Para o CEO da B4 – primeira bolsa de crédito de carbono do Brasil – Odair Rodrigues, 2024 será fundamental para estabilizar o mercado de créditos de carbono que deve acelerar com as negociações, já que só este ano, a bolsa recebeu cerca de 200 pedidos de listagens somente no primeiro mês
Cerca de 36 bilhões de toneladas: essa foi a quantidade aproximada de CO2 lançadas na atmosfera no ano de 2023, de acordo com projeções do Global Carbon Project, apresentadas no início deste mês durante a COP 28. Este número significa um aumento de quase 1,5% em relação ao ano de 2019, quando a pandemia colaborou com a desaceleração da economia mundial. Ou seja, as indústrias, empresas e grandes corporações, apesar de serem as responsáveis por girar a economia global, também são as que mais poluem e emitem gases do efeito estufa.
Nesse paralelo entre a necessidade de movimentar a economia mundial e de reverter a situação das mudanças climáticas e emissões de gases do efeito estufa, surgem os créditos de carbono, que foram criados em 1997 a partir do chamado Protocolo de Kyoto, que teve o objetivo de, justamente, lutar para diminuir os gases de efeito estufa já naquela época. Hoje, 26 anos depois, surge a B4 como uma das soluções para facilitar as negociações desses créditos utilizando como base, a tecnologia Blockchain.
“Temos um termo criado há mais de 20 anos e que tem ganhado destaque recentemente, sobretudo aqui no Brasil com a aprovação pela Comissão do Meio Ambiente do Senado da PL 412, que aconteceu em outubro e levantou discussões sobre a importância do mercado regulado e voluntário de carbono, para a diminuição das mudanças climáticas. Então, ainda que o conceito de crédito de carbono já exista há vários anos, a B4 precisou ‘levantar a mão’ agora, para dar início a um processo de crescimento ainda mais intenso na seriedade dos processos de compra e venda desses ativos, por meio da tecnologia blockchain”, comenta Odair Rodrigues, CEO da B4.
Desde o seu anúncio no mercado, em agosto de 2023, a B4 tem recebido inúmeros pedidos de listagens – cerca de 200 pedidos apenas no primeiro mês – sendo que ainda se encontram no roadmap da empresa mais ou menos 48 pedidos para análises. Nenhuma iniciativa foi efetivamente listada, sobretudo por conta de três fatores: amadurecimento de mercado, compliance – que precisa ser rígido para dar segurança a quem vai comprar esses créditos – e publicidade por parte da empresa originadora do crédito.
“Esses números da B4 servem para mostrar ao mercado que existem muitas empresas e pessoas ‘de olho’ na movimentação ao redor da temática das negociações de crédito de carbono. E esse interesse é realmente importante, sobretudo se a gente tiver uma visão macro e focada naquilo que realmente está em discussão aqui, que são as mudanças climáticas e a necessidade de reverter essa situação atingindo o Net Zero até 2050”, reforça Rodrigues.
2023 serviu de “vitrine” para o mercado que está por vir em 2024
Além da aprovação do PL que regulamenta o mercado de carbono, que aconteceu este ano, também houve a COP 28, que trouxe diversas discussões a respeito de mudanças climáticas. Esses dois acontecimentos somados ao número de empresas anunciando compra e venda de créditos de carbono, fez com que em 2023 o mercado começasse a apontar para um crescimento exponencial, que deve acelerar ainda mais em 2024.
“A B4 estava prevista para ser lançada só em meados do ano que vem, mas quando percebemos que o mercado de carbono estava se aquecendo de maneira rápida, e que – muito provavelmente – ninguém entenderia a questão da liquidez de uma bolsa por meio da tecnologia blockchain, como nós (pelo fato de a B4 ter surgido de uma incubadora de projetos com essa tecnologia), resolvemos criar nossa própria Exchange, ou seja, a nossa própria bolsa”, conta o CEO da B4, que completa falando da importância do blockchain para o mercado de carbono: “hoje ainda existe muita fraude, compliance inexistente, duplicidade de projetos para listagem e muita empresa mal intencionada dentro do mercado de carbono. Para sanar esses problemas, uma tecnologia como o blockchain, que torna as ações rastreáveis e imutáveis é extremamente necessária. E foi por isso que decidimos nos posicionar ainda em 2023, mostrando ao mercado que existe gente séria, querendo fazer a coisa certa!”, finaliza.
E falando em bolsa, a própria B3 anunciou no início de dezembro, que fará uma parceria com a ACX Group (uma plataforma de negociação no mercado voluntário de crédito de carbono) para a criação de uma bolsa no ano que vem. Ainda que já exista a bolsa de carbono brasileira – a B4 – é importante que essas iniciativas sigam surgindo, para reforçar o propósito das empresas com o meio ambiente e com a redução das mudanças climáticas.
“A expectativa é grande para 2024 e não posso deixar de reforçar que o objetivo da B4 é que esse mercado de carbono seja unido. Ou seja, quanto mais bolsas profissionais surgirem, com o propósito real de reduzir a pegada de carbono e de ajudar as empresas a monetizar seus ativos de forma sustentável, melhor para o próprio meio ambiente, que é nosso principal foco aqui. Então eu vejo com bons olhos o crescimento desse mercado e sei que em 2024 teremos um grande ‘boom’ nas negociações de ativos focados em sustentabilidade, sempre com propósito de ação climática”, conclui Odair Rodrigues, CEO da B4.