As recentes medidas protecionistas anunciadas por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, reacenderam o debate sobre os impactos das guerras tarifárias na economia global — e, em especial, nos negócios brasileiros.
O novo “tarifaço” imposto sobre importações chinesas, que já ultrapassa 200%, tem como objetivo conter a entrada de produtos estrangeiros com preços baixos e favorecer a indústria americana. A estratégia é semelhante à adotada recentemente pelo Brasil, que aumentou a taxação de pequenas encomendas internacionais — as chamadas “blusinhas” — com o objetivo de proteger o mercado interno da concorrência chinesa.
No cenário brasileiro, as consequências dessa medida podem ser sentidas de diferentes formas. Para Fernando Bittencourt, sócio do LFB Advogados, com o aumento das tarifas sobre produtos chineses nos Estados Unidos, é possível que a China busque redirecionar parte de suas exportações para outros mercados, como o Brasil. “Isso pode resultar em um aumento da entrada de produtos mais baratos no país, o que representa uma ameaça à competitividade das empresas brasileiras, especialmente nos setores mais sensíveis à concorrência de preço”, diz.
Por outro lado, no que diz respeito às exportações brasileiras para os Estados Unidos, a tendência é de estabilidade. Os produtos vindos do Brasil estão sujeitos a tarifas mínimas, em torno de 10%, um patamar que já é aplicado atualmente em grande parte das transações. Além disso, a pauta exportadora brasileira para os EUA é composta majoritariamente por itens essenciais como café, carne e petróleo, que mantêm sua demanda mesmo diante de oscilações políticas e econômicas.
Fernando Bittencourt reforça que o momento exige cautela, mas também visão estratégica. “Embora a elevação das tarifas possa representar uma barreira comercial para muitos países, o Brasil tem a oportunidade de se posicionar como alternativa viável ao mercado norte-americano, especialmente em segmentos onde a concorrência chinesa era dominante”, afirma. Ele ressalta ainda que, para isso, é fundamental que o país ofereça um ambiente de negócios mais seguro e previsível.
“Apesar dos riscos, o tarifaço de Trump pode se transformar em uma oportunidade para o empresariado brasileiro. Com a alta taxação sobre produtos oriundos de países como China e Taiwan, empresas brasileiras têm a chance de ocupar um espaço deixado por esses concorrentes no mercado norte-americano. Essa movimentação pode ainda abrir caminho para atrair fábricas e investimentos estrangeiros para o Brasil, desde que o país ofereça segurança jurídica e maior clareza tributária para os investidores”, destaca Bittencourt.
Em resumo, as novas tarifas impostas por Trump não devem dificultar significativamente a entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos, mas exigem atenção e estratégia por parte dos empresários. O momento pode representar tanto uma ameaça quanto uma oportunidade, dependendo da forma como o Brasil e seus negócios decidirem se posicionar frente às mudanças no cenário global.