Lucas Ribeiro, fundador e CEO da ROIT, explica que a rede ainda é incipiente para o setor empresarial e as empresas ainda dependem de sistemas de troca de arquivos, e não de integrações seguras e escaláveis via API
O Open Finance – compartilhamento de dados e serviços financeiros entre instituições credenciadas e com consentimento dos consumidores e empresas – ainda esbarra, no Brasil, na infraestrutura bancária. Embora, segundo divulgou recentemente a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), o número de consentimentos tenha dobrado no último ano, chegando a 42 milhões, os benefícios ainda são tímidos diante do potencial.
É a avaliação dos consultores Lucas Ribeiro, fundador e CEO da ROIT, empresa de inteligência artificial para a gestão contábil, fiscal e financeira das empresas, e de Karen Miura, CFO da ROIT. Para ambos, apesar da evolução tecnológica e de inovações disponíveis no mercado, a rede bancária ainda se utiliza de ferramentas e mecanismos aquém do ideal.
“Enquanto a tecnologia avança a passos largos, a infraestrutura bancária ainda é baseada na Central Nacional de Atualização Bancária (Cnab) e na VAN [Value Added Network, ou “Rede de Valor Agregado”]. Ou seja, apenas na troca de arquivos, e não nas integrações fáceis e seguras via API [interface que permite comunicação entre sistemas e arquivos]. Isso cria um abismo entre o potencial do Open Finance e sua aplicação prática no dia a dia das empresas”, explica o especialista.
Karen, por sua vez, chama a atenção para a falta de transparência das operações que as instituições financeiras mantêm entre elas. “Isso impede que as condições de taxas e de crédito sejam mais favoráveis”, pontua.
O cenário é ainda mais complexo quando consideramos a diversidade econômica e a disparidade de acesso à tecnologia no Brasil, ressalta Ribeiro. “Para muitas empresas, especialmente as de menor porte, os custos e desafios técnicos para integrar-se ao ecossistema do Open Finance são proibitivos, tornando a promessa de inclusão uma ilusão distante na automação segura de pagamentos, tanto locais, quanto globais e, principalmente, e a democratização do crédito.”
Entretanto, há luz no fim do túnel. De acordo com o CEO da ROIT, iniciativas e o interesse crescente de fintechs em desenvolver soluções que superem essas barreiras abrem perspectivas para o futuro do Open Finance no Brasil. “A chave para transformar o Open Finance está nas startups inovadoras, dispostas a superarem as barreiras e bloqueios tecnológicos e, especialmente, os modelos de negócios proibitivos e caros das instituições financeiras”.
Karen acrescenta: “O Open Finance representa uma nova era da economia que possibilitará à economia brasileira dar um salto quântico em quesitos como governança. Com executivos e empresas dispostos e abertos à inovação certamente colocarão o Brasil à frente e na mira de investimentos estrangeiros”, pondera Karen.
Para Ribeiro, a pergunta que fica é: o Brasil conseguirá superar esses desafios e realizar o potencial transformador do Open Finance? Ou as empresas brasileiras continuarão a ver essa promessa como uma ilusão distante? “À medida que avançamos, fica claro que apenas uma abordagem colaborativa e inovadora poderá desbloquear o verdadeiro potencial do Open Finance para o mercado brasileiro, sem o medo dos grandes bancos perderem mercado”, afirma. O Open Finance no Brasil começou a ser desenvolvido em 2020.