Desde 2018, está aprovado no Brasil o uso de canetas emagrecedoras. A caneta serve para o controle de diabetes, mas também é usada no tratamento de pessoas obesas ou com sobrepeso. As canetas emagrecedoras possuem diversos efeitos colaterais – que, inclusive, impactam a saúde bucal, em especial a saliva.
A integrante do Grupo de Trabalho de Saliva Dra. Débora Heller explica que medicamentos como a semaglutida (caneta emagrecedora) têm sido associados a alterações salivares significativas, boca seca (xerostomia e hipossalivação), saliva espessa e espumosa, sensação de ardência na língua e halitose.
“Casos clínicos publicados recentemente relatam boca seca significativa em pacientes em uso de caneta, sem outras causas sistêmicas aparentes. No consultório, temos observado esse mesmo padrão, com queixas crescentes entre pacientes em uso das chamadas canetas emagrecedoras”, pontua a cirurgiã-dentista.
A profissional ressalta que o cirurgião-dentista tem um papel fundamental na prevenção e manejo dos efeitos colaterais orais desses medicamentos. É importante que o paciente passe por um protocolo de avaliação salivar. A partir disso, o plano e o cuidado serão individualizados, o que inclui a educação do paciente, explicando os efeitos do medicamento na saliva e no hálito, orientação sobre hidratação e uso de estimulantes salivares naturais ou com xilitol, prescrição de dentifrícios com flúor e enxaguante sem álcool, uso de saliva artificial, quando necessário, a raspagem ou escovação suave da língua para controle de halitose e conforto, além de monitoramento periódico entre 3 e 6 meses.
Sobre a saliva, a especialista esclarece que esse fluido desenvolve um papel-chave na manutenção da saúde bucal, com impacto direto no bem-estar geral dos pacientes. A presença da saliva é necessária para a proteção dos tecidos orais e para facilitar as funções que acontecem na boca. A saliva mantém a cavidade oral limpa, facilita a mastigação e deglutição dos alimentos, protege os tecidos bucais contra agressões físicas e microbianas, além de manter o pH neutro e controlar a desmineralização dos dentes.
A Dra. Débora Heller alerta que a saliva exerce uma função protetora essencial contra a cárie e lesões não cariosas, problemas comuns em pacientes com hipossalivação. A redução da saliva afeta diretamente a saúde dos tecidos orais e a qualidade de vida dos pacientes, que relatam dificuldades para comer, engolir, falar, usar próteses e manter uma boa higiene oral. Além disso, pacientes com boca seca enfrentam ulcerações, sensação de queimação e infecções frequentes (como a candidíase), impactando negativamente sua saúde e bem-estar.
Por outro lado, o excesso de saliva, denominado hipersalivação, pode causar desconforto funcional e social, dificultar a fala, deglutição e favorecer lesões periorais. Também pode estar relacionado a alterações neurológicas, uso de medicamentos e outras causas.
“O ideal é que o paciente passe por um protocolo validado de avaliação salivar, que pode ser o exame clínico de secura oral, questionário de xerostomia, e teste de fluxo salivar (em repouso e estimulado) e pH salivar “, salienta a especialista.
“A caneta emagrecedora não é a vilã, mas sem acompanhamento clínico, pode comprometer a saúde bucal silenciosamente. É papel do cirurgião-dentista estar atento às mudanças no estilo de vida, uso de medicamentos e novas tendências de saúde e estética. A saliva é uma ferramenta valiosa, acessível e baseada em ciência — capaz de guiar um cuidado mais seguro, preventivo e individualizado”, finaliza a integrante do Grupo de Trabalho do CROSP.