Taxa Selic passa a 13,25%; Analistas do mercado financeiro repercutem decisão
Nesta quarta, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu derrubar os juros em 0.50%. Com a decisão, a Selic fica em 13,25%. Abaixo, analistas do mercado financeiro comentam e repercutem a decisão.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores
Tivemos um comunicado dovish e mais neutro. Foi uma decisão bem disputada. O comitê decidiu por cortar os juros em 0.50 com o placar em 5 a 4 e a grande surpresa foi o Roberto Campos Neto votando a favor de 0.50 e não a favor do 0.25, que era sim uma decisão mais esperada pelo menos por parte dele. O mercado esperava que de fato houvesse uma dissidência em relação a decisão no qual obviamente o Galípolo e o Ailton fossem pender mais para 0.50 e os demais pender mais para 0.25, mas não foi o que aconteceu. A gente viu que outros membros decidiram abraçar a ideia de um corte de juros maior mesmo nesse início de ciclo com uma inflação ainda resiliente. Mas a maior surpresa de fato fica por conta do desempate, o Roberto Campos Netto desempatando essa decisão que foi bastante apertada.
Entre os pontos mais importantes, temos que o comitê ressalta que há uma conjuntura deflacionária e esse é um dos motivos pelos quais eles decidiram tomar a decisão. A gente tem uma desinflação na margem, mas ainda assim em alguns pontos eles ressaltam que o Banco Central ainda vai seguir com o compromisso de trazer a inflação ao redor da meta e ele deixa um sinal a respeito de uma política contracionista ainda por um período mais elevado. Essa fala dá a impressão de que não há espaço nesse momento para acelerar ainda mais a queda, ou seja, muito provavelmente vai continuar nesse pace de 0.50.
Eu acho que uma mensagem importante foi que ele tirou o trecho que fala sobre o risco fiscal e o risco de desancoragem das expectativas. Essa é uma mensagem importante e, inclusive, é uma mensagem um tanto quanto controversa porque o Banco Central deixa de considerar os riscos fiscais em um cenário no qual a gente ainda tem todas as pautas dentro do Congresso para serem encaminhadas. Então, a gente sabe que o arcabouço fiscal, a reforma tributária, o CARF e outras pautas que estão em tramitação no Congresso ainda precisam passar por uma nova etapa e ainda assim aparentemente o Banco Central desconsidera isso no seu cenário de risco. Talvez essa tenha sido uma das mensagens mais importantes, na minha visão.
De fato foi um placar bem apertado, essa mensagem com relação a riscos é uma mensagem importante e o ponto de destaque foi exatamente essa surpresa do Roberto Campos Neto acompanhando o voto do Galípolo e do Ailton seguindo por esse desempate, uma aceleração do corte da Selic.
Para mim a mensagem que fica bem clara é que o BC vai seguir em pace de 0.50. Não tem porque voltar atrás nessa decisão. Eu acho que se volta atrás, é algo que vai gerar muito mais ruído do que solução. Então, eu acho que agora, já que o Banco Central decidiu começar acelerado, eu acho que ele tem que continuar acelerado. Porque se ele desacelera, na minha visão, passa uma mensagem de não ter certeza do que está fazendo. Então, é muito pior. Isso iria gerar ainda mais volatilidade para o mercado.
Fabio Louzada, economista, analista CNPI, planejador financeiro CFP®️ e fundador da Eu me banco, que capacita e forma profissionais para atuação na área de investimentos
O mercado estava na expectativa de saber se o voto de Galípolo e Ailton teriam divergência em relação ao voto de Roberto Campos Neto, que na verdade foi quem teve o voto de minerva para a decisão de queda de juros em 0.50. Na minha visão, isso é importante porque mostra que as opiniões estão convergindo, o que fica mais fácil para tomada de próximas decisões.
Outro destaque é que abrem a porta para cortes altos de 0.50 nas próximas reuniões. Isso deve impactar bastante o mercado. Parte do mercado já precificava queda de 0,50, mas acredito que a maior parte mesmo esperava pelo corte de 0.25, então de fato pegou de surpresa sim. Foi um corte arrojado que mostra que tem espaço para cortar mais porque a inflação está acomodada, a inflação de fato está baixa.
É claro que há preocupação com a inflação de serviços, então isso é citado, porém o relatório Focus já fala numa inflação de 4,8% para o final do ano. O teto da meta é 4,75% considerando que a meta é 3,25%. Ou seja, a projeção da inflação já está bem perto do teto da meta e isso faz com que o Banco Central tenha confiança para começar a cortar esses juros nessa magnitude.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos
Na minha visão, o tom do comunicado foi bem melhor do que eu esperava, bem mais leve que os últimos comunicados. Redução foi em 50 pontos base, acima do que eu esperava, levando em consideração toda a política mais rígida do Banco Central em relação à demora de redução da taxa Selic. E mesmo assim, nesse caso foi acima do esperado, na minha visão, ainda que boa parte do mercado estivesse projetando essa queda. O tom foi muito positivo porque o texto diz que de acordo com as próximas divulgações de dados de inflação e atividade econômica como um todo, o Banco Central afirmou que vai continuar reduzindo a Selic para poder convergir com a inflação. E isso é muito bom.
Então com isso a gente tem uma expectativa boa para as próximas quedas, já que não deixou isso em aberto. Se os dados vierem bons, a Selic vai continuar caindo. Então, gostei muito. Achei muito prudente a decisão. Foi uma votação disputada, o comitê ficou bem dividido, mas é positivo que o próprio presidente do BC votou a favor da queda de 50 p.p.
Agora o futuro vai depender dos dados que vierem. Então, do mesmo jeito que o Brasil, na minha opinião, fez um trabalho muito bom de começar essa alta antecipada, o Brasil agora também começa essa queda antecipada. Nos últimos relatórios do Boletim Focus, a projeção do PIB é maior, a projeção de inflação é menor. Então, acredito que estamos no rumo de queda de juros que veio para ficar de fato.