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Denúncia: Golpes virtuais prejudicam trabalhadores, transportadoras e corretoras de seguros

Denúncia: Golpes virtuais prejudicam trabalhadores, transportadoras e corretoras de seguros / Imagem ilustrativa gerada por Inteligência Artificial
Imagem ilustrativa gerada por Inteligência Artificial

Criminosos estão explorando a credibilidade de empresas reconhecidas de logística e seguros para aplicar golpes sofisticados. Transportadoras como a Jadlog e corretoras de seguros como a Genebra Seguros vêm sendo alvo de páginas falsas na internet e perfis fictícios em redes sociais, que usam indevidamente seus nomes, logotipos e identidade visual para enganar vítimas desavisadas. Os golpistas criam sites clonados e contas falsas que simulam comunicações oficiais – seja via e-mail, Facebook, Instagram ou WhatsApp – com o objetivo de promover ofertas de emprego inexistentes, além de cobrar taxas indevidas.

As tentativas de fraude se intensificaram com o crescimento do comércio eletrônico e da digitalização de serviços. Empresas logísticas ligadas ao e-commerce reportaram um aumento alarmante dessas práticas em 2024-2025, com criminosos diversificando táticas de phishing (roubo de dados) e estelionato financeiro. Segundo Bruno Tortorello, CEO da Jadlog, são comuns os e-mails e SMS falsos que imitam comunicados de entrega, pedindo ao usuário para clicar em links ou baixar supostos comprovantes – tudo para roubar dados ou induzir pagamentos de tarifas extras que não existem. As quadrilhas também publicam anúncios enganosos, supostamente promovidos por transportadoras, para atrair compradores e aplicar golpes de pagamento adiantado. Nada disso é legítimo, mas a encenação bem elaborada pode iludir consumidores e até profissionais do setor.

Falsas vagas de emprego e “agregamento” de frota

Um dos golpes mais prevalentes explora a necessidade de emprego. Criminosos criam perfis falsos nas redes sociais se passando por departamentos de recrutamento de transportadoras, oferecendo vagas para motoristas ou oportunidades de “agregar veículos” à frota. Na Jadlog, por exemplo, golpistas criaram contas com nomes como “jadlog_nordeste”, “jadlog_sul” ou “jadlog_mg”, copiando posts do Instagram oficial para ganhar credibilidade. Esses perfis chegam a atrair candidatos a ponto de alguns aparecerem presencialmente na empresa prontos para trabalhar – só então descobrem que as vagas nunca existiram.

O modus operandi envolve anunciar “Estamos agregando” motoristas autônomos, e após fisgar o interessado, exigir o pagamento de um suposto seguro ou taxa de inscrição para efetivar a contratação. No golpe contra a Jadlog, o valor inicial do “seguro” era em torno de R$ 150, mas logo os falsários pediam pagamentos adicionais, alegando novas taxas – houve vítimas pagando entre R$ 899 e R$ 4 mil. Tudo é feito via WhatsApp ou mensagem privada, com os golpistas se passando por recrutadores. Empresas como a Jamef Transportes também tiveram seu nome usado em falsas seleções: a Jamef alerta que existem perfis golpistas cobrando taxas para agregar veículos ou prometer empregos, algo que a empresa jamais faz. Nenhuma transportadora séria cobra qualquer valor de candidatos a emprego ou parceiros de frete, enfatizam os porta-vozes dessas empresas.

Os danos vão além do prejuízo financeiro. A Jadlog identificou mais de 100 vítimas desse golpe de falsas vagas apenas em 2023. Algumas chegaram a viajar até filiais acreditando na contratação, enquanto outras forneceram dados pessoais sensíveis aos criminosos. Diante da proliferação desses perfis, a Jadlog notificou o Grupo Meta (dono do Instagram e Facebook) para remoção das contas fraudulentas, mas inicialmente a plataforma respondeu que os perfis “não violavam as diretrizes” e nada fez. A transportadora então recorreu à Justiça, obtendo uma liminar em maio de 2023 que determinava a exclusão imediata dos perfis sob pena de multa diária. Mesmo assim, a Meta demorou a cumprir – as contas só saíram do ar em 20 de junho de 2023, após acúmulo de multa e pressão da imprensa. A Justiça acabou condenando o Instagram por negligência, e a Jadlog manteve o processo para reparação de danos morais.

