Rust out: o vazio que adoece em silêncio na carreira

Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria (Foto: Isaque Martins)
Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria (Foto: Isaque Martins)

Especialista explica como o esgotamento por falta de sentido afeta profissionais e alerta que tédio prolongado também é adoecimento

Se o burnout já é reconhecido como um dos grandes males do mundo corporativo, seu oposto silencioso começa a ganhar atenção: o rust out. O termo, ainda pouco discutido no Brasil, descreve o processo de desgaste emocional causado não pelo excesso de trabalho, mas pela falta de sentido, desafio ou propósito nas atividades profissionais.

Quem explica é Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria, gestor de carreiras e PhD pela Unicamp. Segundo ele, o rust out é o esgotamento de quem está “no emprego certo, mas no lugar errado”. “Enquanto o burnout nasce do excesso, o rust out surge da falta — de estímulo, de reconhecimento, de espaço para evoluir. É o tédio crônico de quem cumpre tarefas no automático e, aos poucos, apaga”, afirma.

O psicólogo organizacional Michael Leiter define o rust out como um estado de desinteresse persistente e subutilização de habilidades. Já uma pesquisa da Gallup aponta que mais de 60% dos brasileiros se sentem emocionalmente desconectados de seus trabalhos — o que, segundo Santos, é um sintoma claro desse fenômeno. “Não é desleixo, é adoecimento. O profissional chega no horário, mas entrega o mínimo e já perdeu o brilho no olhar e o desejo de contribuir”, diz.

Para o especialista, o perigo do rust out está justamente na sua invisibilidade. “Diferente do burnout, ele não gera afastamentos ou diagnósticos. É uma corrosão lenta, que as empresas costumam aceitar como normalidade. Só percebem o impacto quando o engajamento cai e os talentos vão embora”, explica Santos.

Ele defende que líderes e organizações aprendam a identificar os sinais precoces e criem ambientes que estimulem aprendizado e autonomia. “Muitas vezes, a cura não está na saída, mas na reinvenção dentro do próprio time — com novos projetos, desafios ou oportunidades de desenvolvimento”, orienta.

Santos propõe três movimentos práticos para sair do rust outrevisitar o propósitobuscar desafios e planejar a transição com responsabilidade. “Retomar o ‘para quê’ é o primeiro passo — entender se o trabalho ainda se conecta com seus valores ou se virou apenas um boleto a pagar. Em seguida, antes de pedir demissão, vale provocar o ambiente: pedir um novo projeto, uma nova área, um curso que desperte de novo o interesse. E, se nada disso for possível, então é hora de planejar a saída com calma, estratégia e foco”, orienta.

“O rust out é um alerta, não uma sentença”, reforça o especialista. Para ele, o mundo do trabalho ainda olha para o esgotamento apenas pelo viés do excesso, mas ignora o outro extremo. “O vazio também adoece. E talvez estejamos convivendo com uma epidemia silenciosa de profissionais enferrujando por dentro”, conclui.

 

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