Cresce o uso do consórcio para alavancagem patrimonial de empresas

Especialista do Consórcio Magalu ensina como declarar carta de crédito no imposto de renda / Foto: Towfiqu Barbhuiya / Unsplash Images
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Em 2023, o segmento foi responsável pela liberação de R$ 316 bilhões em créditos

O sistema de consórcios é um setor que vem batendo recordes de crescimento. Só no ano passado, foram liberados R$ 316 bilhões por meio deste mercado, segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), com 10.2 milhões de participantes ativos. Por muito tempo, o sistema ficou conhecido principalmente pela aquisição de automóveis, motocicletas e por atender a outras demandas de crédito da classe C. No entanto, pessoas jurídicas estão utilizando o sistema de consórcios de diversas maneiras, incluindo alavancagem patrimonial. De acordo com a Embracon, uma das maiores administradoras de consórcios do Brasil, esse crescimento pode ser atribuído ao fato de que as pessoas jurídicas perceberam que essa modalidade financeira permite que a empresa se capitalize sem se descapitalizar e expanda seus ativos e investimentos de forma sustentável.

A alavancagem patrimonial é uma estratégia financeira que envolve o uso de recursos entre pessoas físicas e jurídicas para ampliar rendas passiva e ativa. O processo pode ocorrer legalmente, desde que sejam seguidas as regras da Lei do Consórcio e regimento interno da administradora. Funciona da seguinte forma: a pessoa física (cedente) possui um bem em seu nome pessoal. Ela aliena o bem à administradora de consórcios e a pessoa jurídica (consorciado) realiza a contratação do serviço. O crédito, quando contemplado, é transferido para a pessoa física e o bem para a jurídica (ou vice-versa). Dessa forma, o empresário consegue aumentar seu patrimônio sem a necessidade de desembolsar o valor total do bem de uma só vez.

Segundo Luís Toscano, vice-presidente de Vendas e Marketing da Embracon, ao contrário do financiamento, em que os juros são cobrados por ano, as taxas do consórcio são definidas pelo período de parcelamento. Ou seja, se um cliente adquiriu um bem em um consórcio e acordou em pagar o valor com juros de 20%, em duas décadas ele pagará o equivalente a 1% ao ano. “Não existe concorrência entre uma modalidade e outra porque elas são feitas para cenários diferentes. O consórcio utiliza juros simples e o financiamento, juros compostos. A taxa mais alta do consórcio ainda é menor que a taxa mais baixa do financiamento. O comportamento do empresário evoluiu muito e, hoje, ele sabe que o planejamento financeiro deve fazer parte da sua gestão de patrimônios. O consórcio é o melhor meio para a aquisição de bens e serviços e destaca-se pelas vantagens econômicas”, avalia o executivo.

Para o perfil de investidor, Toscano explica que ele pode adquirir imóveis, alugá-los e reaplicar os recebíveis em novas cotas. “Ao ser contemplado, ele pode ajustar o valor pretendido de acordo com o bem que encontrou, sem precisar renegociar contratos”, esclarece ele. Mais ainda: “Caso encontre uma oportunidade de aquisição e tenha fundos para finalizá-la, pode comprar primeiro e pedir reembolso depois de ver sua cota ser selecionada nos sorteios”.

Empresas de grande porte utilizam essa alternativa para adquirir terrenos e construir novas instalações, de fábricas a estacionamentos para veículos e máquinas – que, aliás, também podem ser adquiridos por consórcio, sendo uma forma de planejar a renovação da frota com antecedência e condições favoráveis de pagamento. É comum que supermercados utilizem essa estratégia quando decidem expandir a rede.

