InsureMO reúne mercado para debater IA e o futuro digital do seguro: “Não é uma moda, é o caminho”

Evento reuniu mais de uma centena de operadores do setor para debater inovação e futuro do mercado de seguros / Foto: Universo do Seguro
Evento reuniu mais de uma centena de operadores do setor para debater inovação e futuro do mercado de seguros / Foto: Universo do Seguro

Evento em São Paulo reúne executivos de seguradoras e gigantes da tecnologia para discutir a aplicação prática da IA, a modernização de sistemas legados e o futuro do mercado de seguros

Em um cenário de disrupção acelerada, a busca por agilidade, inteligência e conectividade tornou-se uma questão de sobrevivência para o mercado de seguros. Sob esta premissa, o InsureMO, plataforma global de middle office que habilita a modernização de operações seguradoras, promoveu nesta quarta-feira, 17 de setembro, o evento “Create & Connect: Tendências Globais para Inovação em Seguros”. O encontro, realizado em São Paulo, reuniu um ecossistema de executivos de seguradoras, lideranças de tecnologia, parceiros de negócios e clientes para um mergulho profundo nas transformações que estão redefinindo o setor.

O tema central, que permeou praticamente todos os painéis e apresentações, foi o avanço da Inteligência Artificial (IA) e seu impacto iminente. Longe de ser um conceito abstrato, a IA foi apresentada como uma ferramenta pragmática para otimizar desde a subscrição de riscos e regulação de sinistros até a criação de experiências hiperpersonalizadas para o cliente final.

Na abertura do encontro, Rafael Rodrigues, General Manager Latam do InsureMO, deu o tom do que seria o dia: um debate sobre o futuro, mas com os pés fincados na realidade presente. Ele destacou as novidades da plataforma e anunciou parcerias estratégicas com as empresas Nimbloo, focada em soluções antifraude, e Tilid, referência em transformação digital.

Em entrevista ao Universo do Seguro, Rodrigues aprofundou a visão da companhia. “Esse ano, trouxemos um pouquinho da tendência do mercado de seguros global, e não poderíamos deixar de falar de Inteligência Artificial. É o que a gente entende que está sendo adotado pelo mercado como um todo”, afirmou. Ele ressaltou que o debate foi além da tecnologia pela tecnologia, focando na “aplicabilidade e no valor que está trazendo para as companhias”, com melhoria de processos, aumento de produtividade e redução de custos.

Rafael Rodrigues, General Manager Latam do InsureMO / Foto: Universo do Seguro
Rafael Rodrigues, General Manager Latam do InsureMO / Foto: Universo do Seguro

Questionado sobre o temor de que a IA possa substituir postos de trabalho, o executivo foi enfático. “Pessoalmente, não acredito que isso deva impactar num curtíssimo prazo. Acredito que as pessoas têm que entender como usar a IA a seu favor para aumentar a produtividade e trazer mais negócios. Trabalhamos forte com nosso time e parceiros nesse sentido: como a gente aumenta nossa receita usando a Inteligência Artificial”, declarou Rodrigues, reforçando o posicionamento do InsureMO como um hub tecnológico. “O InsureMO é uma plataforma como serviço que habilita e facilita a adoção de tecnologias. Nossa ideia não é ser uma plataforma de lock-in, mas que se integre com os melhores players do mercado para prover o melhor serviço aos nossos clientes”.

Desafio da transformação na prática: Case do Grupo HDI

Um dos momentos mais aguardados do dia foi a apresentação de Vanesa Bustamante, Chief Information Officer (CIO) do Grupo HDI. Com a franqueza de quem vive a complexidade no dia a dia, ela expôs o monumental desafio de integrar os sistemas e as culturas de múltiplas companhias adquiridas pelo grupo, que viu sua equipe de tecnologia saltar de 350 para 800 pessoas em poucos meses.

“De fato, é uma complexidade muito grande de sistemas, de legados”, admitiu. Vanesa enfatizou que o maior desafio não é apenas tecnológico, mas humano. “Eu acho que é muito importante a gente respeitar a história e tudo aquilo que cada companhia fez. Já comprei e já fui comprada, então é preciso respeitar o luto, se é que posso usar esse nome”, disse, em um dos trechos mais impactantes de sua fala.

