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Vacinas contra o câncer: nova era da medicina personalizada promete transformar o tratamento da doença

Encerramento da vacinação oral contra a poliomielite: População deve ficar atenta à substituição pela vacina inativada / Foto: Diana Polekhina / Unsplash
Foto: Diana Polekhina / Unsplash

Avanços com tecnologia de mRNA abrem caminho para opções terapêuticas que treinam o sistema imunológico a combater tumores específicos

A ideia de uma vacina contra o câncer pode evocar a imagem de uma solução preventiva, semelhante aos imunizantes amplamente utilizados para combater doenças infecciosas. Porém, no campo da oncologia, o conceito está sendo redefinido por uma nova geração de tratamentos altamente personalizados, que vêm ganhando destaque nas principais publicações científicas do mundo. Estudos clínicos têm apresentado resultados promissores, apontando para uma abordagem revolucionária, que rompe com a visão tradicional de “vacina”: são medicações projetadas para tratar o câncer de forma individualizada e direcionada, utilizando tecnologias de ponta, como o RNA mensageiro (mRNA).

“Essa alternativa contra o câncer tem caráter terapêutico, sendo projetada para tratar a doença já existente. Esse tipo de vacina oferece ao corpo humano uma maior capacidade de reconhecer e combater tumores específicos, representando uma nova era nos tratamentos oncológicos”, explica Breno Jeha Araújo, oncologista especializado em genômica clínica da Oncoclínicas.

O diferencial dessa nova abordagem está em sua natureza altamente personalizada. A vacina oncológica utiliza um mecanismo na qual o sistema imunológico é treinado para reconhecer e destruir células tumorais específicas. A fórmula é desenvolvida a partir da análise genômica do tumor de cada paciente, gerando instruções individualizadas para o organismo identificar e atacar as células malignas.

Segundo Araújo, o caminho para esse progresso foi acelerado pela pandemia da Covid-19. “A tecnologia de mRNA já demonstrou seu potencial no combate à Covid-19 e agora desponta como uma ferramenta promissora na oncologia”, ressalta o especialista. “Este avanço é um marco que pode transformar a forma como tratamos o câncer, permitindo a criação de terapias individualizadas baseadas no perfil genômico das células tumorais de cada paciente”, detalha o oncologista.

Resultados promissores em diferentes frentes

Os avanços na área têm se mostrado consistentes. Em 2023, uma pesquisa publicada na revista Science Translational Medicine demonstrou resultados positivos com o uso de vacinas de mRNA no tratamento e na prevenção do glioblastoma, um tipo de câncer cerebral altamente agressivo. Já na edição 2024 da ASCO, o congresso americano de oncologia clínica, considerado o maior e mais relevante da especialidade, o uso de uma vacina destinada ao tratamento do melanoma foi recebido com entusiasmo pela comunidade médica.

“Uma vacina desenvolvida pelas farmacêuticas Moderna e Merck para melanoma avançado, a mRNA-4157, demonstrou em ensaios clínicos de fase 2 uma redução de quase 50% no risco de recorrência do câncer ou morte após três anos de tratamento”, conta Araújo.

No último mês de dezembro, o Ministério da Saúde da Rússia também anunciou o desenvolvimento de uma vacina contra o câncer baseada na tecnologia de mRNA, com distribuição gratuita para a população do país, prevista para os primeiros meses de 2025. Segundo o governo russo, os testes pré-clínicos indicaram que a vacina é capaz de suprimir o desenvolvimento de tumores e impedir a formação de metástases, embora detalhes sobre os tipos específicos de câncer ainda não tenham sido divulgados.

Contudo, apesar do otimismo, existem barreiras significativas a serem superadas. “O uso de vacinas personalizadas contra o câncer representa desafios técnicos e logísticos, especialmente em relação à escalabilidade e ao custo de produção. Embora as vacinas de mRNA sejam uma evolução significativa, a aplicação contra o câncer exige a personalização de cada dose, o que as diferencia radicalmente das vacinas preventivas de aplicação em massa, como as da covid-19”, explica o especialista.

Futuro do tratamento e acesso

Enquanto no cenário internacional novos desenvolvimentos começam a surgir, a expectativa é que as primeiras aprovações regulatórias de vacinas destinadas ao câncer aconteçam em 2025, começando pelo imunizante específico para o melanoma. No entanto, como ressalta Breno Jeha Araujo, é preciso avançarmos no entendimento de como garantir acesso com equidade a essas inovações. Para ele, a promessa de tratamentos mais eficazes e personalizados vem acompanhada da necessidade de desenvolver estratégias para tornar essas inovações acessíveis a todos que delas necessitam.

“O avanço das vacinas oncológicas é um marco científico que pode transformar o tratamento do câncer. Contudo, esta nova fronteira do cuidado oncológico representa também um desafio para os sistemas de saúde em todo o mundo. Equilibrar o progresso tecnológico com estratégias que assegurem seu acesso global será essencial para que essa nova era da medicina personalizada beneficie a sociedade em geral, e não apenas uma parcela de pacientes economicamente privilegiados”, sintetiza o oncologista da Oncoclínicas.

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