Organização Mundial de Saúde estima que o número de pessoas com demência no mundo pode triplicar e chegar a 150 milhões até 2050
Mais de 1,7 milhão de brasileiros com mais de 60 anos convivem com algum tipo de demência, segundo dados da revista Pesquisa FAPESP e do Ministério da Saúde¹. Especialistas alertam que o envelhecimento da população, aliado à dificuldade de identificação precoce do distúrbio, contribui para o avanço da doença e para a perda progressiva da independência dos pacientes. Além do impacto local, a dimensão global da condição chama atenção. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente, mais de 57 milhões de pessoas vivem com demência no mundo, número que pode saltar para 78 milhões até 2030.
As projeções de longo prazo são ainda mais preocupantes: até 2050, a quantidade de indivíduos afetados por quadros de demência pode triplicar, chegando a aproximadamente 150 milhões. Tal condição está entre as principais causas de incapacidade em idosos e figura também entre as maiores responsáveis por mortes em escala global².
“As doenças neurodegenerativas são enfermidades incuráveis que levam à degeneração progressiva ou à morte das células nervosas. Esse processo causa dificuldades de movimento e no funcionamento cerebral, problemas conhecidos como demências. Estas constituem a principal manifestação das doenças neurodegenerativas, sendo o Alzheimer a mais comum dentre elas, responsável por cerca de 60% a 70% dos casos”, afirma a dra. Lívia Avallone, patologista clínica do laboratório Sérgio Franco, da Dasa.
Segundo a médica, a condição deixa uma espécie de “marca” no cérebro: a proteína beta-amiloide, que se acumula e prejudica a atividade dos neurônios. No entanto, quanto maior for o estímulo e a atividade cerebral, maiores são as chances de retardar o início da doença e seus sinais.
Diagnóstico e detecção precoce
No Brasil, estima-se que mais de 70% dos casos de demência ainda não foram identificados, o que dificulta o acesso a tratamentos e estratégias de cuidado adequados.2 De acordo com o dr. José Leite, especialista em medicina nuclear da CDPI, também da Dasa, a forma habitual de rastrear o Alzheimer, por exemplo, se dá por meio de consulta, exames clínicos, testes cognitivos e o relato de pacientes e familiares, porém, nem sempre essa abordagem consegue oferecer a precisão necessária para confirmar a presença da doença ou não.
Nesse contexto, os exames de imagem desempenham um papel central na identificação desse tipo de demência e na definição dos tratamentos adequados. O especialista explica que um novo teste, o PET amiloide com florbetabeno, ajuda a detectar o Alzheimer mais cedo. “Ele funciona da seguinte maneira: um medicamento radioativo (radiofármaco) é injetado no paciente. Esse composto se liga à proteína beta-amiloide, responsável por formar placas no cérebro características da doença. Dessa forma, o exame consegue medir a quantidade dessas placas, o que permite identificar uma das principais características biológicas do Alzheimer e, consequentemente, auxiliar no diagnóstico.”
Além disso, também é possível identificar a presença de beta-amiloide por intermédio de exame laboratorial. Segundo a dra. Lívia Avallone, o exame de sangue de alta sensibilidade reconhece algumas proteínas beta-amiloide – a 40 e a 42 – na amostra, bem como a proteína Tau, que já existe normalmente no cérebro, mas que, em pacientes com Alzheimer, sofre alterações patológicas e se transforma em uma espécie de emaranhados que levam à disfunção e morte das células cerebrais.
“Cabe ao médico que acompanha o paciente decidir qual exame é mais indicado para a avaliação de seu quadro. Quanto antes a condição é identificada, maiores são as chances de preservar a autonomia e a qualidade de vida do paciente”, comenta.
Segundo a especialista, o crescimento acelerado da população idosa no Brasil contribui diretamente para o aumento dos casos de demência. Por isso, estratégias que favoreçam a detecção precoce desse tipo de condição são fundamentais, permitindo planejar cuidados contínuos e intervenções que retardem a progressão da doença.
“Com o aumento da longevidade, cresce também a importância de acompanhar os pacientes de forma sistemática. Ferramentas como os exames de imagem permitem identificar alterações ainda na fase inicial, apoiando profissionais e familiares na organização de tratamentos e cuidados que façam diferença na vida diária do paciente”, complementa a dra. Lívia Alvallone.