Nos últimos dias, São Paulo tem sido palco de incidentes envolvendo incêndios em edifícios comerciais, destacando a urgente necessidade de garantir a segurança contra incêndios nas empresas e nos espaços compartilhados. No dia 27 de outubro, um incêndio de grandes proporções atingiu um prédio comercial no bairro do Brás, na zona leste da cidade. Felizmente, não houve vítimas. Esse caso ilustra a imprevisibilidade e a gravidade desses incidentes.
No dia 5 de novembro, outro incêndio foi registrado em um prédio comercial na Rua Itapeva, na região da Avenida Paulista. O foco inicial foi rapidamente localizado pelos bombeiros, que trabalharam para controlar as chamas e reduzir a fumaça.
Esses casos são apenas exemplos recentes, mas são suficientes para alertar sobre a importância de se adotar medidas preventivas e eficazes para evitar tragédias em prédios comerciais. Tatiana Gonçalves, CEO da Moema Medicina e Segurança do Trabalho, destaca a relevância de uma preparação adequada para esses cenários. Segundo ela, “não basta apenas cumprir as obrigações legais; é fundamental ter uma abordagem preventiva que envolva treinamento constante, atualização de equipamentos e a criação de uma cultura de segurança entre os colaboradores”.
Brigada de incêndio: a Norma Regulamentadora 23
A Norma Regulamentadora 23 (NR-23), que estabelece as diretrizes sobre segurança contra incêndios, tem como objetivo garantir que as empresas adotem práticas adequadas para prevenir e combater incêndios. Para Tatiana Gonçalves, a formação de uma brigada de incêndio bem treinada é um passo essencial: “A brigada de incêndio precisa estar pronta para atuar nas três frentes principais: evacuação, acionamento dos bombeiros e combate inicial ao fogo. Isso envolve não só saber como operar extintores ou abrir mangueiras, mas também agir de maneira coordenada e calma em momentos de pânico”.
Tatiana explica que o número de integrantes da brigada depende do porte da empresa e da planta do prédio. “Em um edifício de seis andares, o cálculo para definir a quantidade de brigadistas será diferente de um prédio de uma única sala. O importante é que a formação seja proporcional ao risco que o local oferece”, afirma. Além disso, é essencial que todos os membros da brigada de incêndio recebam treinamento contínuo, incluindo simulações práticas de incêndio, para estarem preparados para agir de forma eficiente.
A importância da manutenção de equipamentos
No entanto, a formação da brigada de incêndio não é o único ponto crítico na prevenção. A manutenção e a adequação dos equipamentos de combate ao fogo também são essenciais para garantir a segurança das empresas. “Muitas empresas cometem o erro de deixar de lado a validade dos extintores ou de adquirir equipamentos inadequados para as suas necessidades específicas”, alerta Tatiana Gonçalves. Ela dá um exemplo comum: “Não adianta ter um extintor de água perto de um painel elétrico. O ideal nesse caso é o extintor de pó químico. A escolha errada pode ser fatal”.
Além disso, a negligência com as manutenções periódicas pode resultar na inutilização dos equipamentos no momento mais crítico. “Em algumas situações, a manutenção de extintores é negligenciada, o que pode comprometer sua eficiência durante um incêndio. Não é apenas uma questão de cumprimento das normas, mas de garantir que os equipamentos funcionem quando realmente forem necessários”, explica Tatiana.
Documentação legal e o AVCB
Outro aspecto essencial no controle de incêndios em empresas é a obtenção da documentação legal exigida pelos órgãos competentes, como o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros). “Esse documento atesta que o edifício cumpre todas as normas de segurança contra incêndio e pânico, e sua ausência pode dificultar a obtenção de seguros, além de ser um grande risco em caso de incêndio”, alerta Tatiana Gonçalves.
De acordo com a legislação, empresas com mais de 750 metros quadrados devem obter o AVCB, enquanto aquelas com área inferior a esse valor devem providenciar o CLCB (Certificado de Licenciamento do Corpo de Bombeiros). “Essa documentação não é apenas uma formalidade. Ela é essencial para garantir que as instalações estejam adequadas à segurança contra incêndio”, pontua Tatiana.
Além disso, ela destaca a importância de manter a documentação atualizada. “Um AVCB ou CLCB vencido pode trazer complicações, especialmente no caso de acionamento do seguro. As seguradoras exigem que a empresa esteja em conformidade com todas as normas para garantir a cobertura”, observa a CEO da Moema.
Responsabilidade compartilhada em prédios comerciais e residenciais
A responsabilidade pela segurança contra incêndio também envolve a dinâmica entre as empresas e os edifícios onde elas operam. Quando uma empresa ocupa uma unidade dentro de um prédio comercial, a responsabilidade pela brigada de incêndio e pela manutenção dos sistemas de segurança pode ser compartilhada entre a administração do prédio e as empresas locatárias.
Tatiana Gonçalves explica que, nos casos de conjuntos comerciais, “a brigada de incêndio pode ser de responsabilidade do próprio prédio, mas é importante que cada empresa verifique se essa equipe está bem treinada e se os equipamentos de segurança são adequados para o seu tipo de atividade. Muitas vezes, a gestão do prédio assume a responsabilidade pela brigada, mas a empresa precisa garantir que suas instalações e protocolos também estejam em conformidade”.
Os recentes incêndios em São Paulo servem como um alerta para empresas de todos os portes sobre a importância de se preparar para situações de emergência. De acordo com Tatiana Gonçalves, “ter uma brigada de incêndio treinada, manter os equipamentos em perfeito estado e garantir que a documentação esteja regularizada são passos fundamentais para evitar tragédias e prejuízos financeiros”. Ela ainda enfatiza que “a prevenção não deve ser encarada como um custo, mas como um investimento na segurança de todos”.
Portanto, mais do que cumprir as obrigações legais, é preciso adotar uma postura proativa e garantir que os colaboradores e o patrimônio da empresa estejam protegidos contra os riscos de incêndio. “Investir em segurança é um compromisso com a vida e com a integridade da empresa”, conclui Tatiana.