Confira artigo de Luis Martinez, Vice-Presidente de Vendas de Healthcare e Insurance da Softtek, e Adriana Matte, Advisor Seguros da Softtek Brasil
Dentro de alguns dias começa a 38ª edição da FIDES, maior conferência de Seguros da América Latina que reunirá representantes de 20 países latinos, além de Estados Unidos e Espanha.
O tema desta edição, a primeira após a pandemia da Covid-19, será “Seguros para um mundo mais sustentável” e, dentre os 8 eixos de abordagem, longevidade é assunto de destaque. Isso porque o aumento na expectativa de vida da população inevitavelmente promoverá impacto em diversas linhas de Seguros e na estrutura dos produtos, cálculos atuariais, custos, receitas etc. E as estimativas realmente impressionam.
De acordo com relatórios da ONU (2019 e 2022), o número de pessoas com 80 anos ou mais deve triplicar nos próximos 30 anos, passando de 143 milhões em 2019 para 426 milhões em 2050. A projeção é de que em três décadas o número de pessoas com 65 anos ou mais seja mais do que o dobro do número de crianças com menos de cinco anos, e que uma em cada seis pessoas no mundo tenha mais de 65 anos em 2050 – para Europa e Estados Unidos, uma em cada quatro.
Em 2018, pela primeira vez na história, as pessoas com 65 anos ou mais superaram numericamente, em nível global, as crianças com menos de cinco anos. Isso significa que, além do aumento na expectativa de vida, há um declínio na taxa de natalidade. Certo que o cenário varia de região para região, contudo, se a população mundial chegar aos 9,7 bilhões previstos nos relatórios, seremos 1,55 bilhão de “sessentões” em 30 anos.
Oportunidades e valores
A atenta interpretação desses indicadores, associada a outras variáveis, oferece oportunidades e desafios para todos os setores da economia, afinal trata-se de uma alteração na topografia do mercado de consumo que afeta o curto, médio e longo prazo de todas as relações comerciais do planeta.
Entretanto, indústrias como a de Seguros, assim como a de Saúde e Bem-Estar, respondem por uma relação consideravelmente mais intrínseca e não unicamente extrínseca com o tema.
Ambas as indústrias têm a missão e o compromisso de atender a seus clientes em momentos de potencial vulnerabilidade. Ou seja: o exercício da vida em toda sua concepção e magnitude orgânica e abstrata é a essência desses negócios. São indústrias que necessariamente estabelecem uma relação de cumplicidade genuína com seus clientes.
As oportunidades dessas indústrias certamente passam por projeções de LTV e modelos matemáticos e analíticos baseados em padrões geracionais, perfis demográficos, Club Vita etc. Mas, em razão da longevidade não ser um fato e sim uma condição potencial que depende de variáveis controláveis e incontroláveis em diferentes esferas, o diferencial competitivo dessas indústrias reside, acima de tudo, na capacidade de valorizar a relação de cumplicidade e confiança que elas estabelecem com seus clientes e de compreender que ela é premissa para as escalas de portfólio transgeracionais e em múltiplas direções.
A consultoria Celent, principal instituição de pesquisa e consultoria em tecnologia para instituições financeiras em todo o mundo, concede anualmente, há 17 anos, o prêmio Model Insurer a seguradoras, resseguradoras e MGAs que se destacam por excelentes resultados de negócios a partir de iniciativas de inovação.
Este ano, a consultoria analisou mais de 100 indicações de todo o mundo e as nomeações foram feitas em cinco categorias diferentes que refletem as áreas de inovação que são consideradas as mais críticas para o sucesso do setor de Seguros atualmente.
As cinco categorias consideradas críticas para o sucesso do setor de Seguros, de acordo com a Celent, são: Transformação da Experiência do Cliente; Dados, Análise e Inteligência Artificial; Tecnologias Digitais e Emergentes; Transformação de Legado e Ecossistema; e Execução de Inovação. Uma clara evidência por onde vão orientadas as oportunidades de crescimento no setor.
O mercado latino-americano
Orientando o ângulo e focando no mercado latino-americano, o crescimento da indústria de Seguros está acima da média global.
De acordo com estudo da McKinsey, o mercado de Seguros da América Latina, além de ser o que mais cresce no mundo em termos percentuais, está também entre os mais lucrativos: ROE (sigla em inglês para Retorno sobre Patrimônio Líquido) de 22% (2019) e de 17% (2022) ante 10% e 9% de médias globais, respectivamente. Só em 2022, o mercado Latam registrou uma arrecadação, na medida de prêmios brutos subscritos, de US$ 174 bilhões – crescimento de 16% ante o ano anterior.
De acordo com Christopher Craddock, um dos responsáveis pelo estudo, os fatores que contribuem para esse destaque e que devem impulsionar ainda mais o setor vão desde níveis de maturidade de desenvolvimento das regiões e seus respectivos desafios estruturais, como renda e inclusão financeira, até a percepção e reconhecimento de risco. João Bueno, sócio da McKinsey, exemplifica essa variável com o seguro-auto: “Muitas vezes as pessoas não têm o claro entendimento do risco que estão correndo. As pessoas começam segurando carro, depois a casa e depois a vida. Isso ocorre dessa maneira por causa da percepção de risco”, afirma.
Nesse sentido, o relatório ressalta que, entre 2011 e 2022, o segmento de seguros pessoais, como o seguro de vida, mais que triplicou, enquanto o segmento “não vida”, Property & Casualty, dobrou. Um claro indicador da consciência e do amadurecimento do mercado em relação ao binômio valor versus risco.
O papel da tecnologia nesse ecossistema
A tecnologia é plural. É a soma e a integração de competências, operando em regime 24/7, capaz de analisar lógica, ágil e precisamente um imenso volume de dados; de interpretar, se comunicar e integrar diferentes linguagens e sistemas; de interagir inteligente, criativa e empaticamente diante dos mais complexos contextos e de resguardar a segurança e a integridade do que lhe é confiado.
Recentemente, José Carlos de Sá, especialista em arquitetura de sistemas e Clouding da multinacional de tecnologia Softtek, compartilhou a seguinte reflexão: “Passamos de uma era Data Storage para uma era Data Driven, e nos encaminhamos para uma era Data Thinking”. Ou seja, a evolução do coletivo cibernético, de tecnologias como Blockchain, 5G, IoT, Robótica, IA etc. vem tornando possível a otimização de filtros. Isso conduz a demandas cada vez mais orientadas a experiências e a feedbacks instantâneos que, por sua vez, exigem que back-end e front-end trabalhem juntos hoje, em times que monitoram a jornada do cliente ponto a ponto, correspondendo, orquestrada e de maneira proativa, expectativas em diferentes instâncias e escalas.
Independente do setor, do contexto e do tamanho do desafio, onde há processos e demanda por agilidade, precisão e, inclusive, empatia, a tecnologia tem se mostrado valiosa. E para indústrias como Seguros e Saúde, cuja sensibilidade, prontidão e eficiência são fatores imperativos de sucesso e determinantes na fundamentação da confiança e no estabelecimento de relacionamentos de longo prazo, a tecnologia tem papel crucial.
À medida que se compreende que os Millennials de hoje se tornarão os longevos das próximas décadas, não resta dúvida que a relevância tecnológica também irá aumentar. Esse capítulo da história, certamente, está começando.
Vale frisar, então, que aliar-se a fornecedores com know-how, métodos e processos reconhecidos internacionalmente pode ser a diferença entre vieses de abordagem e a sinergia de um ecossistema harmoniosamente integrado.