Cobranças indevidas e phishing via WhatsApp e e-mail

Exemplo de mensagem fraudulenta no WhatsApp, em que golpistas usam o nome e logo da Jadlog para exigir uma “taxa” fictícia de entrega. Na mensagem, enviada de um número business falso, constam dados reais da vítima (nome, CPF, endereço) e um link que leva a um site clonando páginas oficiais, induzindo o pagamento via PIX / Reprodução
Exemplo de mensagem fraudulenta no WhatsApp, em que golpistas usam o nome e logo da Jadlog para exigir uma “taxa” fictícia de entrega. Na mensagem, enviada de um número business falso, constam dados reais da vítima (nome, CPF, endereço) e um link que leva a um site clonando páginas oficiais, induzindo o pagamento via PIX / Reprodução

Outra vertente desses golpes foca em cobranças indevidas relacionadas a entregas e encomendas. Nessa modalidade, a vítima recebe comunicados falsos informando uma suposta taxa pendente – geralmente apresentada como taxa de entrega, taxa alfandegária ou “Taxa EMEX (Emergência Excepcional)” – necessária para liberar um pacote retido. Os estelionatários costumam enviar mensagens por WhatsApp (às vezes criando grupos inteiros se passando por canais oficiais da transportadora) ou por e-mail/SMS, alegando que se a taxa não for quitada o objeto não será entregue e haverá consequências (como multas da Receita Federal ou bloqueio do CPF por sonegação). É uma atualização do conhecido “golpe dos Correios”, agora usando nomes de empresas privadas de logística para dar veracidade.

Um caso relatado recentemente mostrou o grau de sofisticação desse golpe: a vítima recebeu uma mensagem via WhatsApp supostamente da Jadlog, contendo seu nome completo, CPF e endereço – dados corretos obtidos ilegalmente – e um link para pagamento de uma taxa alfandegária inexistente. Ao clicar, o site fraudulento pedia a inserção do CPF e então exibia mais informações pessoais (como data de nascimento), tudo para ganhar a confiança do usuário e levá-lo a pagar via PIX um boleto falso. Programas maliciosos geravam até QR Codes para facilitar a transferência, direcionando o dinheiro para contas de laranjas em fintechs.

Esse novo golpe da “taxa de entrega” explodiu no final de 2024. Um estudo de cibersegurança identificou mensagens em massa via WhatsApp convocando pessoas a regularizar uma suposta Taxa EMEX, sob ameaça de pendências fiscais. As autoridades emitiram alertas: em novembro de 2024, o Ministério Público de Mato Grosso divulgou nota conjunta com especialistas de segurança chamando atenção para esse golpe, orientando usuários a desconfiar de cobranças enviadas por grupos de WhatsApp e jamais clicar em links suspeitos ou pagar boletos de origem duvidosa. A recomendação é sempre confirmar diretamente com a transportadora pelos canais oficiais se há alguma pendência, antes de qualquer pagamento. Vale lembrar que nenhuma empresa legítima notifica débitos exigindo pagamento imediato via link de chat, muito menos ameaçando CPF de clientes – essas são características claras de fraude.

Investigações policiais e medidas contra os golpes

A escalada dessas fraudes mobilizou empresas e autoridades. A Jadlog informou que comunicou os fatos à Polícia Civil de São Paulo e está colaborando com as investigações para identificar os responsáveis pelos perfis falsos em seu nome. A expectativa é chegar aos criadores das contas e sites fraudulentos – muitas vezes quadrilhas interestaduais – para responsabilizá-los criminalmente por estelionato, falsidade ideológica e associação criminosa. Embora até o momento não tenham sido divulgadas prisões específicas ligadas aos golpes da Jadlog, a Polícia Civil paulista já instaurou inquérito e recolhe denúncias das vítimas com apoio da empresa. Em outros estados, delegacias especializadas em crimes cibernéticos monitoram os grupos que aplicam golpes de falso emprego e falso leilão, cruzando dados de boletins de ocorrência. O Ministério Público também age: promotores de defesa do consumidor vêm emitindo alertas públicos e pressionando plataformas online a removerem páginas enganosas assim que denunciadas.

Empresas de cibersegurança estão atuando em conjunto com as autoridades. Pesquisadores da Kaspersky e outras firmas vêm rastreando os domínios usados nos golpes – no caso da “taxa de entrega” via WhatsApp, identificou-se pelo menos um site fraudulento ativo e foram solicitados os bloqueios de outros URLs semelhantes antes que causem danos.

No âmbito jurídico, a primeira grande vitória veio contra as plataformas digitais: tanto na ação movida pela Jadlog quanto em decisões similares, a Justiça brasileira deixou claro que redes sociais têm responsabilidade em remover perfis falsos que visam fraude, sob pena de multa. Essa jurisprudência coloca pressão sobre Facebook, Instagram e companhia para reagir mais prontamente às denúncias de empresas lesadas. Entretanto, as investigações mostram que os verdadeiros criminosos se aproveitam do anonimato relativo da internet, usando e-mails genéricos e números de celular pré-pagos para dificultar o rastreamento. Muitos dos pagamentos são via PIX para contas de terceiros (os “laranjas”), tornando a recuperação dos valores mais difícil – embora o Banco Central já disponibilize mecanismos como o Mecanismo Especial de Devolução (MED) para tentar estornar quantias em casos de fraude, conforme orientado pela própria Genebra Seguros em guia às vítimas.

