HMI), os fabricantes chineses de veículos elétricos estão avançando rapidamente no desenvolvimento de software. Esses avanços destacam seu foco estratégico não apenas no aumento da eficiência e da segurança do veículo, mas também na melhoria da experiência geral de direção, posicionando-os como líderes no mercado global de veículos elétricos”, explicam os economistas.
Mesmo assim, os especialistas ponderam que, embora o setor chinês de veículos elétricos tenha emergido como uma força competitiva em nível global, vários fatores apresentam riscos potenciais que podem minar a atual posição de liderança da China, incluindo uma guerra de preços cada vez maior, problemas de excesso de capacidade, aumento das tensões geopolíticas e o advento de tecnologias de bateria de última geração.