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Expectativas para as decisões de Política Monetária na Super Quarta

Expectativas para as decisões de Política Monetária na Super Quarta / Foto: Wance Paleri / Unsplash Images
Foto: Wance Paleri / Unsplash Images

Economista oferece insights valiosos sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no Brasil e a reunião do Federal Reserve (FED) nos Estados Unidos

Na expectativa para a Super Quarta, trazemos uma entrevista exclusiva com Jadye Lima, economista na WIT Invest, para discutir as expectativas em relação às decisões de política monetária que serão tomadas durante a tão aguardada “Super Quarta” de novembro de 2023. A economista oferece insights valiosos sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no Brasil e a reunião do Federal Reserve (FED) nos Estados Unidos, bem como suas implicações nos mercados financeiros e nas estratégias de investimento.

1. Quais são as expectativas para a próxima reunião do Copom? O que se espera em relação à decisão de política monetária? 

A grande pergunta que fica é sobre o tom da reunião, especialmente depois dos eventos recentes como a fala do presidente Lula e da coletiva do Haddad. Particularmente, acredito que o board focará em comunicar a intensidade dos cortes para as próximas reuniões com algum aviso sobre a situação fiscal no Brasil.

É esperado novamente um corte de 0,50% p.p. na taxa Selic, para o novo patamar em 12,25%.

2. Em dia de Super-Quarta, quais as expectativas para a reunião do Fed dia 01/11?

O Federal Reserve, banco central americano, (FED) deve manter os juros no patamar de 5,25% e 5,5%, devido aos dados que saíram entre a última reunião até essa e que mostram, na margem, uma acomodação da inflação, bem como o fato de que embora o mercado de trabalho esteja respondendo a taxa de juros, a pressão continua forte.

Os riscos existem e, portanto, o FED deve aguardar maiores reações da atividade para definir os próximos passos, não indicando uma faixa terminal do ciclo, mas com um aviso duro de que “aperto adicional está condicionado ao cenário econômico”.

3. De que forma o histórico da inflação nos Estados Unidos nos últimos meses influenciará as decisões do Federal Reserve em relação às taxas de juros? Qual o impacto disso nas economias de países emergentes?

O histórico de inflação nos EUA levou a uma mudança de tom por meio do FED que começou a ser mais hawkish em seus comunicados ao ponto das taxas de juros há 10 anos terem subido fortemente.

O impacto de juros maiores por mais tempo nos Estados Unidos é de um enxugamento da liquidez global, por meio do diferencial de juros. Os países emergentes podem ter uma saída de fluxo estrangeiro que, consequentemente, acarreta uma desvalorização da moeda local, pressão na inflação e a necessidade do aperto monetário.

4. Quais as expectativas em relação à taxa básica de juros (SELIC) no Brasil nesta Super Quarta? E nos EUA? E a expectativa de taxa final em dezembro, na última reunião do Copom em 2023?

A expectativa é de um corte na taxa de juros em 0,5% p.p. e que a Selic esteja em 11,75% no final de 2023.

Em relação aos Estados Unidos é aguardado uma manutenção pontual em 5,25% e 5,5%.

5. É hora de sair da renda fixa? Quais opções de investimentos são interessantes para o momento de juros no Brasil e nos EUA? 

Não, a renda fixa continuará entregando bons retornos. O que se abre a frente é um leque maior para o investidor diversificar seu portfólio, tanto em ativos locais, como em renda variável e títulos mais longos para se beneficiar do fechamento da curva de juros, bem como no exterior, dolarizando o patrimônio em ativos seguros.

6. Como a possível expansão da guerra em Israel para outros países poderia afetar as decisões de política monetária durante as reuniões da Super Quarta, considerando os potenciais impactos do conflito na economia global?

Uma escalada no conflito em Israel envolvendo outros países teria um impacto nos preços do Petróleo, componente essencial na circulação de uma economia. A resposta para países que são importadores dessa commodity seria uma inflação mais alta e persistente, e naturalmente uma taxa de juros maior.

Acredito que neste momento, como não temos visto uma escalada de fato, os banqueiros centrais focarão na agenda macro de cada país sem desconsiderar, é claro, esse risco geopolítico.

