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Janeiro Verde: queda na vacinação contra HPV coloca mulheres e homens em risco de câncer prevenível

Encerramento da vacinação oral contra a poliomielite: População deve ficar atenta à substituição pela vacina inativada / Foto: Diana Polekhina / Unsplash
Foto: Diana Polekhina / Unsplash

Campanha nacional busca conscientizar população sobre importância da prevenção ao vírus

O mês de janeiro, dedicado à conscientização sobre o câncer de colo de útero, evidencia um grave problema de saúde pública: a queda na vacinação contra o HPV. Apesar de ser a principal estratégia para prevenir tipos de câncer relacionados ao vírus, como os de colo de útero, ânus e pênis, a cobertura vacinal segue abaixo do nível ideal.

Desde 2014, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente a vacina contra o HPV para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Contudo, os números mostram um cenário preocupante. Em 2022, segundo relatórios divulgados pelo Ministério da Saúde, apenas 52,26% dos meninos e 75,91% das meninas na idade alvo receberam uma dose da vacina.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o HPV é responsável por cerca de 99% dos casos de câncer de colo de útero, que devem somar 17 mil novos diagnósticos no Brasil em 2025. “É um tumor altamente prevenível, mas que continua sendo uma das principais causas de morte por câncer entre as mulheres brasileiras”, alerta a oncologista Andreia Melo, líder da especialidade tumores ginecológicos da Oncoclínicas.

A falta de vacinação também impacta os homens. Estudos (confira aqui e aqui) mostram que, nos Estados Unidos, o HPV é a causa de 70% dos cânceres de orofaringe e 90% dos de ânus, ambos em crescimento no mundo. O foco em vacinar meninos também protege indiretamente as mulheres, reduzindo a circulação do vírus. Essa abordagem já mostrou resultados em países que ampliaram a vacinação para ambos os sexos.

Os EUA já demonstram os benefícios da imunização: houve uma redução de 62% das mortes por câncer de colo de útero em mulheres menos de 25 anos após a ampliação das campanhas de vacinação. “O ideal é vacinar antes do início da vida sexual, evitando a exposição ao vírus. Além disso, mesmo vacinadas, as mulheres devem realizar exames de rastreio, que ajudam no diagnóstico de lesões pré-invasoras ou de lesões iniciais”, enfatiza Andréia.

Dose única

Em 2023, o Brasil registrou a aplicação de mais de 6,1 milhões de doses da vacina contra o HPV, o maior número desde 2018, quando foram administradas 5,1 milhões de doses. Esse aumento representa um crescimento de 42% em relação a 2022, quando pouco mais de 4 milhões de doses foram aplicadas.

Em 2024, o país adotou o esquema de dose única para a vacina contra o HPV, com base em evidências científicas que comprovam sua eficácia equivalente ao esquema anterior de duas doses. A mudança tem o objetivo de ampliar a adesão à vacinação, especialmente em regiões com dificuldades de acesso aos postos de saúde, e segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Além disso, dados do Ministério da Saúde indicam que o Brasil está próximo de alcançar a meta de vacinação contra o HPV, que é imunizar 90% do público-alvo, composto por meninas e meninos de 9 a 14 anos. Em 2023, quase 85% desse público já havia sido imunizado, e a cobertura entre adolescentes de 14 anos ultrapassou os 96%.

Sintomas e prevenção

O câncer de colo de útero é frequentemente silencioso em seus estágios iniciais, dificultando a identificação precoce sem exames regulares. Quando os sintomas surgem, como sangramento vaginal fora do ciclo menstrual, dor durante a relação sexual, ou perda de peso inexplicável, a doença já pode estar em estágio avançado.

Campanhas como o Janeiro Verde destacam a importância de exames regulares, como o Papanicolau, e da vacinação contra o HPV, aumentando a proteção em cerca de 90% dos cânceres de colo de útero. Iniciativas voltadas à conscientização são fundamentais para desmistificar a vacinação, reduzir as taxas de abandono do esquema vacinal e combater o estigma associado aos exames preventivos.

“A prevenção é a melhor escolha”, enfatiza a oncologista Andreia Melo. “É fundamental que famílias e profissionais de saúde unam esforços para proteger meninas e meninos de uma doença grave, mas evitável. Com números alarmantes no Brasil, o exemplo positivo de países como os EUA mostra que o caminho para a redução do câncer de colo de útero passa pela vacina e pela educação em saúde”.

Tratamento 

No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre as mulheres. Mas, a boa notícia é que ele é altamente prevenível, especialmente por meio da vacinação contra o HPV.

No entanto, segundo a oncologista, além da imunização, o diagnóstico precoce é crucial para o tratamento bem-sucedido. “Mesmo vacinadas, as mulheres devem continuar realizando exames de rastreamento. O Papanicolau continua sendo fundamental, sendo recomendado anualmente e depois de dois exames normais com intervalo de um ano entre eles, a cada três anos, dos 25 aos 64 anos de idade”, enfatiza. “Muito em breve também estará disponível na rede pública de saúde do Brasil a pesquisa da presença do HPV através de técnicas moleculares. Tal incorporação irá melhorar ainda mais os resultados do rastreamento/diagnóstico precoce dessa doença”.

Este acompanhamento regular aumenta significativamente as chances de sucesso no tratamento, que varia conforme o estágio da doença. Em casos iniciais, a cirurgia pode ser suficiente para remover o tumor, enquanto estágios mais avançados podem exigir uma combinação de radioterapia e quimioterapia.

“Quando diagnosticado precocemente, o câncer de colo de útero tem uma possibilidade de redução de até 90% na mortalidade. Por isso, a conscientização e a prevenção são fundamentais neste Janeiro Verde”, finaliza Andreia Melo.

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