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Volta dos IPOs? Atenção para a governança corporativa

CAPEMISA, cada vez mais focada nos pilares ASG, investe na preparação de equipes multidisciplinares e cria diretoria de Governança Corporativa / Foto: Ready Made / Pexels
Foto: Ready Made / Pexels

Confira o artigo escrito por Roberto Gonzalez, consultor de governança corporativa e ESG e conselheiro independente de empresas

Os anos de 2022 e 2023 têm uma peculiaridade. No biênio, a B3 não registrou nenhum IPO, sigla em inglês que significa oferta pública inicial de ações. Isso contrasta com o que ocorreu no biênio anterior – 2020/2021 -, quando 71 empresas abriram capital na Bolsa. A expectativa do mercado é de que 2024 inaugure o retorno dos IPOs depois do longo período de jejum.

A princípio isso é bom porque são empresas que buscam recursos para crescer e os investidores podem se tornar sócios e cresceram juntos com elas. É preciso, porém, tomar muito cuidado. Nem sempre comprar ações de uma companhia no exato momento do seu IPO é a decisão mais acertada. O que aconteceu com boa parte das organizações que entraram na Bolsa entre 2020 e 2021 é uma prova disso.

Para se ter ideia, das 71 empresas que abriram capital naqueles anos, apenas 13 chegaram ao final de 2023 operando no azul. As ações de 36 delas tiveram desvalorização em torno de 50%, mas há outras cujo preço de mercado em relação ao dia do IPO caíram mais de 90%. Empresas do ramo de tecnologia foram as que mais “iludiram” os investidores e as que mais caíram. A pandemia de coronavírus acelerou o processo de digitalização e a expectativa do mercado é que comprar pela internet fosse um caminho sem volta.

Logo, plataformas de negócios online e empresas especializadas em dar o suporte tecnológico se tornaram badaladas. O preço das ações subiu, assim como a certeza de que o mercado digital só iria crescer. Mas acabou a pandemia e a previsão não se confirmou, pois o comércio presencial voltou a ter força para concorrer, no entanto, ocorreram outros problemas.

Algumas companhias não souberam investir adequadamente os recursos captados. Em geral, os planos de negócios tinham como base um cenário bem distinto do atual, com taxa Selic na casa dos 2%. Acontece que a taxa de juros, por causa da inflação, chegou a 13,75% e hoje está em 11,25%, ainda bem acima do que estava no biênio 2020/2021. Entretanto, essas possibilidades de mudanças drásticas no cenário, ao que tudo indica, não foram devidamente consideradas.

Isso me leva a crer que faltou governança por parte das empresas que abriram capital e atenção por parte dos investidores. Uma prova de que governança corporativa ainda é, para a maioria, apenas um termo bonito. Poucas empresas a implantam verdadeiramente, poucos investidores a consideram de maneira séria em suas análises.

Uma boa governança corporativa indica que a companhia planeja suas ações, seus investimentos, tem preocupação com sua lucratividade, mas, simultaneamente, está atenta aos impactos que sua atividade gera no meio ambiente e na sociedade, assim como procura atuar dentro dos preceitos legais, respeitando por completo a legislação vigente para evitar prejuízos à imagem e à saúde financeira da corporação.

Tudo isso vem acompanhado de transparência, integridade, responsabilidade sobre todas as ações e total respeito aos seus stakeholders. Aqueles que desejam comprar ações de uma companhia qualquer no momento do IPO têm de avaliar minuciosamente esses aspectos. Sob o risco de entrar em uma “roubada” como muitos entraram.

As 13 companhias que se mantiveram lucrativas e com ações valorizadas após o IPO têm em comum o fato de que pertencem a setores tradicionais da economia como o imobiliário, petrolífero e agronegócio. As demais, ao contrário, pertencem em geral a um mercado novo e ainda em fase de consolidação, que é o da tecnologia e atividades ligadas ou que dependem dela.

Essas novas empresas, tanto quanto as tradicionais, precisam adotar um bom modelo de governança corporativa. É o que dará a elas a musculatura ideal para enfrentar crises e cenários distintos. Uma gestão profissional reduz custos, investe onde é necessário e não onde o idealismo dos executivos sonha fazer. A transparência, por sua vez, dá ao investidor as condições para que seja assertivo na avaliação antes de comprar ações.

É melhor captar um pouco menos, mas contar com investidores que entendem o plano de negócios e têm paciência para esperar do que esconder o jogo, atrair mais investidores do que se podia imaginar e, da noite para o dia ver, sem nada poder fazer, a fuga deles e a consequente desvalorização da ação. Só para lembrar, há empresas que estrearam na bolsa com a ação a R$ 10 ou R$ 12 e que agora valem menos de R$ 1.

Ninguém deseja isso. Empresário, invista seriamente em governança antes de fazer seu IPO. Investidor, avalie com mais atenção os próximos IPOs para não ver seu dinheiro derreter nos meses seguintes. Parafraseando a saudosa Gal Costa, no mercado financeiro tudo parece divino e maravilhoso, mas é preciso estar atento, forte.

(*) Roberto Gonzalez é consultor de governança corporativa e ESG e conselheiro independente de empresas. É autor do livro “Governança Corporativa – O Poder de Transformação das Empresas”

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