Vanesa Bustamante, Chief Information Officer (CIO) do Grupo HDI / Foto: Universo do Seguro
Vanesa Bustamante, Chief Information Officer (CIO) do Grupo HDI / Foto: Universo do Seguro

A CIO detalhou a decisão estratégica de abandonar a multiplicidade de sistemas legados em favor de uma plataforma unificada, na qual o InsureMO desempenha um papel central. “Nossa opção foi decomissionar os nossos dois cores e ir para um dos cores da companhia que a gente trata o InsureMO não só como uma camada de middle office, mas também como um core. Não faria sentido fazer toda uma movimentação de um core monolítico para outro core monolítico”, explicou.

A vantagem, segundo ela, é clara: “O objetivo principal é não apenas simplificar e trazer uma experiência única para o usuário, mas também fazer uso das mais de 3.000 APIs que o InsureMO já traz. Isso para a gente acaba sendo um acelerador”.

Sobre Inteligência Artificial, o Grupo HDI adota uma abordagem dupla: aculturamento e aplicação com foco em resultados. A companhia distribuiu o Copilot da Microsoft para seus 5 mil funcionários “para que possam experimentar o uso da IA de forma segura”. Em paralelo, uma governança robusta foi criada para selecionar os casos de uso que receberão investimento. “No momento em que a gente está simplificando e modernizando, o foco é fundamental. A gente hoje está muito pesado, tem muito sistema, mas, ao mesmo tempo, não quer deixar a IA de lado”, concluiu Vanesa Bustamante.

Futuro 100% digital

Ao longo do dia, especialistas aprofundaram os debates. No painel “Inteligência Artificial e o Futuro da Operação em Seguros”, mediado por Weliton Costa, Diretor de Novos Negócios do InsureMO, Ricardo Stamato, Diretor de Tecnologia da Confitec, apresentou casos de uso concretos. “Na vistoria de sinistros, por exemplo, capturamos o áudio do prestador em campo, ele fala o que está vendo, e a gente transforma aquele áudio em dados, o que agiliza muito o processo”, exemplificou. Outro case de destaque foi a automação da Declaração Pessoal de Saúde (DPS) no seguro de vida, onde a IA interpreta as respostas e solicita laudos médicos de forma imediata, “ganhando semanas de processo”.

Painel "Inteligência Artificial e o Futuro da Operação em Seguros" / Foto: Universo do Seguro
Painel “Inteligência Artificial e o Futuro da Operação em Seguros” / Foto: Universo do Seguro

Rafael Pianucci, Sócio Diretor da Única, falou sobre a humanização de chatbots. “O nosso estado da arte seria o segurado conseguir fazer a ação inteira que precisava e no final não ter percebido que falou com a IA”, projetou.

Complementando, Aldo Pires, CEO da .add, trouxe uma perspectiva fundamental: antes de aplicar a IA, é preciso arrumar a casa. Ele argumentou que as obrigações regulatórias, como o Sistema de Registro de Operações (SRO) e o Open Insurance, devem ser vistas não como um fardo, mas como uma oportunidade estratégica para a higienização e estruturação de dados. “Incentivamos nossos clientes a analisar a fundo seus dados. Com isso, vemos uma grande oportunidade para que as áreas de TI estabeleçam uma base de dados que gere resultados competitivos”, ponderou Pires. Para ele, é essa fundação de informações confiáveis que destrava o verdadeiro potencial da Inteligência Artificial, permitindo conhecer melhor os clientes e os riscos.

Painel com especialistas durante evento do InsureMO, em São Paulo / Foto: Universo do Seguro
Painel com especialistas durante evento do InsureMO, em São Paulo / Foto: Universo do Seguro

Aldo Pires também defendeu a importância de uma cultura de inovação: “Poucas seguradoras possuem soluções de IA em operação. Para alcançar esse nível, é crucial que as empresas desenvolvam uma cultura de experimentação. É normal que nem todos os projetos gerem resultados imediatos, mas quando um é bem-sucedido, o lucro obtido pode compensar os investimentos anteriores”, ressaltou.

NTT Data: do risco à inteligência no Seguro 4.0

Katia Galvane, Head of Health and Insurance da NTT Data Brazil, abordou o “Seguro 4.0”, enfatizando que a modernização do core não é mais uma escolha, mas uma necessidade para a sobrevivência. “Temos que tocar [no core], porque se não o fizermos, estamos perdendo competitividade”, sentenciou.

