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Reciclagem digital: como a tecnologia está transformando a coleta de recicláveis no Brasil

Foto: Divulgação
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A três meses de sediar a COP 30, o Brasil busca mostrar que reciclagem e inovação caminham juntas

A poucos meses da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será sediada no Brasil, o país vive uma janela estratégica para demonstrar avanços em sua agenda ambiental. Em meio a compromissos de redução de emissões e transição para uma economia de baixo carbono, uma frente tem ganhado relevância silenciosa, mas crescente: o uso de tecnologias digitais para transformar a coleta de resíduos recicláveis em um processo mais transparente, eficiente e justo.

Historicamente marcada pela informalidade, a cadeia da reciclagem no Brasil passa a operar, em alguns casos, com ferramentas de rastreabilidade via blockchain, pagamentos digitais instantâneos, aplicativos e QR Codes. A adoção dessas tecnologias representa uma resposta concreta a dois dos maiores desafios do setor: a falta de controle sobre a destinação final dos resíduos e a desvalorização do trabalho dos catadores, responsáveis por uma parte significativa da reciclagem no país.

A Green Mining, startup brasileira pioneira em logística reversa inteligente, é um dos principais exemplos de como a tecnologia pode ressignificar o setor. A empresa desenvolveu um sistema digital que conecta catadores e moradores a pontos de entrega estruturados, chamados de Estações Preço de Fábrica, onde é possível vender resíduos recicláveis com pesagem digital e pagamento via Pix. As informações de cada transação são registradas em uma plataforma com tecnologia blockchain, garantindo a rastreabilidade e a transparência dos dados.

Mais do que um ganho operacional, o modelo impacta diretamente a renda e as condições de trabalho de quem está na base da cadeia. “Não se trata apenas de dar valor ao material reciclável. O que está em jogo é a construção de um sistema mais confiável, onde todos os envolvidos saibam exatamente o que foi coletado, para onde foi enviado e quem foi remunerado”, afirma Rodrigo Oliveira, CEO da Green Mining e vice-presidente da Abelore (Associação Brasileira de Logística Reversa).

A atuação da Green Mining já ultrapassou fronteiras nacionais. A startup foi a única brasileira incluída no relatório técnico “Digital Solutions for Circular Business Models”, publicado pela One Planet Network e pelo programa D4CE (Digital for Circular Economy), da ONU. O documento destaca projetos ao redor do mundo que utilizam tecnologias digitais para promover cadeias de valor mais circulares e transparentes. A Green Mining aparece com duas iniciativas: a própria Estação Preço de Fábrica e o programa Recicle & Ganhe, que recompensa consumidores que separam e entregam resíduos limpos por meio de QR Codes vinculados ao CPF.

Segundo o relatório da ONU, modelos como esses podem aumentar em até 80% a taxa de retorno de materiais recicláveis e elevar em mais de 30% o engajamento da população com a separação correta dos resíduos. Esses índices reforçam o papel estratégico da tecnologia como ferramenta de política pública, especialmente em países como o Brasil, onde mais de 800 mil catadores ainda atuam em condições de informalidade, segundo estimativas do setor.

Para além das soluções privadas, o momento é oportuno para que municípios, estados e o governo federal passem a olhar a digitalização da reciclagem como uma aliada na ampliação da coleta seletiva e no cumprimento das metas estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. O uso de plataformas digitais pode garantir não apenas maior eficiência e controle das operações, mas também promover justiça social, com remuneração direta e formalização do trabalho de quem, há décadas, sustenta a reciclagem no país sem o devido reconhecimento.

Com presença em diferentes regiões brasileiras e parcerias com grandes empresas, a Green Mining já encaminhou para a reciclagem mais de 14,5 mil toneladas de resíduos pós-consumo e evitou a emissão de 17 milhões de quilos de CO₂. Ainda assim, Rodrigo Oliveira ressalta que o verdadeiro avanço está no modelo. “A tecnologia não substitui o catador. Ela valoriza. Ela documenta. Ela protege. E ao fazer isso, permite que mais pessoas confiem na reciclagem como algo sério, eficiente e necessário para o futuro”.

Na corrida por soluções sustentáveis que tenham escala, rastreabilidade e impacto social, a reciclagem digital se apresenta como uma peça-chave. E num país que pretende protagonizar os debates da COP30, ela pode ser também um exemplo concreto de como inovação e justiça ambiental podem andar lado a lado.

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