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Mudanças climáticas intensificam e aceleram formação de fenômenos como o El Niño

Painel “Fenômenos Físicos Atmosféricos”, do 1º Fórum IRB(P&D) / Foto: Divulgação
Painel “Fenômenos Físicos Atmosféricos”, do 1º Fórum IRB(P&D) / Foto: Divulgação

Especialistas afirmam no 1º Fórum IRB(P&D) que perdas econômicas crescem em trilhões de dólares a cada década e afetam o avanço do PIB brasileiro

Encerrado nesta quinta-feira (12/09), o 1º Fórum IRB(P&D) promoveu um encontro técnico-científico em seu último dia. À tarde, pesquisadores e representantes de startups apresentaram pesquisas, cases e soluções para combater e mitigar os efeitos de fenômenos climáticos como o El Niño, que se formam cada vez mais intensos e em intervalos menores.

Durante o painel “Fenômenos Físicos Atmosféricos”, Francisco Eliseu Aquino, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que as fortes chuvas e enchentes que ocasionaram a recente catástrofe no Sul não estão ligadas apenas aos fenômenos naturais e às ações humanas, mas, também, a uma situação de circulação atmosférica complexa.

“Houve contrastes entre a onda de calor no centro do país, o aumento da seca e o ar frio da Antártica ao sul, bem como ciclones extratropicais. Essa junção favoreceram os eventos climáticos extremos vivenciados no sul. Com isso, uma série de impactos e riscos são gerados e podem acontecer novamente”, disse ele, acrescentando que, provavelmente, nunca se viu no Brasil uma quantidade de chuva tão grande caindo em uma única bacia hidrográfica: “as severas enchentes que impactaram as cidades do Vale do Taquari (RS), em menos de um ano, se repetiram três vezes e nenhuma política pública foi feita”.

Representando o Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Regina Rodrigues deu visibilidade ao impacto do El Niño nos processos físicos das mudanças do clima e dos eventos extremos. A pesquisadora explicou que se trata de um fenômeno natural, mas que é afetado pelas mudanças climáticas. Como consequência, seus efeitos são intensificados. “Esse fenômeno climático promove alterações nos ecossistemas terrestres e marinhos. Há impacto nos sistemas humanos, na segurança hídrica, alimentar e energética”, indicou.

A oceanógrafa informou ainda que o El Niño reduziu a precipitação, aproximadamente, na mesma proporção que as mudanças climáticas. E que a severidade da seca ocorreu por conta do aumento da temperatura global. “As mudanças climáticas aumentam a probabilidade dessa ocorrência meteorológica em dez vezes e a seca hidrológica em 30”, estimou Regina, acrescentando que o prejuízo é alto: “O El Niño reduz drasticamente o PIB e as perdas econômicas crescem há décadas. Foram US$ 4,1 trilhões de prejuízo no início dos anos 80, US$ 5,7 trilhões entre 1997 e 1998, e ainda estamos calculando esse último. Precisamos agir porque a projeção para o futuro não é boa. Haverá mais El Niño e mais La Niñas consecutivas”.

A gerente de pesquisa da IBM, Bianca Zadrozny, ressaltou a importância da aplicação de inteligência artificial para avaliar riscos climáticos. “Quantificar ameaças climáticas em uma escala local ao longo de diferentes horizontes de tempo e estimar adequadamente os riscos visando a tomada de decisões é crucial para a adaptação às mudanças climáticas. E a inteligência artificial favorece a concretização deste objetivo gerando respostas e aprendizados frente ao impacto do clima na sociedade”, ponderou.

Glauber Ferreira da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) mostrou resultados de pesquisas sobre a estação chuvosa, secas hidrológicas e índices de extremos climáticos. “Estudamos a ocorrência de secas hidrológicas no Brasil e concluímos um aumento da frequência desses episódios de até 65% na região Centro-Oeste, além da maior duração dessa seca no Norte, Nordeste e Centro-Oeste podendo chegar a 100% e 90% nas duas últimas regiões citadas”, contou, acrescentando que as pesquisas realizadas revelaram que houve precipitação no Norte do Brasil, aumento de precipitação no centro-sul do país e Bacia do Prata, aumento de dias consecutivos secos (úmidos) na Amazônia brasileira, entre outros impactos.

Modelagem computacional

Ainda à tarde, o chefe de Divisão de Modelagem Numérica do Sistema Terrestre do Inpe, Saulo Ribeiro, destacou a modelagem computacional como um instrumento relevante para prever eventos climáticos extremos. “Temos desenvolvido modelos de previsão do tempo, por exemplo, que permitem a prevenção de eventos climáticos, como chuvas e tempestades com mais precisão e maior antecedência buscando soluções de evitá-los. Também já criamos modelos para ajudar o setor agropecuário melhorando as safras e auxiliando a Defesa Civil”, sinalizou Ribeiro, destacando que a Financiadora de Estudos e Pesquisas (Finep), do governo federal, investirá R$ 200 milhões na compra de um supercomputador para o instituto seguir desenvolvendo projetos de modelagem.

Saulo Ribeiro, chefe de Divisão de Modelagem Numérica do Sistema Terrestre do Inpe / Foto: Divulgação
Saulo Ribeiro, chefe de Divisão de Modelagem Numérica do Sistema Terrestre do Inpe / Foto: Divulgação

A programação do segundo dia do 1º Fórum IRB(P&D) também abriu espaço para discussões tecnológicas com representantes de startups que desenvolvem trabalhos para entender mais a fundo o impacto dos riscos climáticos. Participaram as empresas MeteoIA, Sipremo SRC, Audsat, Umgrauemeio e Cittua.

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