Confira artigo de Cristián Sepúlveda Lazzaro, CEO da Silver Hub
Frequentemente, o mercado de Longevidade e as Agetechs (startups que atendem esse segmento) são associados à saúde, pois ainda há uma relação direta entre o envelhecimento e doenças. À medida que as pessoas envelhecem, as necessidades de cuidados médicos indubitavelmente aumentam. Apesar de não haver números estatísticos detalhados, os gastos com saúde podem representar entre 20% e 30% do orçamento total dos idosos.
Entretanto, essa visão que associa o envelhecimento somente às doenças está se tornando ultrapassada. Com os avanços principalmente na medicina e melhores condições de saúde e saneamento, as pessoas acima de 50 anos estão vivendo cada vez mais, com boa saúde e, consequentemente, mais ativas.
O termo ‘terceira idade” perdeu o sentido
Não seria surpreendente que, daqui a algumas décadas, a maioria dos seres humanos vivesse mais de 100 anos. No Brasil, a expectativa de vida aumenta aproximadamente 2-3 anos a cada década. Além do aumento do “lifespan” (período de vida), também aumentará o “healthspan” (tempo de vida saudável das pessoas).
Por esse motivo, utilizar o termo “terceira idade” já não faz sentido, visto que foi criado nos anos 60, quando, por exemplo, a expectativa de vida no Brasil era de aproximadamente 53 anos.
Segundo Susan Wilner Golden, professora da Stanford University, a maioria das pessoas entre 55 e 85 anos estará em uma etapa de renascimento, reavaliação e rejuvenescimento. Nesse estágio, as pessoas continuam se desenvolvendo, seja ampliando suas habilidades para se manterem atualizadas (upskilling) ou se requalificando para assumirem funções emergentes (reskilling). Muitos começam a empreender seus próprios negócios, e atividades com algum propósito, remuneradas ou não, ganham relevância. Palavra como “aposentadoria” já não faz muito sentido, já que a maioria das pessoas contínua de alguma forma envolvida em atividades produtivas.
Por exemplo, de acordo com a pesquisa “US Census State of Small Business”, nos Estados Unidos, o grupo entre 50+ e 59+ é o que possui mais empreendedores (negócios próprios) em comparação com outras faixas etárias. Além disso, os indivíduos com mais de 50 anos são responsáveis por mais de 50% do consumo e 83% das propriedades imobiliárias.
Mudaram as perspectivas
Essas transformações estão levando os seniores não só a gastarem em saúde, mas também a buscarem atividades que os mantenham ativos, como estudar, viajar, socializar e se relacionar, entre outras.
Embora muitas Agetechs estejam concentradas em cuidados de saúde, existem diversas outras áreas nas quais as tecnologias podem ser aplicadas para ajudar os idosos.
Acompanhamento e segurança é um mercado crescentes. Algumas startups desenvolvem dispositivos e aplicativos para monitorar e garantir a segurança dos idosos, como pulseiras ou colares com botões de emergência, sistemas de alarme domiciliar e câmeras de segurança inteligentes.
Além disso, existe a tecnologia assistiva, onde empresas criam dispositivos e softwares para ajudar os idosos a superar desafios diários e realizar tarefas com mais facilidade, incluindo tecnologias como bengalas inteligentes, sistemas de controle por voz e assistentes virtuais.
O sistema financeiro e bancário está começando evoluir, com a criação de ferramentas e aplicativos que facilitam o gerenciamento de finanças, investimentos, pagamentos e transações bancárias para os idosos.
Algumas startups desenvolvem plataformas e aplicativos para melhorar a conectividade e facilitar a comunicação com amigos, familiares e provedores de serviços. Essas tecnologias incluem tablets simplificados, aplicativos de chamadas de vídeo, redes sociais específicas idosos e plataformas de compartilhamento de fotos.
A moradia inteligente também está se tornando uma tendência aos que podem investir. Agetechs trazem soluções para tornar as residências dos idosos mais inteligentes e adaptadas às suas necessidades, incluindo sistemas de automação residencial, sensores de movimento, fechaduras eletrônicas, luzes controladas por voz e sistemas de controle ambiental.
Em complemento, plataformas de compras online e serviços de entrega de alimentos que facilitam a compra de produtos e mantimentos sem sair de casa.
Existem plataformas e aplicativos projetados para oferecer conteúdo educacional, cursos on-line e entretenimento adequado para os idosos, incluindo jogos de memória, exercícios cognitivos, aulas virtuais e acesso a bibliotecas digitais. Além de aplicativos e jogos projetados para melhorar a memória, estimular o cérebro e fornecer suporte cognitivo para idosos.
E por último, tecnologias que melhoram a acessibilidade e a mobilidade para idosos, como dispositivos de locomoção assistida, soluções de transporte adaptado e aplicativos de navegação para ajudá-los a se locomover nas cidades.
Essas são apenas algumas áreas em que as Agetechs estão inovando para atender às necessidades e melhorar a qualidade de vida dos idosos, além da saúde. O avanço da tecnologia tem o potencial de transformar diversos aspectos da vida das pessoas na etapa madura, trazendo à tona o real conceito da longevidade, proporcionando maior independência, segurança e bem-estar.