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Burnout: Dificuldade em diagnóstico é desafio para identificação e tratamento da síndrome

Burnout digital: Os mitos do mercado corporativo que permeiam a doença / Foto: Nubelson Fernandes / Unsplash Images
Foto: Nubelson Fernandes / Unsplash Images

A condição atinge 18% dos profissionais brasileiros, segundo pesquisa realizada pela Gattaz Health com mais de 100 mil trabalhadores

Neste momento, cerca de 20% dos profissionais brasileiros apresentam exaustão física, mental e emocional resultante de um estresse prolongado e intenso. Esses são sintomas do Burnout, uma síndrome que acomete aproximadamente 1 em cada 5 pessoas que estão no mercado de trabalho, de acordo com pesquisa conduzida pela Gattaz Health (GHR) com mais de 100 mil profissionais de grandes empresas.

O psiquiatra e Chairman da GHR, Dr. Wagner Gattaz aponta ser positivo o crescente interesse público no tema Burnout. Contudo, ele observa que ainda ocorrem equívocos em sua conceituação. Comumente confundido como uma doença, o Burnout foi incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID-XI)i como um ‘Fenômeno Ocupacional’, no capítulo que trata do uso de serviços de saúde. “O Burnout não é classificado como uma doença ou condição de saúde, mas sim como uma síndrome que ocorre no ambiente de trabalho. Na mesma categoria dele estão a pobreza e o sedentarismo”, comenta o médico psiquiatra e CEO da Gattaz Health.

Os especialistas explicam que o termo síndrome corresponde a um conjunto de sinais e sintomas observáveis em vários processos patológicos diferentes e sem uma causa específica. Diferentemente de uma doença que, geralmente, tem um agente etiológico conhecido, sintomas mais ou menos comuns e terapêutica definida.

Historicamente, o Burnout foi descrito como uma fraqueza dos nervos, a neurastenia. A menção à palavra data de 1881 e era descrita como uma consequência do progresso civilizatório – apontando como causas o aumento da velocidade de deslocamento; de produção e obsolescência do conhecimento; do volume exacerbado de informações; e da impossibilidade de se desligar do trabalho. Tais sintomas possuem paralelos com o momento contemporâneo, contudo a evolução científica sobre o tema depurou os aspectos de origem e manifestação da síndrome.

Segundo o psiquiatra, o Burnout ocorre em três dimensões: esgotamento emocional (falta de energia, cansaço), despersonalização (atitudes negativas em relação às pessoas, descaso pelas relações sociais, distanciamento das pessoas, descrença em valores positivos das pessoas como honestidade e integridade) e insatisfação pessoal consigo mesmo e com o trabalho (autoavaliação negativa de produtividade, sentimento de incompetência e de incapacidade para interagir com outras pessoas), além de outros sintomas como dor de cabeça frequente, alterações no apetite, insônia,  alterações repentinas de humor, fadiga, hipertensão, dores musculares etc. Na corporação, o Burnout pode ser evidenciado por diminuição do desempenho no trabalho, aumento da irritabilidade, desconexão emocional e exaustão aparente.

“Tais sintomas se aplicam a uma variada gama de transtornos mentais, desde depressão leve; transtornos de ansiedade; transtorno de adaptação ou transtorno de ajustamento. Eu chamo a atenção para este diagnóstico diferencial, pois traz características muito semelhantes ao Burnout. Contudo, os sintomas se aplicam a qualquer área da vida do indivíduo, inclusive o trabalho, enquanto o Burnout se refere a estressores presentes apenas no trabalho”, salienta Dr. Gattaz.

O especialista destaca que o risco do Burnout surge da interação de fatores individuais com elementos do ambiente de trabalho. Comportamentos como perfeccionismo, ser uma pessoa excessivamente ambiciosa e que ter dificuldade em delegar tarefas, podem indicar indivíduos mais suscetíveis a desenvolver essa condição. Na esfera laboral, os fatores de risco psicossociais são marcados por comunicação deficiente, instruções conflitantes e falta de feedback positivo; baixa autonomia; caraterísticas das demandas, como excessivo volume de trabalho, responsabilidade crescente e pressão de tempo; e baixo suporte social, manifestado por distanciamento afetivo de superiores hierárquicos e colegas de trabalho.

A desordem emocional em questão não apenas afeta os indivíduos, mas também tem um impacto significativo nas organizações. Além do custo financeiro associado ao aumento do presenteísmo, absenteísmo e à rotatividade de funcionários, o Burnout pode afetar o clima organizacional, prejudicar a produtividade e afetar a reputação da empresa.

O mapeamento recorrente da qualidade da saúde mental pode ser um instrumento de identificação e mensuração do impacto do Burnout numa corporação. Os tratamentos podem ocorrer por meio de medicamentos, psicoterapia, tratamento clínico, orientação familiar e medicina do estilo de vida.

Referências: Burn-out an “occupational phenomenon”: International Classification of Diseases (who.int)https://www.who.int/news/item/28-05-2019-burn-out-an-occupational-phenomenon-international-classification-of-diseases.

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