Principal desafio para o mercado de cartões será continuar aprimorando a experiência de compra, para não perder o protagonismo frente a novas funcionalidades do Pix
Nos últimos anos, a digitalização da economia tem transformado profundamente a forma como as pessoas realizam transações financeiras. Uma das tecnologias mais impactantes nesse cenário é o Pix, que revolucionou a maneira como transferências de dinheiro são feitas, tornando-as instantâneas e disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. No entanto, mesmo com a crescente popularidade e agilidade do Pix, o uso dos cartões continua a prosperar. Isso se deve a uma série de fatores que tornam os cartões uma opção atrativa e conveniente para muitos consumidores.
Segundo dados mais recentes da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), os pagamentos com cartões somaram R$ 965 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o que significa um crescimento de 11,4% na comparação com o mesmo período do ano passado. De janeiro a março deste ano, foram registradas no Brasil 10,8 bilhões de transações com cartões, um crescimento recorde histórico de 11,3% frente ao mesmo período do ano anterior. Em média, são feitas 120 milhões de transações por dia.
O uso constante dos cartões é incontestável, seja na modalidade débito ou crédito. Com algumas tecnologias que tornaram a compra presencial mais rápida, o uso do cartão chega a ser mais ágil, sem falar que é a opção mais buscada por muitos negócios. Pesquisa conduzida pela SumUp, empresa global de tecnologia e soluções financeiras, revelou que 97% dos empreendedores concordam – total ou parcialmente – que oferecer diversas opções de pagamento, incluindo cartões e Pix, impulsiona as vendas de seus negócios.
Apesar disso, de acordo com os resultados da pesquisa, o cartão de crédito é o método de pagamento mais prevalente entre esses empreendimentos, com 39% dos entrevistados indicando que é a preferência de seus clientes. O Pix, por sua vez, está tecnicamente empatado, sendo mencionado por 38% dos participantes como uma forma de pagamento comum. Em contraste, o dinheiro em espécie foi citado por apenas 7% dos empreendedores como a opção de pagamento mais frequente.
Crescimento do PIX entre os negócios
O Pix emergiu como uma das ferramentas mais ágeis no cenário financeiro. Esse sistema de pagamento instantâneo, lançado pelo Banco Central em novembro de 2020, conquistou rapidamente a confiança e a adoção de uma ampla gama de negócios em todo o país, impulsionando um crescimento significativo em sua utilização.
Uma das principais razões por trás do seu crescimento exponencial é a sua conveniência e agilidade. Ao permitir transferências instantâneas, a qualquer hora do dia, o Pix elimina as restrições de horário bancário e os atrasos associados às transações tradicionais. Isso se traduz em maior eficiência operacional para as empresas, que agora podem receber pagamentos e liquidar transações de forma praticamente instantânea, reduzindo a necessidade de gerenciamento de fluxo de caixa e melhorando o capital de giro.
Para o CEO da TNS, Alexandro de Araújo, apesar do crescimento indiscutível do Pix, é fundamental pensar na experiência do cliente antes de avançar ainda mais. “O Pix é um novo meio de pagamento disruptivo e os números de crescimento comprovam isso. Logo, o mercado de crédito e débito se tornam, consequentemente, ameaçados. Todavia, ainda não observamos tanto essa ameaça se tornando real, porque até o momento não houve uma grande substituição de um meio de pagamento para o outro. Além disso, ainda é necessário aprimorar a experiência de compra tanto para o comprador (PDV) como para o vendedor, por isso a preocupação com a automação”, explica Alexandro de Araújo.
Ele detalha que, com as novas funcionalidades do Pix (como o Pix automático), que estarão disponíveis no fim de 2024, o impacto deve ser mais intenso no mercado de cartões. “Afinal, elementos que eram executados apenas por meio de cartões – como pagamentos recorrentes feitos no crédito – serão possíveis também por meio do Pix. Então, os desafios para o mercado de cartões será continuar aprimorando a experiência de compra enquanto tenta não perder o protagonismo frente a novas funcionalidades do Pix”, enfatiza o CEO da TNS.