Bruno Ramos, 41 anos, corretor, casado e com um filho, morador em Lauro de Freitas, na Bahia, consorciado há dez anos, vem separando parte de sua receita para investimento, sem nunca ultrapassar os 20% de sua renda, e está usando a carta de crédito do consórcio de imóvel para construir seu novo escritório. “A obra está em 80% da fase de construção, o consórcio vai liberando crédito conforme o cronograma das obras. Com isso, economizei muito e me livrei dos juros bancários, que são bem mais altos do que a taxa administrativa”, explica. “Nesta década, passei a aderir a cotas de consórcio de imóveis e veículos visando, principalmente, a formar patrimônios pessoal e empresarial”, esclarece Ramos.

Outra possibilidade, especialmente para pequenas e médias empresas, é utilizar os consórcios de serviços, que a Embracon passou a disponibilizar em 2018, para contratar fornecedores temporários. “O empreendedor pode pagar um contrato para reforçar mídias digitais ou contratar uma consultoria para rever processos internos utilizando essa alternativa”, diz o vice-presidente de Vendas e Marketing. “Ele paga parcelas amigáveis, o que evita que se descapitalize. Quando ele é sorteado, pagamos diretamente ao fornecedor”, afirma Luís Toscano. Também é possível quitar financiamentos.

Guilherme Bento, 23 anos, é um pequeno empresário de Osasco (SP) e possui uma agência de marketing digital, a Prime Lead. Ele conta que possui uma cota de automóvel e uma de imóvel. “No ano passado tive uma terceira cota de automóvel, fui contemplado e vendi para ter a renda. Sempre que possível, gosto de buscar o consórcio porque é um excelente investimento”, afirma o empresário. Uma das formas que Bento encontrou para gerir melhor suas finanças pessoais e profissionais e ter mais controle financeiro com o consórcio foi usá-lo para quitar um financiamento imobiliário. “A cota de imóvel pretendo usar para quitar o financiamento do meu apartamento e poder usufruir do bem sem os juros da modalidade.”

Outra tendência crescente é a utilização de créditos para a compra de veículos pesados (caminhões, tratores e implementos rodoviários e agrícolas). De acordo com a Assessoria Econômica da Abac, ao longo do ano passado foram liberados R$ 12,6 bilhões em créditos para a compra de veículos no segmento. Com esse resultado, a alta chegou a 37,1% ante o disponibilizado em 2022, que somou R$ 9,2 bilhões.

Além de todas essas oportunidades, os empresários ainda podem:

Acessar capital de giro:

Empresas que enfrentam necessidades sazonais de caixa ou que buscam financiamento para operações diárias podem optar por participar de consórcios como uma maneira de acessar fundos adicionais sem recorrer a empréstimos bancários tradicionais.

Formar reservas de emergência:

Participar de um consórcio geralmente ajuda as empresas a formarem reservas de emergência para lidar com imprevistos financeiros, como crises econômicas, flutuações nos mercados ou eventos inesperados que possam impactar suas operações.

Diversificar investimentos:

Outra vantagem do consórcio empresarial é a oportunidade de diversificar os investimentos da empresa. Em vez de concentrar todos os recursos em um único ativo, as empresas podem participar de vários consórcios simultaneamente, adquirindo diferentes tipos de bens. Isso reduz o risco financeiro e aumenta a resiliência do negócio, especialmente em momentos de incerteza econômica.

Com queda da Selic e financiamento mais atrativo, o consórcio sofrerá riscos?

Para Luís Toscano, ao contrário do que se pode pensar, a taxa Selic não influencia diretamente o sistema. “De fato, as altas taxas de juros e novos hábitos de consumo impulsionaram o mercado de consórcios em 2023, mas não é correto afirmar que o consórcio sofrerá retração em um cenário com juros mais baixos. O consórcio tem uma característica muito interessante: ele se adapta ao ambiente. Quando falamos em mercado aquecido, com o consumo lá em cima, o setor acompanha. Por outro lado, quando enfrentamos um cenário de retração, de questões políticas e econômicas complexas, a população tende a poupar. Nesses momentos, quem busca o consórcio não busca uma ferramenta de compra e aquisição, mas um porto seguro”, explica.

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