Katia Galvane, Head of Health and Insurance da NTT Data Brazil / Foto: Universo do Seguro
Katia Galvane, Head of Health and Insurance da NTT Data Brazil / Foto: Universo do Seguro

Katia compartilhou dados de mercado que mostram que a modernização é impulsionada pela busca de eficiência operacional e, principalmente, pela necessidade de responder a um cliente mais exigente. “Se o cliente não está satisfeito, ele muda. A garantia da fidelidade não vem de outra forma senão por um bom atendimento”, diagnosticou. Ela mencionou a estratégia de criar “ecossistemas líquidos”, combinando a evolução interna com parcerias estratégicas. “A estratégia envolve aproveitar componentes especializados fornecidos por parceiros tecnológicos. Posso focar meu trabalho na estruturação dos meus dados e adquirir módulos de parceiros. Isso, para mim, é um avanço promissor”, defendeu.

Zurich Seguros demonstra o poder da IA

Trazendo outro exemplo robusto de aplicação tecnológica, Ricardo Vianna, Diretor de Parcerias da Zurich Seguros, demonstrou como a seguradora está reinventando a distribuição e, principalmente, a gestão de sinistros com o uso intensivo de IA. O grande destaque foi a “Laís”, a agente virtual da companhia.

“O sinistro é o momento da verdade da seguradora, é quando o cliente vai usar o produto e precisa que a seguradora esteja ali e pague”, iniciou Vianna. Ele explicou como a Laís se tornou um case global de sucesso. “Esse modelo de parcerias e massificados nasceu aqui, e hoje a Zurich no Brasil é uma referência para o grupo na Suíça. A Laís, nossa AI com Z, virou case para as outras Zurichs no mundo”, orgulhou-se.

Ricardo Vianna, Diretor de Parcerias da Zurich Seguros / Foto: Universo do Seguro
Ricardo Vianna, Diretor de Parcerias da Zurich Seguros / Foto: Universo do Seguro

Os resultados apresentados são impressionantes: 100% dos sinistros de massificados são analisados pela Laís, que aprova 68% dos casos sem qualquer interação humana. “6 minutos é o tempo que ela leva para dar um retorno ao cliente. E 15% dos sinistros de roubo e furto de celular são solucionados no mesmo dia”, detalhou.

Vianna também ressaltou a importância das parcerias para criar jornadas fluidas. Com a Vivo, a Zurich construiu uma experiência inédita de contratação de seguro celular. “Pela primeira vez, a gente construiu uma jornada onde o cliente não precisou digitar o IMEI [código de série do aparelho]. Como ele está na rede da operadora, a Telco sabe qual é o IMEI. Nós tiramos essa fricção, e isso cresceu muito a contratação”, revelou.

Softtek e a habilitação da tecnologia na prática

Com o tema “Gerando Experiência de Valor para os Clientes através da Tecnologia”, Adriano Candido, Vice-Presidente de Negócios da Softtek, mostrou como a empresa atua na “habilitação da tecnologia” para tornar a modernização uma realidade. Ele apresentou o “FRIDA”, um framework proprietário para Automação Digital Inteligente.

Adriano Candido, Vice-Presidente de Negócios da Softtek / Foto: Universo do Seguro
Adriano Candido, Vice-Presidente de Negócios da Softtek / Foto: Universo do Seguro

“Lidar com o legado é muito complexo. Hoje temos desenvolvido soluções para ajudar a interpretar, entender e fazer um diagnóstico dos legados usando IA”, revelou Candido. Ele demonstrou na prática como uma arquitetura best-of-breed funciona: um front-end moderno, como uma calculadora de seguros interativa, se conecta a diversos sistemas legados e pacotes de mercado através de uma camada de middle office. “Isso é um exemplo de implementação onde o middle layer habilita uma visão de front mais digital, mas ainda assim orquestrando todos os legados e tecnologias que estão por trás no back-office da empresa”, concluiu.

Papel do corretor no futuro 100% digital

Um dos debates mais estratégicos do dia ocorreu no painel “Construindo um Futuro 100% Digital em Seguros”, mediado por Gustavo Figueiredo, Diretor de Tecnologia do InsureMO. A provocação central foi: como digitalizar o setor se 80% das apólices são vendidas por corretores?