De acordo com projeções da empresa de pagamentos Ebanx, espera-se que o Pix conquiste uma fatia de 40% do mercado brasileiro de pagamentos até 2026. Com uma movimentação financeira anual estimada em cerca de US$ 200 bilhões (equivalente a aproximadamente R$ 985,5 bilhões), o sistema de pagamentos instantâneos está previsto para alcançar uma posição de igualdade com os cartões de crédito como o meio de pagamento mais utilizado no comércio digital.
Dados da Payments and Commerce Market Intelligence (PCMI), utilizados no estudo, revelaram que, em 2023, o Pix representou 29% do total de pagamentos no e-commerce brasileiro, enquanto os pagamentos com cartão de crédito dominaram com 49%. No entanto, espera-se que nos próximos dois anos essas proporções se alterem para 40% e 42%, respectivamente.
“Ainda assim, essa substituição é um longo caminho a ser percorrido. O débito, por exemplo, com sua funcionalidade de pagamento por aproximação, seja com o cartão ou smartphone, é uma forma de pagamento muito atraente para os consumidores, pois é simples e prática. Então, ‘até que o PIX prove o contrário’, a conveniência falará mais alto. Mas é primordial para o mercado de cartões continuar buscando formas de oferecer essa conveniência para não perder sua força no meio do caminho, como disponibilizar de automação no PDV”, conclui Alexandro de Araújo.
O que torna o uso do cartão ainda frequente?
Primeiramente, os cartões de crédito oferecem uma ampla gama de benefícios e vantagens, como programas de recompensas, seguro de compra, proteção contra fraudes e a possibilidade de parcelamento de compras. Esses incentivos não apenas atraem os consumidores, como também incentivam seu uso frequente. Além disso, os cartões de crédito são amplamente aceitos em estabelecimentos físicos e online ao redor do mundo, proporcionando uma conveniência adicional aos usuários.
Outro aspecto importante é a questão da segurança. Os cartões de crédito geralmente vêm com recursos avançados de segurança, como a tecnologia de chip e PIN, autenticação biométrica e monitoramento de atividades suspeitas em tempo real. Isso confere aos usuários uma sensação de segurança ao realizar transações, algo crucial em um ambiente digital onde as preocupações com fraudes e roubo de dados são constantes.
Outro ponto importante é que os cartões de crédito oferecem aos consumidores um período de crédito rotativo, permitindo-lhes adiar o pagamento de suas compras até o vencimento da fatura. Isso proporciona uma flexibilidade financeira que pode ser especialmente útil em situações de emergência ou para gerenciar melhor o fluxo de caixa pessoal.
Mudança requer atenção ao cliente
Diante da ascensão do Pix e da sua promessa de transformação do cenário financeiro brasileiro, surge a inevitável reflexão sobre o futuro dos meios de pagamento, especialmente em relação aos tradicionais cartões de crédito. A análise dos dados revela um cenário de mudanças significativas: o Pix está em ascensão, projetado para conquistar uma fatia considerável do mercado de pagamentos até 2026.
No entanto, apesar dessa ascensão, os cartões de crédito mantém sua relevância e preferência entre os consumidores e empreendedores. Através de uma combinação de benefícios tangíveis, como programas de recompensas e proteção contra fraudes, e fatores intangíveis, como a sensação de segurança e flexibilidade financeira, os cartões continuam a ser uma escolha frequente para muitos.
Portanto, embora o PIX e outras formas de pagamento digital tenham revolucionado a economia, os cartões de crédito continuam a desempenhar um papel significativo devido à sua conveniência, segurança e benefícios adicionais. Esses instrumentos financeiros adaptaram-se à era digital, mantendo-se relevantes e preferenciais para muitos consumidores em todo o mundo.