Greenpeace apresenta propostas para que países adotem medidas de adaptação climática centradas nas comunidades

Trabalho voluntário na comunidade do Horto, Rio de Janeiro | Foto: Lucas Landau / Greenpeace/ Foto: Divulgação
Trabalho voluntário na comunidade do Horto, Rio de Janeiro | Foto: Lucas Landau / Greenpeace/ Foto: Divulgação

Organização lança nota técnica na COP30 defendendo indicadores que revelem as vulnerabilidades das populações mais impactadas, garantam financiamento direto e valorizem soluções lideradas localmente

Nos primeiros dias de COP30, com Adaptação Climática em pauta no calendário de Dias Temáticos da conferência do clima, e diante da tragédia ocorrida no estado do Paraná, na última sexta-feira (7), no qual um tornado devastou a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, o Greenpeace Brasil lança a nota técnica “Adaptação de base comunitária no centro do objetivo de adaptação”. O documento traz recomendações que propõem caminhos para que os países membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) adotem indicadores capazes de medir e valorizar ações de Adaptação baseada na Comunidade (AbC). O material também reúne exemplos de adaptação comunitária que já geram resultados em diversos países do Sul Global, incluindo o Brasil. O conteúdo completo está disponível aqui.

Chamado à ação na COP30

Durante a COP30, serão definidos os 100 indicadores do Objetivo Global de Adaptação (Global Goals on Adaptation – GGA), que funcionam como um “termômetro” para medir como cada país está se adaptando às mudanças climáticas dentro da Convenção da ONU sobre o Clima. Na prática, eles vão observar as políticas das diferentes áreas da vida e do meio ambiente, como acesso à água, alimentação, saúde, biodiversidade, infraestrutura, combate à pobreza, cultura e planejamento.

Nesse contexto, o Greenpeace Brasil apresenta propostas para que o país assuma a liderança dessa agenda, colocando as comunidades no centro das políticas e dos recursos climáticos e garantindo acesso direto a financiamento, participação real e indicadores que promovam justiça climática e social. A organização também solicita a atualização da meta específica de financiamento para adaptação, que hoje está em torno de US$ 284 e 339 bilhões, para que fique alinhada às necessidades dos países em desenvolvimento e de comunidades vulnerabilizadas.

Entre as propostas, se destacam:

  • Brasil/Itamaraty/MMA/negociadores: Incentivar os demais países-membros à aprovação e adoção dos 100 indicadores GGA, principalmente aqueles que tenham como centralidade a melhoria e ampliação de ações e serviços para populações desproporcionalmente afetadas pelas mudanças climáticas;
  • Promover, nas negociações internacionais, o compromisso de inserir como meios de implementação aos indicadores propostos, o financiamento direto e não reembolsável às comunidades locais;
  • Defender, na COP30, a inclusão de um chamado político claro para triplicar o financiamento global destinado à adaptação, alinhado às necessidades dos países em desenvolvimento e das comunidades vulnerabilizadas

Aos países signatários da UNFCCC/doadores:

  • Aprovar e acordar, na COP30, um pacote de indicadores do GGA que dialogue com o fortalecimento de mecanismos de incentivo, monitoramento e avaliação de programas e projetos de Adaptação de Base Comunitária (AbC) e de Ações Lideradas Localmente (LLA);
  • Abrir janelas de acesso direto e ampliar recursos não reembolsáveis para AbC; cooperação técnica Sul–Sul.

“É fundamental que, na COP, os negociadores e demais atores políticos garantam que as decisões sobre adaptação incorporem a dimensão social, territorial e financeira do enfrentamento à crise climática. É preciso garantir que as populações vulnerabilizadas estejam protegidas, participem das decisões e que o financiamento climático chegue, de fato, a quem mais precisa”, afirma a coordenadora da campanha de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Leilane Reis.

Exemplos de adaptação comunitária

A nota técnica do Greenpeace apresenta ações de adaptação comunitária realizadas em cinco países do Sul Global que geraram resultados concretos de combate à crise climática . O documento mostra iniciativas realizadas na Indonésia, Quênia, México, Filipinas e no Brasil(no Recife e no Rio de Janeiro).

A comunidade de Vila Arraes, em Recife, elaborou um plano comunitário de contingência, adaptação e mitigação dos efeitos das chuvas. Coordenado pelo Espaço GRIS Solidário em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a comunidade estruturou brigadas de resposta com atuação em logística, saúde (mental e preventiva), comunicação e gestão de crises, além de promover formações com a Defesa Civil sobre protocolos de emergência durante enchentes do Rio Capibaribe e riscos de eletrocussão.

Localizada na região do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, a Comunidade do Horto  criou o Projeto Horto Natureza como uma resposta coletiva às ameaças de enchentes e às pressões históricas de remoção. A iniciativa, concebida e implementada pelos próprios moradores, promove a limpeza e manutenção do Rio dos Macacos, a coleta regular de lixo e o replantio da vegetação ciliar nativa, integrando ações de educação ambiental, hortas comunitárias e compostagem de resíduos orgânicos.

Segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cerca de 4 em cada 10 pessoas no planeta vivem em contextos de alta vulnerabilidade climática. O Greenpeace defende que a adaptação climática só será efetiva se for implementada por meio de uma agenda de justiça social e racial centrada em quem vive os impactos da crise do clima no cotidiano: comunidades periféricas, quilombolas, indígenas, ribeirinhas e populações negras. Nesses locais, as iniciativas de adaptação já acontecem como resultado do conhecimento e da capacidade de organização dos próprios territórios: “O que falta é o reconhecimento político e apoio adequado para transformar essas respostas locais em políticas públicas estruturantes”,  completa Reis.

Tragédia no Paraná e a necessidade de adaptação climática

No último final de semana, um tornado sem precedentes, com ventos de até 330 km/h, arrasou a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, deixando rastros de destruição em dezenas de municípios. “Há décadas a ciência alerta sobre as consequências da crise climática. Eventos climáticos extremos, como este ocorrido no Paraná, além de secas severas e enchentes estão cada vez mais frequentes e intensos conforme o planeta aquece. Pouco tem sido feito para frear as mudanças do clima, preparar as cidades e reduzir as desigualdades. A tragédia em Rio Bonito do Iguaçu ter ocorrido a três dias antes do início da COP30, expõe o custo da inação”, finaliza Reis.

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