Para Guilherme Silveira, CEO da Genebra Seguros, a ação dos criminosos revela um padrão organizado e persistente. “Realmente são muito profissionais. Eu acredito que essa quadrilha atua há bastante tempo, mudando de corretora ou transportadora conforme o alvo”, revela. Ele conta que os estelionatários já utilizaram nomes como Mercado Livre, São Miguel Transportes e até variações como “Jadilog”. Em alguns casos, segundo Silveira, as vítimas chegam a ser cobradas em até R$ 4 mil por supostos seguros obrigatórios — um valor elevado, que escancara a audácia do golpe. “Eles deixam muitos rastros. Se houver uma investigação bem feita e engajamento nas investigações, dá pra chegar neles”, conclui.

Suspeitos mudam forma de agir, mas costumam exigir pagamentos antecipados em nome de empresas existentes / Reprodução
Suspeitos mudam forma de agir, mas costumam exigir pagamentos antecipados em nome de empresas existentes / Reprodução
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Novos padrões de golpe em 2025 e alertas ao público

Neste ano de 2025, os golpes continuam evoluindo e exigem atenção redobrada. Observa-se uma profissionalização maior dos estelionatários digitais, que atuam de forma multicanal: começam com um anúncio no Facebook, conversam por Instagram Direct, migram a vítima para o WhatsApp e finalizam o golpe em um site clonado – tudo encadeado. O uso de dados vazados (como CPFs, endereços e até informações de compras reais) tornou-se rotina para dar verniz de autenticidade às abordagens. Também surgem iscas sazonais: por exemplo, no início do ano, quando cresce a busca por emprego, proliferam as falsas vagas; já na temporada de compras online, intensificam-se as mensagens sobre entregas e taxas. Em 2025, uma tendência detectada é a criação de grupos de WhatsApp inteiros se passando por canais oficiais – os golpistas adicionam dezenas de contatos e disparam ali uma “comunicado urgente” da empresa X, pegando várias pessoas de uma vez. Isso requer que as vítimas estejam ainda mais alertas, pois a mensagem em grupo pode parecer ter outras pessoas “confirmando” a história, quando na verdade todos os membros foram enganados simultaneamente.

Diante desse cenário, as empresas afetadas têm reforçado comunicados públicos de alerta. A Jadlog, em suas redes oficiais, divulga regularmente avisos como: “A Jadlog não solicita pagamentos por WhatsApp, e-mail ou redes sociais, tampouco realiza vendas diretas ou cobra taxas adicionais por canais não oficiais”. O mesmo vale para processos seletivos. A Genebra Seguros publicou um alerta de fraude em maio de 2024, informando que “está circulando um site falso e comunicações fraudulentas em nome da empresa, oferecendo seguros de carga e rastreadores ou cobrando por credenciamento” – algo que a corretora jamais faz. Essas orientações oficiais ajudam potenciais alvos a reconhecerem a tentativa de golpe antes de serem lesados.

Por isso, os internautas devem desconfiar de ofertas boas demais e procedimentos fora do comum. Propostas de emprego que exigem pagamento antecipado ou cobranças inesperadas são sinais quase certos de fraude. A recomendação unânime de especialistas, autoridades e das próprias empresas é: verifique sempre pelos canais oficiais. Em caso de dúvida, entre no site legítimo da empresa (digitando o endereço você mesmo, não clicando em links) ou telefone para o SAC oficial – assim você confirmará se aquela comunicação é real. Caso identifique um golpe, denuncie imediatamente: reportando o perfil nas redes sociais, registrando um boletim de ocorrência na polícia e informando a empresa lesada. Somente com informação e ação rápida será possível frear esses criminosos digitais. Como resume Alexandro Strack, diretor de TI da Jadlog: “As pessoas precisam estar alertas para não serem enganadas por criminosos cada vez mais audaciosos”.

Em outras palavras, cautela e verificação são as melhores armas contra a fraude online – e juntos, consumidores, empresas e autoridades podem impedir que esses golpes façam novas vítimas.

  • Se você foi vítima ou tem informações sobre o caso, entre em contato com nossa redação. Esta reportagem seguirá em atualização conforme novas provas e vítimas forem identificadas. Nosso e-mail é contato@universodoseguro.com.br.
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