7. Qual é a importância do diferencial de juros em relação aos Estados Unidos na tomada de decisões de investimento, especialmente se houver pouco prêmio para o investidor permanecer no Brasil?

Fundamental, o diferencial de juros é o prêmio exigido entre deixar de investir, neste caso, nos EUA, uma das economias mais sólidas que existem, para investir no Brasil, um país emergente.

Se tivermos um diferencial menor de juros, veremos um fluxo de investimento estrangeiro saindo do país e impactando diretamente a taxa de câmbio. O fluxo da renda fixa é um forte componente de precificação nas cotações da moeda corrente, então neste caso tenderiam a ter um dólar mais forte frente ao real, favorecendo os investidores que têm parte do patrimônio dolarizado.

8. Como o aumento das taxas de juros pelo Federal Reserve nos Estados Unidos, mantido em níveis elevados até pelo menos o início de 2024, afeta as estratégias de investimento no mercado brasileiro? E como pode afetar as decisões do Copom no país? 

Considerando o diferencial de juros e os efeitos na economia, uma taxa elevada por mais tempo nos EUA tende a limitar os esforços do Copom de reduzir a Selic por aqui. Isso porque ao reduzir os juros e consequente diminuir o diferencial, o fluxo estrangeiro buscará prêmios de risco maiores em outros lugares, impactando no câmbio, o que por sua vez impactará na inflação.

Sendo assim, para evitar essa espiral negativa, os juros domésticos tendem a ficar maiores e a estratégia dos investidores tende a ser mais cautelosa, priorizando ativos de renda fixa.

9. Há a expectativa da taxa básica de juros do Brasil em um dígito no próximo ano? Como isso influencia as estratégias de investimento em renda fixa e variável?

Havia sim uma expectativa por parte do mercado de juros abaixo dos dois dígitos em virtude de alguns dados econômicos brasileiros, como core do IPCA arrefecendo, PIB próximo de 3%, taxa de desemprego no menor patamar dos últimos 10 anos, em 8%, sem contar no superávit da balança comercial, ponto que já venho discutindo há meses.

Entretanto, para que isso de fato aconteça, precisaríamos de uma maior clareza sobre o patamar dos juros americanos, bem como das ancoragens das expectativas de inflação aqui no Brasil que depende em grande parte do ambiente fiscal.

Com relação ao impacto nas classes de ativos, poderíamos dizer que em um primeiro momento o efeito é marginal, isso porque a renda fixa tenderá a ter bons retornos, enquanto as companhias listadas em bolsa ganham mais atratividade com o passar do tempo com a reprecificação do valor justo de cada uma.

10. Quais setores ou ativos específicos podem ser mais impactados pelos movimentos das taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos, e como os investidores podem se posicionar diante dessas mudanças?

De um modo geral, todos os setores são impactados em maior ou menor grau. Especificamente do lado negativo, empresas que possuem uma dependência dos juros no financiamento de atividades, como empresas de menor capitalização (small caps), assim como também setores que dependem do crédito para conseguir efetivar a venda de seus produtos e serviços tendem a sofrer mais, como varejo, construção civil.

Por outro lado, no viés positivo, setores que têm suas receitas corrigidas pela inflação / juros são beneficiados. Podemos destacar o ambiente bancário e o subsetor de resseguros.

Isso também vale para a economia americana, com destaque negativo para as empresas techs e positivos para ativos voltados, neste momento de atividade forte, a economia doméstica.

11. Qual o conselho para investidor brasileiro? 

Manter a diversificação de portfólio, seguindo os pesos de cada ativo. É natural que em momentos de aversão a risco, onde a bolsa tende a ter retornos negativos, os investidores fiquem temerosos quanto à alocação em renda variável. Entretanto, respeitando a estratégia de diversificação e rebalanceando o portfólio, em momentos como esse se abre uma janela de oportunidade para capturar bons retornos ao longo do tempo. Isso vale para a renda variável, bem como para outras classes de ativos.

Os vieses comportamentais existem e é importante se blindar deles. Do contrário teremos investidores comprando na alta e vendendo na baixa.

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