Longe de pregar o fim da intermediação, os especialistas defenderam a capacitação do corretor com ferramentas digitais. Umberto Reis, Sócio da Noorden, destacou o potencial inexplorado. “Quando você pensa num país onde a penetração de seguro ainda é extremamente superficial, o corretor tem um papel fundamental de usar o mecanismo digital para exercer uma função educacional. Ele pode usar essa nova realidade para criar micro segmentação de mercado e empurrar as seguradoras na construção de produtos mais especializados”, analisou.

Painel "Construindo um Futuro 100% Digital em Seguros" / Foto: Universo do Seguro
Painel “Construindo um Futuro 100% Digital em Seguros” / Foto: Universo do Seguro

Arthur Utiyama, Diretor de Consultoria do ITG, reforçou a necessidade de colaboração. “A grande seguradora consegue investir em solução, pensar e trazer o corretor para a mesa. É preciso desenhar os produtos e os canais de distribuição junto com ele”, disse.

A discussão técnica avançou para a arquitetura de sistemas necessária para suportar essa transformação. O consenso foi a adoção do conceito de “Composable Architecture”. “É a ideia de você ter uma arquitetura modularizada, como se fosse um Lego. Ao invés de um grande monolítico, você resolve os problemas em iniciativas menores que se conectam, garantindo o desacoplamento do core antigo”, explicou um dos palestrantes.

Humberto Reis, no entanto, adicionou uma provocação sobre o ritmo da mudança. “A gente vive ciclos tecnológicos muito curtos. A cada seis meses tem uma tecnologia nova. O Composable dá uma resposta, mas você precisa de velocidade”, alertou. Para ele, a solução está na própria tecnologia: “Por que não usar massivamente IA para fazer parte da transformação? A compreensão de um código legado de centenas de milhares de linhas agora pode acontecer em muito pouco tempo. Isso permite fazer o ‘composable’ funcionar em uma velocidade muito mais rápida”.

A era do “risco líquido” e a visão dos gigantes da tecnologia

Em uma das apresentações mais conceituais do dia, Fabio Sarrico, Senior Insurance Analyst da Celent, propôs uma reflexão sobre a natureza do risco na contemporaneidade, cunhando o termo “Risco Líquido” – sistêmico, volátil e fluido. “Como podemos pensar no mundo de seguros quando o passado já não é um preditor do futuro? Os sistemas legados são totalmente incompatíveis com essa realidade”, provocou.

Ronaldo França, Insurance GTM Leader Latam da AWS, demonstrou que a tecnologia em nuvem é a base para essa adaptabilidade. “A posição de tecnologia até então era de suporte. Agora, ela está no board estratégico”, sinalizou, ressaltando como a IA generativa está revolucionando a modernização. “Aquele desespero de ‘como vou transformar esse sistema legado?’ está mudando. A IA ajuda a identificar as regras de negócio e a partir daí, trazer uma recodificação moderna”.

Ronaldo França, Insurance GTM Leader Latam da AWS / Foto: Universo do Seguro
Ronaldo França, Insurance GTM Leader Latam da AWS / Foto: Universo do Seguro

Encerrando o ciclo de apresentações, o evento abriu espaço para pitches de parceiros estratégicos. Moisés Santana, CEO & Cofounder da Nimbloo, demonstrou como a análise inteligente de imagens pode ser uma poderosa ferramenta contra fraudes. Na sequência, Demilson Durante, Cofounder da Tilid Consultoria, apresentou o Zapien, produto focado em acelerar a transformação digital com IA, conectando-se diretamente aos temas centrais do dia.

Visão para o Futuro

Ao final do evento, a mensagem era coesa: a transformação digital não é mais uma opção. A complexidade do mundo atual exige que o seguro seja mais ágil, contextual e integrado.

“A IA não é uma moda, não é uma onda, acho que é o caminho que as grandes empresas no mundo todo estão seguindo. Estamos preparando para o próximo semestre toda uma oferta, colocando a inteligência artificial em nossas soluções”, revelou Weliton Costa, do InsureMO. Para ele, o sucesso do evento se deu pela troca genuína de experiências. “É diferente você unicamente falar do seu case e você trazer o seu cliente para poder dar um depoimento do que nós fazemos para ele. Isso é bem válido e importante”, finalizou.

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