Cirurgião torácico explica os cuidados em situações de acidente e o que fazer para ajudar as vítimas
Os acidentes de trânsito continuam sendo uma das principais causas de mortes e hospitalizações no Brasil. De acordo com o anuário da Polícia Rodoviária Federal (PRF), mais de seis mil pessoas perderam a vida nas estradas do país em 2024. Além das fatalidades, muitos sobreviventes enfrentam consequências graves, com sequelas permanentes e longos períodos de internação.
Na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, entre janeiro e julho deste ano, 90 pessoas foram internadas em decorrência de acidentes de trânsito. O perfil das vítimas é predominante masculino, com idade média de 40 anos — um dado que se repete em relação ao mesmo período de 2024, quando 82 vítimas deram entrada nas unidades da rede com o mesmo histórico.
Diante desses números, o cirurgião torácico da Rede São Camilo, Dr. Igor Renato Louro, reforça a importância de saber como agir corretamente em situações de acidente. “O atendimento inadequado pode agravar o quadro clínico da vítima. Em casos de lesão na coluna, por exemplo, movimentos errados podem provocar danos irreversíveis, como paralisia. Já no tórax, condições como pneumotórax ou hemorragias internas exigem diagnóstico rápido e tratamento imediato para evitar o óbito”, explica.
Primeiros cuidados que salvam vidas
Após sinalizar o local e acionar o serviço de emergência,quem presencia um acidente de trânsito pode — com cautela — oferecer ajuda até a chegada do socorro profissional. O especialista ressalta que pequenas ações, quando bem executadas, podem ser decisivas para a segurança da vítima.
Avalie, antes de agir
Sempre observe a segurança do local antes de qualquer contato; verifique se há riscos como vazamentos de combustível, incêndios ou fios elétricos expostos. Em situações de perigo, o ideal é manter distância e aguardar os profissionais.
Evite mover a vítima
Não tente remover a pessoa do local, a menos que haja uma ameaça imediata, como risco de explosão ou novo atropelamento. “Movimentações inadequadas podem agravar lesões na coluna e causar sequelas permanentes”, alerta o especialista.
Atenção à consciência e respiração
Se possível, aproxime-se com cuidado para checar se a vítima está consciente e respirando. Em caso de sangramentos visíveis, faça compressão direta com um pano limpo.Objetos que estejam penetrando o corpo da vítima não devem ser removidos e, no caso de motociclistas, o capacete deve ser mantido no lugar.
Não ofereça líquidos, alimentos ou remédios às vítimas.
Tranquilize a pessoa
Converse com calma, informe que o socorro está a caminho e tente mantê-la consciente e estável.
“É importante lembrar que o papel de quem está no local do acidente não é o de um profissional de saúde, mas sim estabilizar a situação e garantir a segurança até a ajuda chegar”, comenta ele.
Como evitar que lesões se agravem?
Segundo o especialista, entre as principais lesões torácicas estão: pneumotórax; fraturas de costelas com sangramento; grandes contusões pulmonares; lesões da aorta torácica; lesões do esôfago torácico; lesões da veia cava superior; contusões e ferimentos cardíacos; lesões do diafragma.
“Todas essas condições podem ser potencialmente fatais se não tratadas rapidamente. As lesões pulmonares decorrentes de trauma são consideradas graves, pois podem causar hemorragias, pneumotórax e até insuficiência respiratória. Quando extensas, podem levar ao óbito. Mesmo lesões menores exigem avaliação imediata e acompanhamento médico especializado”, alerta o cirurgião.
O cirurgião torácico ressalta que algumas medidas de segurança podem fazer com que as chances de lesões graves em um acidente sejam menores, dentre elas:
- O uso de cinto de segurança para motoristas e passageiros;
- Capacete e jaqueta de proteção para motociclistas;
- Respeito aos limites de velocidade da via.
O especialista ressalta que pacientes idosos são mais vulneráveis e suscetíveis a complicações. “Por exemplo, fraturas de costelas podem causar colapso pulmonar (atelectasia) e pneumonia. Com isso, muitos idosos têm comorbidades como diabetes e doenças cardíacas, e usam anticoagulantes, o que aumenta o risco de sangramentos graves”, finaliza o médico.