Confira artigo de Sergio Favarin, Business Vice President da GFT Technologies no Brasil
A integração de critérios ESG (Ambiental, Social e Governança Corporativa) na estratégia financeira deixou de ser um diferencial e passou a ser requisito estrutural para investidores e organizações. No setor de tecnologia, essa convergência se materializa em métricas específicas que avaliam desde a eficiência energética de data centers até a governança algorítmica. Indicadores como “carbon avoided” – que mensura emissões evitadas por soluções digitais – e intensidade de consumo por transação digital não apenas traduzem impacto socioambiental em números, como também permitem decisões de investimento mais precisas e alinhadas às demandas globais por sustentabilidade.
A Inteligência Artificial (IA) desponta como força motriz das finanças verdes. Sua capacidade de processar grandes volumes de dados em tempo real está transformando a análise de riscos climáticos, a precificação de ativos e a criação de produtos financeiros sustentáveis. No Brasil, já se observam aplicações em green bonds(títulos verdes) no monitoramento de energia renovável e na personalização de carteiras ESG. A sustentabilidade, assim, deixa de ser estática e torna-se variável dinâmica dentro da gestão financeira.
Esse movimento se conecta diretamente ao avanço das regulações internacionais. Com normas como a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) europeia e os padrões do IFRS Sustainability, empresas brasileiras de tecnologia têm diante de si uma oportunidade competitiva: adotar precocemente estruturas de divulgação (disclosure frameworks) e auditoria digital. Isso não apenas assegura transparência e conformidade, mas também abre portas para a captação de capital em mercados globais cada vez mais atentos às métricas ESG.
Tecnologias disruptivas como blockchain, Internet das Coisas (IoT) e IA compõem a espinha dorsal das finanças sustentáveis. O blockchain assegura rastreabilidade e confiança na aplicação de recursos de títulos verdes; o IoT permite mensuração em tempo real de emissões e consumo energético; e a IA valida dados e identifica riscos. Essa convergência tecnológica fortalece a credibilidade do mercado, ao mesmo tempo em que reduz custos de compliance e mitiga riscos de greenwashing – prática esta que separa realidade e ficção entre os que se declaram ambientalmente sustentáveis.
No ecossistema brasileiro, há desafios importantes, como a padronização de métricas e a ampliação da liquidez em títulos verdes. Mas também existem oportunidades ímpares: criar fintechs de impacto, desenvolver tokens de ativos ambientais e construir plataformas digitais que democratizem o acesso ao financiamento sustentável. A tokenização de créditos de carbono e a emissão de criptomoedas lastreadas em energia renovável exemplificam o potencial de inovação local, especialmente em um país com matriz energética limpa e biodiversidade única.
A digitalização verde também redefine a própria operação das empresas de tecnologia. Data centersmais eficientes, abastecidos por energias renováveis e sistemas inteligentes de resfriamento, podem reduzir drasticamente a pegada de carbono da infraestrutura digital. Paralelamente, frameworks de IA responsável (os chamados ESG-AI) buscam garantir que algoritmos usados em decisões financeiras operem dentro de princípios éticos, evitando vieses e assegurando transparência.
Nos próximos anos, tendências como smart grids (redes elétricas inteligentes), mobilidade elétrica e plataformas digitais de tokenização de ativos ambientais devem ganhar tração no país. Esse avanço aponta para um amadurecimento do mercado de capitais, que já se posiciona como ator central da transição verde. Green bonds, fundos ESG e instrumentos digitais sustentáveis não apenas ampliam liquidez, como também atraem capital privado em escala inédita, impulsionando a convergência entre rentabilidade e impacto socioambiental positivo.
Desta forma, a relação entre ESG, sustentabilidade e finanças verdes não é mais periférica, mas estratégica. Para executivos e investidores, o desafio é claro: compreender que tecnologia e sustentabilidade não caminham em trilhas paralelas, mas em uma mesma estrada. Aquele que conseguir alinhar inovação digital, governança responsável e impacto socioambiental será não apenas mais competitivo, mas também protagonista de um novo ciclo de crescimento global.
