Em um evento da XP, em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) dirigiu duras críticas ao governo federal, afirmando que o país “não sabe onde quer chegar” e demonstra uma clara falta de rumo. As declarações de Freitas focaram principalmente na passividade do Brasil diante da imposição de novas alíquotas sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, cujo os efeitos, segundo o governador, podem ser devastadores para a economia paulista e nacional.
Freitas comparou a postura brasileira à de outras nações que, ao serem alvo de medidas protecionistas semelhantes — citando China, Japão, Filipinas, Índia, México e Canadá —, agiram rapidamente. “O que os outros países fizeram? Foram lá, mandaram o seu chanceler, mandaram os seus representantes, e sentaram na mesa para discutir. Aqui a gente faz vídeo na internet para brincar com esse assunto”, criticou o governador, insinuando uma postura de inação e falta de seriedade por parte do governo federal.
Alerta para impactos econômicos em São Paulo
O governador apresentou projeções alarmantes sobre o impacto dessas alíquotas na economia de São Paulo. Segundo simulações realizadas pelo governo paulista, o efeito no estado pode variar entre 0,3% e 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso se traduziria em uma perda de 44 mil a 120 mil empregos e uma redução da massa salarial de R$ 3 bilhões a R$ 7 bilhões por ano, apenas no cenário paulista.
Freitas expressou preocupação especial com setores-chave da economia do estado. Ele citou o pequeno produtor de café, que exporta seus blends pelo Porto de Santos; empresas globais como a Caterpillar, que possui uma das poucas fábricas que exportam equipamentos para os EUA e que poderia “desligar a chave aqui, ligar em outro lugar” para continuar suas exportações; e a Embraer, com suas fábricas em Gavião Peixoto (aviões executivos) e São José dos Campos (aviação comercial), que enfrentaria um “ônus significativo” com a imposição dessas medidas. A indústria da laranja, por sua vez, também sofreria um “efeito maléfico” apesar de sua logística própria.
Medidas do governo paulista e apelo à unidade nacional
Diante do cenário preocupante, Tarcísio de Freitas detalhou as ações que o governo de São Paulo está tomando para mitigar os impactos das alíquotas americanas. As medidas incluem:
Liberação de crédito subsidiado: Oferecer um crédito “muito mais barato”, com taxa de juros subsidiada, cinco anos para pagar e um ano de carência, para dar fôlego e fluxo de caixa aos produtores e empresas afetadas.
Liberação de créditos acumulados de ICMS: Uma grande liberação de créditos de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) acumulados, com outras medidas em estudo.
Ações diplomáticas e de bastidores: Conversas com parlamentares e contrapartes americanas, empresas dos EUA e agentes do governo americano, buscando sensibilizá-los para a dimensão do problema. “Estamos fazendo isso de uma forma profissional, de uma forma silenciosa, para ver se a gente consegue atenuar esse efeito”, afirmou Freitas, contrastando com a suposta postura do governo federal.
O governador criticou a busca por “proveito político” e a “divisão interna” do país, que, segundo ele, enfraquecem a soberania nacional. Citando Ronald Reagan, Freitas enfatizou: “A gente nunca vai fortalecer o fraco enfraquecendo forte. A gente nunca vai fortalecer o assalariado prejudicando o empregador”.
Para Tarcísio de Freitas, o momento exige que o país “bote a bola no chão”, “aja como adulto” e resolva o problema. “Se a gente não resolver o problema, quem vai perder é o Brasil. E a consequência virá. E aí nós vamos trabalhar para que a consequência não venha”, concluiu o governador, reforçando a necessidade de união em prol do interesse nacional.