Maxpar

Quando o Estado falha, quem paga é o povo: o escândalo do INSS e o novo fardo do trabalhador

André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais
André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais

Um rombo bilionário abalou as estruturas da Previdência Social brasileira. Em uma das maiores operações de combate à fraude já realizadas no país, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) revelaram, em abril de 2025, um esquema que envolvia descontos indevidos nos benefícios de aposentados e pensionistas. A conta, que já soma mais de R$ 6,3 bilhões, promete não ficar restrita aos envolvidos, será paga por toda a população, direta ou indiretamente.

O Golpe: pequenos descontos, grande prejuízo

O esquema consistia em realizar descontos associativos automáticos, muitas vezes sem qualquer autorização dos beneficiários. Estima-se que mais de 6 milhões de segurados tenham sido lesados com valores mensais aparentemente pequenos, entre R$ 30 e R$ 50, que ao longo dos anos geraram um dos maiores prejuízos da história do INSS.

“É a clássica estratégia do ‘boi na boiada’. Pequenos valores que, diluídos em milhões de folhas de pagamento, passaram despercebidos até que o acúmulo se tornasse um verdadeiro tsunami fiscal”, explica o contador tributarista e especialista em finanças André Charone.

A conta não é só do INSS

O governo federal anunciou medidas para o ressarcimento dos aposentados, incluindo o bloqueio de bens de entidades suspeitas e a devolução dos valores via folha suplementar. Contudo, o prejuízo excede os bens já confiscados, e a diferença deve ser coberta com dinheiro público.

Charone alerta: “O rombo na Previdência já é estrutural. Agora temos um novo buraco de bilhões que precisa ser tapado. Isso significa menos dinheiro para investimentos, mais pressão sobre o orçamento e, no limite, maior risco de aumento de tributos”.

Quem realmente vai pagar essa conta?

A devolução dos valores, mesmo sendo justa, pode custar caro ao contribuinte. Como o orçamento público é limitado, o governo já estuda realocar recursos de outras áreas, o que pode significar cortes em programas sociais, investimentos em infraestrutura ou saúde pública.

“Quando o governo é obrigado a realocar verba para cobrir fraudes, isso gera efeito cascata. Ou corta gastos essenciais ou aumenta a arrecadação, o que quase sempre recai sobre a classe média e os pequenos empresários”, afirma Charone.

Gastos que poderiam cobrir o rombo

A indignação cresce diante de outros gastos recentes do governo, considerados por muitos como supérfluos:

  • R$ 4,9 bilhões destinados ao fundo eleitoral de 2024;
  • Aumento de ministérios, que custa cerca de R$ 500 milhões por ano a mais aos cofres públicos;
  • Reajustes salariais para altos cargos, com impacto de R$ 2,5 bilhões em 2023;
  • Mais de R$ 65 milhões em viagens presidenciais ao exterior em 2023.

“Esses recursos, se remanejados, cobririam boa parte da fraude do INSS. Não se trata apenas de número, mas de prioridade. O que o governo prefere: bancar viagens de comitivas ou reparar o dano aos aposentados?”, questiona Charone.

Lição dura de aprender

A fraude no INSS escancarou falhas de controleconivência de servidores e omissão do Estado. A reação do governo tem sido rápida, mas ainda tímida diante da gravidade do caso. O mais preocupante é que, como sempre, a população mais vulnerável será a maior prejudicada.

“O aposentado que teve R$ 40 roubados todo mês agora terá que esperar meses para receber de volta. E o trabalhador ativo, que não teve nada a ver com o golpe, provavelmente vai pagar a conta em forma de impostos ou redução de serviços públicos”, conclui André Charone.

A lição que fica? Não basta investigar a fraude. É preciso rever todo o modelo de autorização de descontos no INSS e garantir que o sistema previdenciário seja blindado contra novos ataques, porque a conta, como sempre, vai sobrar para o povo.

Sobre o autor:

André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA).

É sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino, autor de livros e dezenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional.

André lançou recentemente o livro ‘A Verdade Sobre o Dinheiro: Lições de Finanças para o Seu Dia a Dia’, um guia prático e acessível para quem deseja alcançar a estabilidade financeira sem fórmulas mágicas ou promessas de enriquecimento fácil.

O livro está disponível em versão física pela Amazon e versão digital pelo Google Play.

Versão Física (Amazon): https://www.amazon.com.br/dp/6501162408/ref=sr_1_2?m=A2S15SF5QO6JFU

Versão Digital (Google Play): https://play.google.com/store/books/details?id=2y4mEQAAQBAJ

Instagram: @andrecharone

Total
0
Shares
Anterior
PagBank registra receita líquida de R$ 4,9 bilhões e lucro líquido recorrente de R$ 554 milhões no 1T25
Sede do PagBank na Avenida Faria Lima, em São Paulo / Foto: Divulgação / PagBank

PagBank registra receita líquida de R$ 4,9 bilhões e lucro líquido recorrente de R$ 554 milhões no 1T25

Companhia anuncia seu primeiro pagamento de dividendos de aproximadamente R$ 250

Próximo
CNseg: “Ensinar educação financeira é o maior programa de distribuição de renda que o Brasil pode fazer”
Dyogo Oliveira participa da abertura da 12ª Semana Nacional de Educação Financeira / Foto: Divulgação

CNseg: “Ensinar educação financeira é o maior programa de distribuição de renda que o Brasil pode fazer”

Veja também