Confira artigo de Fabrício Vaz, Business Vice President da GFT Technologies no Brasil
Com mais de 153 milhões de usuários e movimentações acima de R$ 1,53 trilhão (dados de agosto do Banco Central), o PIX revolucionou ao democratizar o sistema de pagamentos no Brasil. Entretanto, esta solução que não faz distinção de classe social ou valores monetários é apenas um “aperitivo” dentro do amplo ecossistema financeiro. A próxima grande onda que tem tudo para ganhar os brasileiros em 2024 já tem nome: DREX.
Esse é o nome dado pelo Banco Central ao que antes era conhecido como Real Digital, e tem como inspiração o termo “Digital Real Electronic Transaction” (“Transação Eletrônica Real Digital”, em tradução livre). Da divulgação do nome, em 7 de agosto, até o momento, teve início uma série de testes por parte de instituições financeiras de diversos calibres, tudo em favor de poder oferecer, até o final de próximo ano, essa nova oportunidade aos brasileiros.
O objetivo central do DREX é reduzir custos de operações bancárias e aumentar a inclusão dos consumidores em um novo mercado financeiro. Ele é uma representação virtual do Real, com infraestrutura de blockchain. Uma vez tokenizado, o DREX terá o seu valor pareado com o Real físico, mas estará protegido pela criptografia no ambiente digital.
Perante o mercado, sabemos bem como se revelam as pequenas inovações de cada dia. Estivemos envolvidos junto ao próprio Banco Central e à Federação Brasileira de Bancos (Febraban) nos passos iniciais do Open Banking e do Open Finance por aqui. Neste sentido, é importante ressaltar o quão pioneiro o Brasil está dentro do cenário global de meios de pagamentos e inovações financeiras, utilizando os avanços da tecnologia em favor da simplificação e democratização das operações econômicas.
Para quem está imerso no ambiente do Open Finance e/ou do mercado financeiro, o entendimento sobre os enormes benefícios e das inovações que ainda virão com o DREX são evidentes. Todavia, a população ainda vê com desconfiança os seus reais ganhos com essa moeda digital e, como nos mostra o lento avanço do universo Open na esfera econômica, é preciso demonstrar valor ao consumidor final para crescer. A explosão na adesão ao PIX, tão logo o usuário reconheceu as suas grandes vantagens, explicita isso ainda mais.
Se o PIX é o meio pelo qual é possível transferir recursos financeiros, o DREX é o próprio dinheiro a ser transferido. Ou seja, você poderá fazer um PIX utilizando o DREX. Mas o alcance da moeda digital vai além. A compra de veículos ou de imóveis, por exemplo, poderá ser feita em tempo real, por meio de um contrato inteligente, concebido por meio de linguagem de programação e ligado às entidades/pessoas envolvidas. Com o DREX, toda a transação será realizada simultaneamente, de maneira rápida, segura e mais barata, com o dinheiro e a propriedade sendo transferidos simultaneamente (qualquer erro no processo assegura o retorno dos ativos aos seus donos anteriores).
Para o mercado imobiliário, o DREX trará a possibilidade de que todos os envolvidos, conectados em uma rede única, possam ver aprovado, em questão de horas, um empréstimo e a conclusão de um financiamento para compra e venda de uma casa ou apartamento. Na área dos investimentos, como parte do Open Investment, a possibilidade de investimentos tokenizados trará mais amplitude a um mercado que vê o crescimento da demanda em favor de pequenos investidores, democratizando, por consequência, o mercado de ações.
Há desafios a serem superados, contudo, até chegarmos neste ápice de agilidade, segurança e redução de custos em movimentações financeiras. Nos últimos dois meses, algumas das principais instituições do país anunciaram as suas primeiras transações entre si com o uso do DREX. Um dos desafios iniciais é o aumento da banda de conexão na Rede do Sistema Financeiro Nacional (RSFN), algo que segue em desenvolvimento. De acordo com o próprio Banco Central, questões de infraestrutura e de privacidade já impõem um atraso no cronograma original da implantação, porém a expectativa de liberação para o público no fim de 2024 permanece.
Para quem já está inserido com força no ambiente do PIX, o DREX será apenas mais um passo em prol de novas inovações – algumas delas que ainda não conseguimos conceber nem mesmo na teoria. A confiabilidade dessa nova moeda digital, que espera reunir o melhor do cartão de crédito e do seu “primo” mais famoso, também passa pelo uso de boas estratégias na hora de implementar e se aproveitar das múltiplas facetas de ganhos para empresas e consumidores.
Tão logo o sistema completo esteja concluído e pronto, as dúvidas se dissipem e o brasileiro compreenda o quanto a sua vida será impactada, o DREX deverá se ver como protagonista de um novo boom na economia nacional e, por consequência, também internacional. E o amplo uso, a ser acelerado por um ou mais agentes (ainda indefinidos) do mercado, trará de quebra novos modelos de negócios.